A última noite de mostra competitiva nacional do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi marcada por produções voltadas para temáticas indígenas. Ao lado dos curtas locais A fumaça e o diamante e Vão das almas, o longa premiado internacionalmente A transformação de Canuto foi a estrela desta sexta-feira (15/12).
O longa da noite, A transformação de Canuto, conta a lenda indígena de Canuto, um homem que se transformou em onça e depois morreu tragicamente. No documentário ficcional, Ernesto de Carvalho e o indígena Ariel Kuaray Ortega são os diretores.
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Ariel Kuaray faz parte da comunidade Mbyá-Guarani e cresceu ouvindo a lenda. Ele contou a história para o primeiro professor de audiovisual, Ernesto de Carvalho, que se encantou e apoiou a criação de uma produção sobre esse tema.
Ao longo do filme, a narrativa traz a mensagem de respeito a natureza. “Apesar de que a gente vive praticamente na natureza, existem todas essas coisas que você tem que respeitar, tipo o ciclo da caça, o ciclo da pesca, qual árvore cortar, tudo tem um ser dono. Quando você não respeita esse ser, ele te cobra”, Ariel destaca. Canuto não soube obedecer a natureza e, portanto, foi transformado em onça.
Segundo Ariel, o cinema é uma ferramenta de poder muito importante, principalmente para realizadores indígenas contarem a história e trajetória deles. “Estamos tendo a oportunidade de nós mesmos contarmos a nossa história, e não os não indígenas, antropólogos e outros 'especialistas', digamos, falando dos povos indígenas”, explica.
O emocionante reencontro de uma família Yanomami no pátio central da aldeia Catrimani (Terra Indígena Yanomami-AM/RR) é documentado no curta Fumaça e o Diamante. “Ele nasceu de um trabalho que a gente fez numa série sobre os preconceitos contra os povos indígenas, que a gente fez em 2017”, explica um dos diretores, Bruno Villela.
No curta apresentado nesta sexta, os povos indígenas são donos da própria narrativa. “Eu acho que o filme vai trazer a mensagem dos Yanomami para a gente. Eu não acho que é a minha mensagem ou a nossa mensagem, mas é a mensagem do Davi Kopenawa e dos Yanomami, e a importância da gente ouvir os povos indígenas. É mais do que na hora da gente parar e ouvir de verdade”, avalia Juliana Almeida.
Santiago Dellape, diretor do curta Vão das almas, também reforça a importância do protagonismo indígena. “A gente espera que continue assim, que os povos indígenas tenham cada vez mais protagonismo, não só como temas de filme, mas como realizadores mesmo, contando suas próprias histórias”, torce.
A cineasta Edileuza Penha de Souza, que divide a direção de Vão das Almas com Dellape, descreve o curta como “um filme de amor”. “A nossa luta é contra o latifúndio. Pensar o Saci, que é o principal mito da cultura brasileira, defendendo sua terra — isso é um filme de amor”, define a diretora.
Apesar de terem lançado a produção em agosto, os diretores chegam no Festival de Cinema com espírito de estreia. “É reconfortante poder devolver o filme para a cidade, porque, afinal de contas foi feito com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC)”, pontua Santiago. “Tudo que a gente mais queria era poder exibir o filme aqui. Estamos muito felizes de poder encerrar o ano com chave de ouro”, complementa.
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