Cinema

Cotidiano da periferia é tema de filme no Festival de Brasília

O diretor e produtor mineiro André Novais Oliveira retorna pela terceira vez ao festival de Brasília com o longa O dia que te conheci

O quinto dia do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é marcado pela presença do novo longa-metragem de André Novais Oliveira, O dia que te conheci, que será  exibido na noite desta quarta-feira (13/12) na Mostra Competitiva. A sessão será antecedida pela apresentação dos curtas Dona Beatriz Ñsîmba Vita e Queima minha pele.

O dia que te conheci apresenta a rotina do bibliotecário Zeca, interpretado pelo irmão de André, Renato Novais, que leva 1h30 até a escola onde trabalha, na cidade vizinha. Com novas adversidades e perspectivas baixas, o ritual de todo dia se torna exaustivo, até Luisa cruzar o caminho de Zeca. Em entrevista ao Correio, André Novais Oliveira explica como a temática do cotidiano é algo que gosta de retratar. "É uma das coisas que eu mais gosto de abordar. Vem de uma coisa consciente e inconsciente, de tentar retratar algo que nem sei explicar. Me chama a atenção como algo a ser mostrado, a rotina de pessoas da periferia, principalmente. E é algo que quero trabalhar praticamente em todos os filmes que venha a fazer. Não em um sentido de denúncia, mas de retratar mesmo e por achar bonito."

O longa com o qual o cineasta concorre na Mostra Competitiva Nacional utiliza desse cotidiano para falar de amor. "Um ambiente amoroso é muito presente dentro dos filmes que dirijo. Eu falo dessa questão de saúde mental e abordo o amor das pessoas, como surge. São os temas principais do filme. Além de falar das cidades mineiras", destaca o diretor. André enumera obras que o influenciaram. "O filme Um homem apaixonado (2012), de Abbas Kiarostami. Esse foi bem um norte para o roteiro de O dia que te conheci. Principalmente na questão da linguagem e da narrativa."

De Contagem ao mundo

André Novais Oliveira se revelou como um dos cineastas mineiros que renovaram o cinema nacional. Graduado em História pela PUC-Minas, André atua na pesquisa da história do cinema brasileiro desde 2006. A trajetória como diretor começou com curtas-metragens, entre eles o primeiro destaque Fantasmas (2010), que ganhou diversos prêmios em festivais no Brasil. A história com o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro se iniciou no 47° ano com o longa Ela volta na quinta (2014) e, desde então, todos os seus projetos foram selecionados pelo festival. O cineasta, ao lado dos diretores Gabriel Martins, Maurílio Martins e do produtor Thiago Macêdo Correia, fundou em 2009 a produtora mineira Filmes de Plástico, responsável por boa parte da filmografia de André.

O cineasta relembra momentos da carreira e como o Festival de Brasília fez parte de uma etapa fundamental para o reconhecimento no cinema nacional e internacional. "É uma alegria enorme passar mais um filme do Filmes de Plástico dentro do festival, pensar nos filmes que dirigi dentro da produtora. É o terceiro que vai passar no Festival de Brasília."

O diretor e produtor destaca como o festival ajudou a produtora Filmes de Plástico a ganhar destaque no cinema nacional. "Vários outros filmes nossos que passaram e foram muito importantes para nossa carreira e para a produtora. O Contagem, dirigido pelo Gabriel e pelo Maurício Martins, teve estreia no Festival de Brasília e ganhou o prêmio de melhor direção. Foi muito importante para a gente, lembro que o Carlos Reichenbach estava na sessão e elogiou muito o filme. Ele foi um dos responsáveis por difundir o nome da Filmes de Plástico. O Quintal, que ganhou o melhor curta em 2015, o Temporada, que ganhou melhor longa-metragem em 2018. Enfim, é um festival extremamente importante para a gente. Até por conta de toda essa questão política que ronda o festival."

A família de atores

André se destacou entre muitos cineastas brasileiros com a utilização de não atores em suas produções, sendo as grandes estrelas a própria família dele: o pai, Norberto Novais Oliveira, irmão, Renato Novais, e a mãe, Maria José Novais Oliveira. O olhar sensível do diretor em busca de momentos cotidianos se encaixou perfeitamente com a adição de intérpretes familiarizados com a arte de André e com atuações fluidas e delicadas.

André começou a produzir ao lado da própria família: "Tem um material bruto que eu colhi em 2011 que ajudou muito a entender a capacidade dos três de atuar, assim, não é? De estar bem tranquilo diante das câmeras. O material acabou gerando um curta que se chama Rua Thaler, e esse curta foi montado em 2021. Mas desde aquela época eu já sabia que eles tinham talento para atuar. Os três se interessaram da mesma forma. Eu acho que foi uma coisa natural eles quererem atuar. Desde o princípio, quando comecei a fazer cinema, eles quiseram fazer parte. O meu irmão já falava que queria participar de alguma forma, e hoje ele está seguindo a carreira dele. O Renato já tem dezenas de filmes, participou de séries, programas de tevê e continua aí, atuando."

Na família de atores do cinema nacional, a matriarca foi uma das estrelas que cativou Brasília ao ganhar o concorrido prêmio de melhor atriz, no curta Quintal (2015), no 48° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

"A relação de diretor e filho ao mesmo tempo é muito forte. Minha mãe começou a atuar já muito idosa e tal. Ela começou um pouco nervosa, bem ansiosa para fazer o filme, mas com muita vontade de fazer parte. Aos poucos ela foi se soltando e viu que era algo que conseguia dominar e via que tinha capacidade. Era muito gostoso trabalhar com ela, não só eu, mas outras pessoas que dirigiram ela, sabiam do potencial dela. Ela era carismática na tela, ela sabia atuar mesmo", relata André.

Na sexta década de vida, a mãe dos dois artistas conquistou o próprio espaço no cinema brasileiro, mesmo que com contribuição de alguns anos, e morreu em 2018. Como forma de homenagem, Renato e André dirigem e roteirizam o documentário Nossa mãe era atriz (2023), que passa pela filmografia de Maria José. O curta conta a carreira dela e os 15 filmes dos quais participou.

Serviço

no Cine Brasília (EQS 106/107), às 21h, com ingressos a R$20, a exibição do longa O dia que te conheci será antecedida pelos curtas Dona Beatriz Ñsîmba Vita (de Catapreta), inspirado na vida de Kimpa Vita, uma personagem singular centrado em uma mulher que produz clones de si mesma, e Queima minha pele (de Leonardo Amorim), que mostra a complicada situação entre Rodrigo, Julio e Caio em uma casa de praia. A mesma programação será exibida no Complexo Cultural de Samambaia, às 20h, com entrada franca.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 

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