Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Leia a crítica do filme 'Mais um dia, Zona Norte', na disputa do festival

Equalizar uma realidade a arrojados desenhos de ficção é das belas qualidades do diretor Allan Ribeiro

Mais um dia, Zona Norte, longa de Allan Ribeiro -  (crédito:  Guilherme Tostes/Divulgacao)
Mais um dia, Zona Norte, longa de Allan Ribeiro - (crédito: Guilherme Tostes/Divulgacao)
postado em 13/12/2023 18:57 / atualizado em 13/12/2023 19:02

Depois de bem estudados, os personagens de Allan Ribeiro, que sempre defende longas-metragens de docuficção, entregam as interpretações de suas vivências para o diretor. Percebe-se um alto grau de respeito e confiança. A exemplo de Esse amor que nos consome, mostrado por Allan há quase dez anos no Festival de Cinema, Mais um dia... traz quesitos musicais e uma dançante animação entremeando dia a dia de duras labutas. Allan Ribeiro, que já se deteve no cotidiano de companhia de dança da Lapa, agora mira espaços reservados à Acadêmicos do Engenho da Rainha e aos bailes de charme, locais de stand-up arejados inferninhos de vedetes e transformistas. Tudo na Zona Norte.

Samba na rua, vivências de ambulantes e o desgastante discurso de um anunciante de ofertas (em microfone da galeria Alternativa Carioca) se misturam às varridas de vias públicas cariocas e cotidiano num sufocante ateliê de confecções. Em primeiro plano estão as vidas da funcionária da limpeza Valéria Silva, do animador Victor Veiga, do vendedor Silvio Fernandes e da estudante Lara Rodrigues. Muito do que expressam está fixado em vídeos amadores de celular. Sem maiores arroubos, parecem seguir o conselho de um dos personagens: "Rir agora (no momento do lazer), para chorar amanhã".

Outra tirada brota de um dos tipos menos identificados em cena, que se identifica por muçulmano (pela proximidade com os manos descendentes "dos mussuns"), e detalha uma breve (e hilária) passagem pelo "quarto da alegria" de uma casa de programas. No mais, a montagem equilibrada (também do diretor) dá espaço para o "encontro de alma" de Sílvio, amante de musicais e de Cher e Shirley Bassey, com aquele que ele designa "urso lindo" (que passou por estágio probatório, antes de ser assumido companheiro). Entre rodadas de bar, ainda há a presença da animada Valéria que sabe reservar tempo para ocupar, ainda que sozinha, cativo espaço na praia da Urca.

De todas as participações, a quilômetros de destaque, está Victor Veiga, fantasiado de uniforme de herói (com emblemático "HI" estampado no peito). Num vagão de trem, ele, que atendeu por girino e Pokemon, já atrai as atenções. Uma comédia, quando discute a cor da tez de Jesus ou quando formata debate com a polícia, em torno do infundado acesso aos celulares de cidadãos comuns. Isso sem falar da ótima sequência chorosa em que canta, com nítida emoção, um número à la Dançando no escuro.

Crítica: Mais um dia, Zona Norte: **** (quatro estrelas)

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