Artes visuais

Museu Nacional da República celebra 17 anos com duas exposições

Museu Nacional da República comemora 17 anos com a abertura de duas exposições e celebra o próprio acervo, uma coleção de mais de 1.400 obras

Obra de Cildo Meireles está na exposição -  (crédito: Cildo Meireles/Divulgação)
Obra de Cildo Meireles está na exposição - (crédito: Cildo Meireles/Divulgação)
postado em 17/12/2023 06:00

O Museu Nacional da República comemora os 17 anos a partir deste fim de semana com a abertura de duas exposições que colocam em evidência o acervo e a história da instituição. Em 2023, o Museu Nacional da República recebeu 292.524 visitantes. Desde 2006, ao longo dos últimos 17 anos, o Museu acolheu um total de 9.311.325 visitantes. “Atribuo esses números à acessibilidade do museu, à localização, ao fato de ser público, com entrada gratuita, e um ponto estratégico na dinâmica da produção das artes visuais de Brasília e dos eventos culturais”, explica Sara Seilert, diretora da instituição. “O tempo todo a gente está recebendo, na área externa, festivais, shows, manifestações, isso gera esse sentimento de pertencimento de um jeito muito orgânico. O museu já está acolhido pela população brasiliense”. Para Sara, a importância maior do museu está no fato de ser um lugar de pesquisa, de elaboração do pensamento, de desconstrução do preconceito, de diversidade e visibilidade.

Para compreender qual o lugar do museu no cotidiano e na história de Brasília, a curadora Fernanda Lopes mergulhou em cartas e documentos sobre a construção da cidade. A partir de uma pesquisa que relaciona a territorialidade do museu e seu acervo, Fernanda criou a exposição Aos ventos que hão de vir — lugar, espaço e território no acervo do MuN, em cartaz no Mezanino da instituição. No salão principal, uma experiência coletiva da Academia de Curadoria reúne 12 curadores na seleção dos 100 artistas que participam da exposição Atualização do sistema.

De uma coleção com cerca de 1.400 obras,  Fernanda Lopes escolheu 30 para refletir sobre a trajetória do museu, que completa 17 anos. “A princípio, tentei entender se tinha um perfil que guiava a coleção, um projeto, e não tinha”, explica. “É uma coleção que vai se formando organicamente, com obras que ou estiveram expostas no museu e depois entraram para o acervo, ou de artistas de Brasília e arredores e de editais que trazem pesquisas de exposição com contrapartida de doação de obra. Achei curioso.”

A ausência de obras representativas de grandes marcos da história da arte brasileira chamou a atenção de Fernanda, que também percebeu o quanto a coleção conta a história da programação da instituição ao longo dos anos. “ É uma coleção que aposta no que vai ser história, que olha para o presente e, de alguma maneira, olha para o futuro também. Daí vem o título”, analisa. Da expressão latina “venturis ventis”, impressa no brasão de Brasília, veio o título da exposição. “A tradução é ‘aos ventos que hão de vir’ e achei isso uma delicadeza. Hão de vir é quase uma possibilidade, uma crença, enquanto virão é uma certeza. Achei essa imagem bonita de uma aposta, essa ideia de uma cidade da esperança, de futuro, independentemente de se concretizar”, conta.

A curadora também se impôs um desafio: não erguer paredes falsas e lidar apenas com a estrutura original do prédio. No Mezanino, a decisão exige soluções complexas devido ao pé direito alto e à existência de uma única parede disponível para receber obras bidimensionais. Entre as obras há uma grande variedade de linguagens e suportes, com vídeo, foto, objeto, instalação, performance e site specific. “É um panorama bem amplo”, avisa a curadora, que incluiu na mostra obras assinadas por artistas de projeção nacional, como Cildo Meireles, Laura Lima, Karin Lambrecht, Reynaldo Jardim, Bené Fonteles, Augusto de Campos, e nomes da cidade, entre eles Suyan de Mattos, João Angelini, Adriana Vignoli, Clarissa Borges, Elyeser Szturm e Grupo Corpos Informáticos.

No salão principal do museu, o tema é a tecnologia que perpassa o cotidiano de todas as sociedades humanas desde sempre. “É uma exposição sobre a história de como a tecnologia une os saberes humanos e não humanos e como, coletivamente e colaborativamente, a gente consegue modificar a realidade sempre por meio dessas técnicas, sejam elas métodos ou sistemas, sejam elas objetos como ferramentas e equipamentos que promovem a transformação da realidade”, explica Ana Avelar, coordenadora do projeto.

A exposição apresenta desde obras de arte muito tecnológicas e avançadas, feitas com celular ou equipamentos contemporâneos, até obras construídas com materiais do cotidiano, que podem ser pás, banquinhos, funis e objetos usados no dia a dia, tecnologias mais tradicionais que há muito estão presentes na vida diária. “Os saberes tradicionais estão imbuídos da ideia de tecnologia porque, para transformar a realidade, precisamos estender nosso corpo, nossa inteligência. Objetos como o próprio funil ou a pá estendem nossa capacidade e de cavar terra para além das nossas mãos, às vezes são tecnologias muito simples que a gente não valoriza”, explica a curadora. .

Para contar essa história tecnológica, os curadores escolheram obras do acervo do próprio Museu Nacional da República e também contaram com empréstimos das coleções das galerias Almeida & Dale, da Casa Albuquerque e da Cerrado Galeria. Entre as obras há trabalhos de Gilberto Prado e Suzette Venturelli, referências na produção de arte e tecnologia, Bia Medeiros e Corpos Informáticos, pesquisadores de videoarte e performance, além de nomes importantes da arte contemporânea brasileira, como Alfredo Volpi, Fayga Ostrower, Cildo Meireles, Jac Leirner, Nelson Leirner, Mira Schendel, Antonio Henrique Amaral, Almandrade e Augusto de Campos. Artistas da cidade, como Cirilo Quartim, João Angelini, Raquel Nava, Elder Rocha, Fernanda Azou, Adriana Vignoli, Diego Bressani e Evandro Soares também têm obras na mostra.

Serviço


Aos ventos que hão de vir – lugar, espaço e território no acervo do MuN
Curadoria: Fernanda Lopes

Atualização do sistema
Curadoria: Amanda Sammour, Ana Avelar, Ana Roman, Isaac Guimarães, Marcella Imparato, Marina Romano, Rachel Vallego, Renata Reis, Tálisson Melo, Tamires da Mata, Tania Sulzbacher e Thiara Grizilli


Visitação até 2 de julho, de terça-feira a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, próximo à Rodoviária do Plano Piloto)

  • Sem Título, 2017, fotografia impressa sobre papel de algodão, de Karin Lambrecht
    Sem Título, 2017, fotografia impressa sobre papel de algodão, de Karin Lambrecht Foto: Karin Lambrecht/Divulgação
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