Música

Madu, a jovem pernambucana que canta e encanta em Portugal

Cantora acaba de lançar seu primeiro EP nas plataformas digitais, depois de conquistar um público crescente em shows com composições próprias que retratam, em boa parte, a dura vida dos imigrantes

Lisboa — Desde os seis anos de idade, a pernambucana Maria Eduarda, a Madu, sempre expressou a certeza de que, tão logo fosse dona da própria vida, sairia em viagem pelo mundo. A avó, dona Márcia, ouvia aquilo com uma certa curiosidade, mas dava sempre o desconto de a neta ser tão pequena, tão frágil. O tempo passou e, aos 19 anos, Madu teve a certeza de que havia chegado a hora de bater asas. A menina passarinho queria voar alto. Fez as malas e, mesmo com pouco dinheiro no bolso, cruzou o Atlântico em direção a Portugal. Era outubro de 2019, cinco meses antes do estouro da pandemia do novo coronavírus.

Quatro anos se passaram e a menina sonhadora, com uma percepção incrível para a música, é hoje uma das mais promissoras cantoras da nova geração que emerge no país europeu. Ela é autora de mais de 40 composições que retratam, em grande parte, as alegrias, as tristezas, os momentos de raiva e de apreensão de alguém que, tão jovem, se aventurou para o desconhecido, pois precisava se encontrar com toda a sua potencialidade. E foi justamente a pandemia que escancarou toda vulnerabilidade dela e fez explodir a artista que tem levado cada vez mais fãs para os seus shows.

Aos 23 anos, Madu tem a certeza de que, finalmente, encontrou a sua verdade, que, expressada por meio de suas canções e de seu canto, atrai um público diversificado, que se identifica com as dores e as descobertas de uma imigrante. “É a minha história que eu levo para os palcos”, diz. Nem sempre foi assim. Antes de se mudar de Recife, onde nasceu, para Lisboa, a jovem tinha vergonha de suas letras. Tanto que não conseguia cantar as próprias músicas. A sensação era de que nada se encaixava em sua voz. O jeito foi se lançar como cantora, mas entoando composições norte-americanas, com o inglês que havia aprendido ouvindo discos e rádios. “Era muito mais confortável para mim”, conta.

O motivo do trauma era o medo de ser julgada, por ela e pelas demais pessoas. “Como nasci numa cidade muito musical, com ritmos tão variados, com o frevo, o coco, o maracatu e a ciranda, não me sentia capaz de criar algo que realmente chamasse a atenção. Tudo era tão bom, estão tão pronto, que não havia espaço para o novo”, relata. “Só quando me mudei para Portugal e enfrentei uma pandemia, vi que não havia razão para o sentimento de culpa. Estava muito vulnerável, sozinha, não conhecia ninguém, nem tinha dinheiro. Mas a solidão também ensina, e a autoconfiança despertou em mim, uma jovem que estava tentando uma nova vida”, lembra.

Sonho de cantar no Brasil

Madu, com toda a potência vocal, acaba de lançar o primeiro EP, com três músicas e um poema, todos de sua autoria. “É um momento muito especial na minha carreira”, afirma. “Mas não foi fácil escolher as canções, pois, no show, eu conto toda uma história, há um enredo ligando as músicas. Nesse sistema do EP, tudo é contado aos pedaços, mas creio que será muito interessante para o público ir descobrindo tudo aos poucos”, diz. A música que puxa o lançamento é Contratempo, cujo videoclipe está em todas as plataformas. Esse vídeo, ressalte-se, foi realizado por meio de crowdfunding, uma vaquinha virtual.

A cantora está com a agenda cheia, mas sonha em se apresentar em Recife, para a família dela, os amigos e os conterrâneos pernambucanos. Madu já fechou contrato com a Alta Fonte Brasil, que está gerindo a carreira dela no Brasil. A meta é que a estreia “em casa” seja no fim de 2024. O EP deve ajudar muito nesse processo. “Quero cantar para as pessoas que amo, para as pessoas do local onde nasci. Aí, sim, vou sentir que meu trabalho está sendo bem feito”, frisa. “Por enquanto, esse reencontro se dá por meio das plataformas digitais.”

Enquanto o show no Brasil não se confirma — ela nunca voltou ao país desde que cruzou o Atlântico —, Madu mata a saudades da família, em especial, da avó, por meio das letras de suas canções. Uma delas, “Quase sabiá”, foi escrita depois de uma conversa por mensagens com dona Márcia. A avó lhe contou que estava tomando café da manhã, quando viu um passarinho lindo pousar na janela dela. Ela tinha a certeza de que era a neta que havia voado de tão longe para lhe visitar. A música é uma da mais emocionantes do show da cantora.

A ligação de Madu com o mundo musical veio de muito cedo. A avó fazia questão de levá-la para vários tipos de apresentações. “Incorporava tudo por osmose”, diz. Quando fez 6 anos, os pais a inscreveram no Conservatório Pernambucano de Música. Ficou ali até os 12 anos, mas sempre relutante, porque não se adaptava ao modelo pré-estabelecido da academia. “Sempre fui autodidata. Nunca gostei de ficar sentada em uma cadeira, sem poder usar a minha percepção corporal, que se complementa com minha voz. É inerente”, ressalta.

Em Portugal, depois que perdeu a vergonha de ser a artista que é, Madu começou a aprender a tocar instrumentos musicais. Hoje, já domina o triângulo, ou caxixi, e está investindo muito em percussão. “É importante para mim como artista, como cantora e compositora”, diz. O público, garante ela, pode esperar novidades que resultam do momento efervescente que vive tanto pessoal quanto profissionalmente. “Comecei nos palcos há um ano, encontrei um novo espaço nas plataformas digitais e muito há por fazer e conquistar” enfatiza.

 

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