O artista paulistano JP Acacio se deparou com dois jardins repletos de matéria prima durante a residência de um mês na Galeria Karla Osório. O primeiro jardim, metafórico, era um enorme acervo da proprietária da galeria com equipamentos eletroeletrônicos obsoletos. O outro, real, ao redor da galeria, era rico em espécies de plantas. São os dois elementos que Acacio precisava para criar as 25 obras de Tomada desmonte, exposição que inaugura hoje na Galeria Karla Osório. Com uma série que chama de objetos-vivos, criados com plantas, esculturas, circuitos eletrônicos e instalações audiovisuais, o artista mergulha numa reflexão sobre vida e morte pautada pelos hábitos humanos e a resiliência do mundo vegetal.
Acacio conta que a proposta é explorar um diálogo filosófico e imagético entre as tecnologias humanas e as plantas. "Minha pesquisa é toda baseada na obsolescência dos equipamentos. A gente produz tecnologia em cima de tecnologia e isso vai gerando uma questão para o planeta, mas também uma questão de sistemas, porque não são só hardware, mas software também", explica. "Estamos gerando essa gigantesca quantidade de lixo e de objetos obsoletos que não servem para nada. Uma enormidade de coisas que hoje não funcionam mais."
Quase todas as obras expostas foram construídas no local. Em 11 monitores, Acacio plantou seis espécies de plantas. Circuitos eletrônicos viraram uma instalação que ocupa toda a galeria. Troncos de árvores misturados a CPUs e carcaças de eletrônicos tomaram a forma de esculturas como se fossem tótens. "A pesquisa é apoiada numa questão de vida e morte. Quando falo de vida e morte, estou falando mais especificamente da vida no reino vegetal e da morte das nossas tecnologias", explica.
A tomada que dá título à exposição faz referência a duas ideias. A primeira é o clássico dispositivo responsável por alimentar o cotidiano humano com energia elétrica. A segunda tem a natureza como protagonista. "É a tomada da natureza, que é totalmente avassaladora, incontrolável, que é aquela coisa, se você deixar o imóvel fechado por seis meses vai nascer planta do chão", avisa o artista. Para ele, a eletricidade, vital para o desenvolvimento da sociedade, é também um ponto de fragilidade. "Hoje, se você não tiver uma tomada por perto, pode até morrer. É a fragilidade da maneira como a gente se desenvolveu, em oposição a um outro sistema de vida, que é o vegetal, extremamente evoluído, no planeta há muito mais tempo que a gente e de uma maneira muito mais adaptável do que a nossa", compara.
Serviço
Tomada desmonte
Abertura hoje, às 11h, no Pavilhão II, Galerias 4 e 5 jardim (SMDB Conjunto 31 Lote 1B - Lago Sul). Visitação até 28 de janeiro, de segunda a sexta, das 9h às 18h30, e sábados, das 9h às 14h30. A entrada é gratuita, mediante agendamento prévio por telefone, e-mail, DM no Instagram ou WhatsApp (61-981142100)
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