Ao longo da vida, as pessoas passam por momentos marcantes que mudam tudo. Em 2020, a banda mineira de pop, rock e reggae Lagum — principalmente conhecida pela música Deixa — perdeu o baterista, Tio Wilson, morto em razão de uma parada cardiorrespiratória. Três anos depois, o grupo lançou o álbum Depois do fim, falando sobre perdas, com uma proposta mais densa, intimista e diferente do que os fãs estavam acostumados. Um sucesso, a turnê desse projeto foi gravada e integra a produção audiovisual Lagum Ao vivo, lançada em 14 de dezembro de 2023.
O lançamento traz o melhor do grupo Lagum. São 23 canções dos quatro álbuns anteriores, carregadas da energia eletrizante da performance ao vivo — completamente diferente do que é captado no estúdio. A banda aproveitou o momento para anunciar a turnê de 2024, intitulada Lagum Ao Vivo e, por enquanto, Brasília não está na agenda. A formação atual da banda tem Pedro Calais (voz), Zani Furtado (guitarra), Jorge Borges (guitarra) e Francisco Jardim (baixo).
Por que vocês decidiram gravar a turnê Depois do Fim e lançar um audiovisual?
Pedro: Em Depois do fim, a gente vinha num processo de mudanças, uma internalização de quem éramos, que resultou num álbum mais intimista e mais denso. Quando a gente vai para a estrada para fazer a turnê desse disco, se depara com picos de vendas de ingresso que nunca tínhamos visto, fãs cantando, tudo em uma intensidade muito grande. A gente resolveu que era um momento de registrar, porque está um show muito bom, acho que é o nosso melhor momento em palco."
Qual a diferença do Lagum no show, ao vivo, para o Lagum de estúdio?
Pedro: "A gente percebeu que, cada vez mais, o nosso show vai ficando mais pesado, mais enérgico. E, esse álbum Depois do Fim, por ter sido um dos mais intimistas e densos, traz todo um euforia do show. Então, a gente quis mostrar esse lado mais energético, mais para cima. É uma turnê do Depois do Fim, mas a gente toca os maiores sucessos, com muito espaço para improvisação, para tocar as coisas que a gente gosta de tocar."
Qual o diferencial da nova turnê, intitulada Lagum Ao Vivo?
Pedro: "A gente começou, durante a turnê de Depois do Fim, a fazer cada vez mais improvisos no palco, tocar músicas do primeiro álbum, coisas que a gente nunca tocava. E eu acho que isso é o reflexo de quando se está muito à vontade com um show. A gente evoluiu tanto nessa turnê que vimos muitas brechas e novidades que podemos agregar. Então, para Lagum Ao Vivo, a gente vai dar um "tapinha" no set list, improvisar cada vez mais e deixar o show mais enérgico. A intenção da nossa nova turnê é fazer a galera pular mesmo."
Como vocês veem o álbum Depois do Fim, agora, após 8 meses de lançamento?
Pedro: "Eu vi um podcast recentemente com o Zani e o cara estava falando que você entende que amadurece quando perde coisas que você gosta. E esse álbum é sobre um tanto de perdas, em vários aspectos. Eu acho que a gente evolui muito em cima dessas perdas. Elas são coisas que realmente botam a gente para frente e Depois do Fim trata dessas perdas, te põe em reflexão de para onde eu estava indo e para onde eu vou agora que tudo mudou e eu preciso reiniciar o meu caminho. Muitas vezes, a gente achou que o álbum era sobre reinício, mas eu acho que, cada vez mais fica claro, que ele é um álbum de fim mesmo, parece que o nosso reinício vem agora que a gente está com a cabeça mais clara em relação aos próximos passos."
Em outras entrevistas, vocês comentaram que, além de ter sido um álbum de cura, Depois do Fim é também o projeto mais especial da banda. Podem contar mais sobre isso?
Pedro: "Naquele momento em que a gente estava lançando Depois do Fim, a gente estava se sentindo como se estivesse fazendo uma coisa completamente nova ali. Era o primeiro álbum sem um baterista e a gente se entendendo como grupo depois de tantos anos de um mesmo formato. Acho que esse álbum é resposta para muitas questões, principalmente para mim, de perguntas que eu tenho na minha vida e, às vezes, tem uma coisa de premonição, de fazer uma música e três meses depois, estar passando por aquilo. Acho que o álbum tem letras que estão, pela primeira vez, de uma maneira intencional, muito direcionadas às minhas dúvidas e às minhas respostas."
Como vocês percebem o impacto de Depois do Fim na carreira da banda?
Jorge: "O álbum é muito importante porque ele precisava acontecer no momento em que ele aconteceu e da forma com que ele aconteceu. Nossa banda e a nossa relação vinha passando por mudanças e tudo que a gente precisava naquele momento era fazer música. A gente fez esse álbum e está sendo presenteado com tudo de bom, colhendo os frutos. Ele teve indicação ao Grammy Latino, levou a gente para fora do país. Então, a gente é muito grato a todos os processos, a tudo que a gente passou até chegar nesse álbum e no lançamento dele."
Como vocês definem a fase atual da banda?
Pedro: "Os resultados que a gente está tendo, principalmente de ingresso, não têm muito a ver com uma obra específica ou outra. A nossa carreira vem em uma crescente bastante independente do que está sendo lançado. Eu acho que, em 2018, com Deixa, a gente teve uma grande exposição, mas quando a gente vai olhar para nossa carreira agora, é uma carreira bastante sólida, que permite que a gente continue crescendo, independentemente de estar na mídia ou não. E isso dá muito orgulho mesmo, porque a gente está sempre fazendo um trabalho conciso e com o pé no chão, fazendo as coisas que a gente acredita e continua dando resultados cada vez melhores."
No ano que vem, a banda completa 10 anos de carreira. O projeto Ao Vivo faz parte da comemoração ou virão outros trabalhos?
Pedro: "Completamente independente."
Francisco: "A gente está com alguns 'projetinhos' aí escondidos embaixo da manga, coisas que a gente já vem fazendo nas internas, que vão coincidir com o nosso aniversário de 10 anos. Acho que a gente pode fazer (os aniversário de 10 anos) ser celebrado o ano inteiro, não só na data específica, 6 de junho, se não me engano."
Como é olhar para trás e pensar que já se passaram 10 anos de Lagum?
Jorge: "É um misto, porque quando a gente olha de uma óptica rápida e de como que as coisas acontecem atualmente, a percepção do tempo parece uma coisa muito rápida. Parece que foi um piscar de olhos e tudo aconteceu, mas ao mesmo tempo, vêm flashes do início da carreira, da gente parado na porta do estúdio que a gente costumava ensaiar e gravar música e, de repente, estamos aqui, com tudo isso acontecendo. Então é muito louco, uma carga de informação e de histórias e de vivências muito grande. Ao mesmo tempo, se olhar de outra ótica, do tanto que a gente evoluiu, por tudo que a gente passou e, finalmente, nas formas que a gente tá chegando, tanto de relação como de empresa, parece um tempo justo de como as coisas precisavam acontecer."
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco