Foram quatro anos de filmagens entre Brasília e Uruguai, um período durante o qual Catarina Accioly se armou da câmera para registrar tudo que pudesse em torno da figura de Hugo Rodas. O resultado poderá ser visto pela primeira vez nesta quinta-feira (14/12), em sessão da Mostra Brasília, momento tradicional do Festival de Brasília dedicado às produções da cidade. Rodas de gigante é uma homenagem, mas também um material precioso de registros que ajudam a compreender a dimensão de uma das figuras mais emblemáticas do teatro brasiliense.
Catarina concebeu o filme calcada na vontade de dar ênfase ao que chama de "palavras do Hugo". "São os últimos quatro anos de vida dele registrados, principalmente, por ser uma inspiração de ser humano tanto no quesito artístico e no potencial enquanto diretor, encenador e multitalentoso, quanto na maneira de lidar com a velhice e com a morte de forma super irreverente e inusitada. Desde o início, o filme tem essa vontade de retratar o Hugo", conta.
Morto em abril de 2022, após um longo tratamento de câncer, o dramaturgo é um dos nomes que ajudou a tornar o teatro feito em Brasília conhecido nacionalmente. Uruguaio, ele escolheu a capital para morar ainda nos anos 1970. Foi professor da Universidade de Brasília (UnB) e cabeça de grupos como Teatro Universitário Candango — TUCan e Agrupação Teatral Amacaca (ATA), este ainda em atuação. Montagens como A casa de Bernarda Alba (1983), A teia (1984), Salomé (1986) e Dorotéia, com a qual ganhou o Prêmio Shell em 1996, fizeram do diretor uma referência.
Para Catarina, Rodas de Gigante é uma espécie de devolutiva para a cidade. "É um filme baseado no contato do Hugo com as pessoas, é contado pelo próprio Hugo, ele narra a própria história. E dentro dessa linha, minha mão de direção é estar atenta ao atravessamento de inúmeras pessoas e inúmeras situações que permearam a vida dele nos últimos anos", explica a diretora. Ela calcula que 25% do filme foi rodado no Uruguai e 75%, em Brasília. Mais de 150 artistas da cidade participaram da produção, que não contou com financiamento de nenhuma forma de edital e foi subsidiado com recursos de uma emenda parlamentar e apoio da Secretaria de Turismo do DF. "É um trabalho de guerrilha", avisa Catarina. "É um projeto caro, que envolve uma cadeia produtiva enorme. Esse filme é uma prova de amor a Brasília. A coisa que o Hugo mais fala durante o filme é sobre seu amor pela cidade e como era importante ele estar aqui. Ele poderia estar em qualquer lugar do mundo, mas elegeu ficar em Brasília."
Serviço
Rodas de gigante
Direção: Catarina Accioly. Hoje, às 18h, no Cine Brasília, durante a Mostra Brasília
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