Poesia

Aroldo Pereira lança segundo livro de trilogia sobre resistência negra

Intitulada Parangolares, a obra dialoga com as artes plásticas e com os desafios da negritude brasileira, por meio das memórias e inquietações do poeta

Aroldo Pereira, autor de Parangolares -  (crédito: Divulgação)
Aroldo Pereira, autor de Parangolares - (crédito: Divulgação)
postado em 19/12/2023 00:01 / atualizado em 19/12/2023 10:44

Considerado um dos representantes da literatura afrodescendente no Brasil, o escritor mineiro Aroldo Pereira lança o segundo livro da trilogia Parangosário nesta terça-feira (19/12), no evento anarcopoético do Buteco do Encontro, na 206 Norte. Intitulada Parangolares, a obra dialoga com as artes plásticas e com os desafios da negritude brasileira, por meio das memórias e inquietações que o poeta compartilhava com o compadre Raymundo Collares, pintor brasileiro que morreu em 1986. O cantor Nélio Torres — mestre do Cavalo Marinho Estrela da Paraíba e de BH — se apresenta no evento.

"Parangolé" é um termo de origem africana explorado por Aroldo Pereira desde o primeiro livro da série, chamado Parangolivro. "Eu faço a abertura desse livro com um poema que fala dessa ancestralidade do negro, pobre, poeta, com todas as referências da classicidade, das artes básicas, da música, do teatro, da dança, que estão em mim", explica o autor. Ele dá continuidade a essa ideia no segundo volume.

Uma obra política, Parangolares traz críticas sociais, revoltas e apontamentos acerca das batalhas que o povo negro enfrenta diariamente. "É uma luta muito difícil. A maioria da população é negra, mas a branquitude que manifesta e está nos principais postos políticos, empresariais e educacionais. Mas, eu acho que nós, os quilombolas do Brasil e do mundo, estamos muito atentos e organizados para reivindicar e para lutar, coletivamente, mesmo com excesso de covardia", ressalta o escritor.

Para estruturar as reflexões, Aroldo Pereira retoma a história de vida do compadre e os questionamentos que ele carregava em Montes Claros (MG), onde se conheceram. "O livro encontra um imenso artista plástico e visita a caminhada dele, inclusive, quando ele partiu. No meu caso, eu ainda continuo aqui, dialogando com ele, mas produzindo a minha linguagem poéticas", explica. Raymundo Collares foi considerado um artista ímpar na cena experimental da arte brasileira do final da década de 1960.

Segundo Aroldo, a poética, em geral, é altamente política: "Você não vive escrevendo poesia sem estar com o pé no chão, com o coração batendo e com os desaforos que o mundo nos impregna". "Cidadão, trabalhador, eu sou operário da cultura no Brasil. Então, o operário da cultura apanha muito. A minha poética é essencialista, então, naturalmente, ela está ligada ao dia a dia, à política e ao trabalho do artista, tanto é que o artista (Raymundo Collares) foi devorado pela violência das instituições", completa.

Dessa forma, a produção abraça e homenageia Raymundo Collares. Aroldo relembra que o artista morreu de forma estranha e suspeita, queimado na cama do hospital. Até hoje, o ocorrido não tem explicação. "Tem alguns poemas, mas tem um específico, que ele fala exatamente desse baque que, a toda hora, a gente recebe na imprensa, na mídia televisiva, na internet, sobre a matança do povo negro no Brasil. As pesquisas atuais falam da matança da juventude negra, do homem negro, o excesso de prisão dos garotos negros que não tiveram educação, alimentação e escola", destaca o autor.

O terceiro livro da sequência será Parangosário, um diálogo com Arthur Bispo Rosário, outro artista plástico que Aroldo conheceu quando viveu no Rio de Janeiro.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco 

 


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