critica

Dois pra lá, dois pra cá: leia crítica do longa de André Novais Oliveira

Romântico e esperançoso, filme 'O dia que te conheci' conquista o público do Festival de Cinema

O dia que te conheci -  (crédito: Filmes de Plastico/ Divulgacao)
O dia que te conheci - (crédito: Filmes de Plastico/ Divulgacao)
postado em 14/12/2023 16:07 / atualizado em 14/12/2023 16:11


Crítica // O dia que te conheci // ####

Pelas beiradas, numa construção que desbasta acessórios de linguagem e busca o essencial no cinema, o diretor mineiro André Novais Oliveira constitui uma filmografia bem-sucedida com longas como Ela volta na quinta e Temporada (esse, vencedor do troféu Candango de melhor filme, há cico anos). Nada simplório, o novo filme dele (O dia que te conheci), sem pretensão cita até O Pequeno Príncipe, com toda inexatidão e espontaneidade que uma criança pode apreender da trama.

Movimentado, na geografia de Minas Gerais, o desenvolvimento da fita abraça sinfonias musicais e o que seja corriqueiro (trajetos de ônibus, de carros e pelos bares da vida). Nisso se entrevê, com um humor acanhado, o cotidiano e os entraves de Zeca (Renato Novaes, no passado, vencedor de Candango de ator coadjuvante), bibliotecário assombrado por faltas e atrasos, num cotidiano sequelado pelas paradas nos pontos de ônibus e por trapalhadas em receituários de remédios de depressão, psicose e ansiedade.

Sem a estética perfeitinha, o longa acopla de ruídos de roncos a engordurados pastéis, piorados pelas baforados de cigarro. Figura dominante, Luísa (a sempre ótima Grace Passô), aos poucos, reformata a postura esquiva de Zeca. Circulando nas estradas mineiras, o virtual casal concorda que num ponto o trânsito — como "de lei, sempre garra" —, num paralelo, Zeca tá garrado num dia a dia de desânimo.

Com humor, o filme traz conversas que expõem desde Michael Jackson (nas versões branca e negra), Matuê, Bob Marley e até Malcolm X. Com muitos espaços de silêncio e conversas espontâneas, o roteiro encampa as falas pausadas e seduz com a linguagem fática. No mais, inspirada, Grace Passô ocupa a tela com a personagem que parece inclinada a dar vazão ao conteúdo de Dueto (de Chico Buarque): "Consta nos autos, nas bulas... Serás o meu amor, serás a minha paz".

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação
-->