MELHORES DO ANO

"Sou de testar fronteiras", afirma Rosane Svartman, autora da novela Vai na fé

Eleita de forma massiva como a melhor novela do ano, "Vai na fé", da Globo, consagrou a potência criativa de Rosane Svartman. Além de escritora, ela também é cineasta e acabou de filmar, em dezembro, o longa "Câncer com ascendente em virgem"

Rosane Svartman, autora e diretora -  (crédito: João Miguel Jr/TV Globo)
Rosane Svartman, autora e diretora - (crédito: João Miguel Jr/TV Globo)
postado em 31/12/2023 11:23

A novela Vai na fé foi consagrada a melhor de 2023, em votação popular realizada pela própria emissora, na celebração que também serve como termômetro dos resultados da Globo. Destaque absoluto em uma época em que a audiência dos produtos de teledramaturgia em tevê aberta oscila, a obra veio como uma alavanca para o gênero, mostrando que é possível obter os mesmos êxitos do passado em narrativas atuais, desde que se mantenha a espinha dorsal de uma boa história, temperando as inovações em doses suaves e bem administradas.

E foi exatamente o que a autora, Rosane Svartman, prometeu e entregou à emissora e ao público. Ela queria contar uma história que falasse de positividade, coragem, recomeço e sonho, e que provocasse a similaridade com a brava gente brasileira. Em janeiro, perto da estreia, uma pesquisa foi divulgada revelando que a maior fatia dos evangélicos no Brasil era de mulheres negras da periferia. E, logo que surgiu na tela, a protagonista Sol (Sheron Menezzes) endossou a estatística, caindo com louvor nos braços do povo.

"Vai na fé foi idealizada para personagens negros, de forma prismática desde o início. Tanto a mãe de família batalhadora do subúrbio quanto o advogado bem-sucedido da Zona Sul, e isso foi algo diferente do que foi feito até então. Mas eu gosto de testar fronteiras e arriscar. O criador tem que propor novidades para o público. Acho que escrever apenas para agradar é mais difícil", afirmou, em conversa exclusiva com o Correio, a autora — que também emplacou, na TV, sucessos como Malhação (2014), Totalmente demais (2015) — uma das mais exportadas pelo Brasil e reprisada na pandemia — e Bom sucesso (2019).

Sol (Sheron menezzes) e Ben (Samuel de Assis), protagonistas de Vai na fé
Sol (Sheron Menezzes) e Ben (Samuel de Assis), protagonistas de Vai na fé (foto: Globo/Divulgação)

 

2023 foi um ano intenso

Para Rosane, 2023 foi um ano atípico e intenso. Além da novela emblemática que ficou sete meses no ar, teve seu nome à frente de outros projetos importantes. Anota aí: ela estreou também a primeira temporada da série original da Globoplay Vicky e a musacom segunda temporada prestes a estrear; gravou outra do mesmo gênero, chamada Espécie invasora — ainda sem previsão de estreia; fez a curadoria da Bienal do Livro; lançou o livro A telenovela e o futuro da televisão brasileira (Editora Cobogó, 210 páginas)fruto de uma tese acadêmica; reestreou nos teatros a peça Eu te amo (inspirada no clássico filme de Arnaldo Jabor e que passou por Brasília); e dirigiu o filme Câncer com ascendente em virgem — baseado na história real de Clélia Bessa, produtora do longa, que lutou contra um câncer de mama, a ser lançado. Ufa!

"A pandemia foi muito o momento de não exercer a profissão, mas, para mim, foi um momento de preparar projetos, acreditando que aquilo uma hora ia acabar. Então, tudo o que aconteceu este ano foi intenso, mas tudo foi preparado antes. A nossa profissão é como ficar numa ilha deserta, mandando mensagens numa garrafa sem saber quais delas vão voltar. As minhas voltaram e eu me considero muito feliz, realizada e grata", comemora Rosane.

Cena do filme "Vicky e a musa", musical do Globoplay, 2023
Cena do filme "Vicky e a musa", musical do Globoplay, 2023 (foto: Globoplay/Divulgação)

 

"Um mundo de histórias para contar"

Em seu discurso no Domingão especial que premiou os melhores do ano, exibido em 17 de dezembro, Rosane Svartman ressaltou o quão avassalador é saber que está falando para milhões de pessoas. "A gente fica nos bastidores, então, subir no palco e receber o prêmio é muito emocionante e me inspira a continuar escrevendo. A gente ainda tem muita coisa pra falar e temos um mundo de histórias pra contar."

Agora, entretanto, a realizadora pretende sentir o luto do fim de processos avassaladores que emendou. Está de férias, após um período de privilégio de trabalhar em casa, mas produzindo sem parar. "Fica um vazio quando acaba, é algo muito potente", defende.

Sobre os projetos para o futuro, Rosane adianta que, por contrato, precisa apresentar uma sinopse à Globo agora no primeiro semestre. E deverá ser mais uma narrativa para o horário das 19h. Questionada sobre uma possível novela das nove, ela admite que não está nos planos, mas que, se houver uma demanda da emissora, encara o desafio.

"Prefiro permanecer onde estou. Novela das sete é como a vida: pode ser boba, superficial como uma bolha de sabão, é divertida e tem todas as camadas da sociedade. Não deixa de ser complexa, mas é como um circo, com várias atrações, tem esse traço. E eu gosto dessa liberdade. Faço o que quero e estou bem feliz assim", argumenta a norte-americana radicada no Brasil.

Fábio Assunção, Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas em Totalmente demais
Fábio Assunção, Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas em Totalmente demais (foto: Globo/Divulgação)

 

"O que dá medo é mais legal"

Para a criadora, qualquer trabalho de criação — independentemente do gênero e da mídia — é sempre um desafio. "O que dá medo é mais legal, e é saudável. Sou a favor de testar fronteiras e arriscar", avalia. Rosane confessa que, pro ser uma humana, também enfrenta a síndrome do impostor. "Mas é bom, porque deixa a gente com o pé no chão. Eu não era a melhor aluna, não fui a melhor de redação, acreditava que havia gente melhor, e ainda acredito. Porém, é um estímulo e uma vigilância saber dos limites em todos os sentidos, ter empatia, crer no entendimento dessa ponte para escrever. Esse medo que vem de não estar pronta faz com que eu estude muito e me esforce. Não me iludo com o êxito: acredito sempre que posso fazer melhor, e não errar de novo", finaliza.

 

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação
-->