Cinema

Filme sobre sequestro de voo brasileiro chega às telas nesta quinta

Recriando uma tragédia nacional oitentista, 'O sequestro do voo 375' é uma das atrações de peso no circuito que recebe ainda Maestro e a mostra oara a primeira infância

O sequestro do voo 375 -  (crédito: Estúdio Escarlate, LTC Produções e Star Original Productions/ Divulgação)
O sequestro do voo 375 - (crédito: Estúdio Escarlate, LTC Produções e Star Original Productions/ Divulgação)
postado em 07/12/2023 00:01 / atualizado em 07/12/2023 10:56

Na maior campanha nacional da Disney, para um filme brasileiro, são esperadas 500 cópias de exibição do longa O sequestro do voo 375, via Star Distribution. O longa recria os eventos reais de 1988, quando um homem tentou arremessar um avião contra o Palácio do Planalto, desejando a morte do presidente. "A condição socioeconômica foi o que levou o Nonato (o sequestrador) a uma atitude tão drástica. Falamos da década de 1980, e não se tinha o aparato de segurança que você vê nos aeroportos, e quando a porta da cabine não era blindada. É um passado recente, mas que, pelas mudanças, parece um universo distópico. Tudo seria difícil de acontecer, hoje em dia, principalmente depois do 11 de setembro", observa a atriz Roberta Gualda, que, no filme, se destaca como uma controladora de voo do Cindacta.

O filme partiu de uma pesquisa de Constâncio Viana que pretendia distribuir um documentário sobre o tema, que, na ficção, rendeu um embate direto entre o piloto Murilo (Danilo Grangheia) e o sequestrador Raimundo Nonato (Jorge Paz). "Tudo virou base para um roteiro adaptado para os cinemas, já que a gente precisa de produtos imersivos para gerar uma grade competitiva do produto nacional dentro da sala do cinema, no pós-pandemia", reforça a produtora Joana Henning, saída de Brasília, onde teve experiências únicas no meio artístico do circo. Entre caças e movimentações de aviões, esforços de sete anos, resultaram no investimento de R$ 25 milhões (metade incentivada e metade saída do meio privado). "Era um filme importante no posicionamento da nossa empresa (Estúdio Escarlate, que teve estímulo ainda da Star Original Productions) no mercado. Junto com o desafio, veio o alto risco,"  enfatiza a produtora.

Diretor de fitas como Os homens são de Marte (2014) e o sucesso Bruna Surfistinha (2011), Marcus Baldini assumiu desbravar um território pouco explorado, das gigantes tragédias brasileiras em cinema. "O filme tem este quê de resgatar um herói nacional não reconhecido: adoraria que o Murilo (o piloto) estivesse vivo para ver o filme. Valorizamos pouco nossos heróis. Com o filme, vem o ressaltar de como foi importante o piloto ter o sangue frio, a precisão técnica, a habilidade emocional e a calma. Nisso, foi um herói que salvou a vida de 100 pessoas que estavam a bordo e conseguiu fazer esse acontecimento acabar, relativamente, de forma menos trágica", observa o cineasta.

Baldini reforça aspectos instigantes da produção, que exigiu a experiência dele com efeitos (da época das peças publicitárias), com a narrativa mais pop demandada por videoclipes. "Gosto ainda do jogo de ambiguidade dos atores. É um filme que caminha numa corda bamba de tentar humanizar dados, na relação entre piloto e sequestrador. Isso faz as pessoas se interessarem pelo drama da história, sem a queda no lugar-comum, fugindo do maniqueísmo e colocando as pessoas para pensar um pouquinho, ao mesmo tempo em que têm um entretenimento", aposta. O impacto da cena da manobra de tonneau (com giro arriscado da aeronave) foi meticulosamente estudado e resultou em complexo quebra-cabeça para a montagem. "Filmamos em quatro aviões, dois com traquitanas giratórias, um avião fixo (montado no estúdio) e outro para filmagens das partes externas.

Nessa junção, conseguimos gerar esses movimentos, na própria cena, no próprio jogo de câmera, com um coreografado elenco de apoio, treinado pelo (ator) Emílio de Melo", observa Joana Henning. "Tínhamos que fazer com que as pessoas realmente se segurassem na cadeira no cinema, quando aquela cena acontecesse", ressalta Baldini. Pesquisas e consultorias da Aeronáutica, da Aviação Civil, entrevistas com as pessoas que viveram o fato (na época), dados da Força de Segurança, e Polícia Federal deram maior respaldo à fita. Entre reuniões de cúpula, um oficial em atividade, quando representantes norte-americanos vieram ao Brasil, entre homenagens a Fernando Murilo de Lima e Silva, confirmou que, entre esconderijos de Osama Bin Laden, foram encontrados recortes de jornais ligados à tragédia nacional. "A gente tem isso, esse embasamento e para narrativa é muito grandioso o fato de o Brasil ser visto como uma referência, diante dos estudos (que contribuíram) para a defesa aérea", pontua Joana Henning.

Duas perguntas // Jorge Paz, ator


Como viveram os eventos à época? E que importância tem reavivar o ocorrido?

Não lembro de nada. Eu tinha dois, três anos de idade. Vim a conhecer a história, quando trabalhei no filme. Achei muito interessante, é uma história incrível, trágica e que resultou na perda grande do copiloto. Acho que a história é um reflexo, num um ponto de partida para ver evolução, quanto aos aspectos humanos. É uma referência para gente. Tem, sim, que ser contada no cinema: serve inclusive para as próximas gerações saberem, numa referência. Pode ser usada para educação e para a evolução — num trabalho que é o da arte.

E como foi a questão da tensão permanente em cena?

Para todo mundo foi um desafio. Para mim, particularmente, foi muito, muito tenso. No filme, são poucas horas, mas, para mim, foram dois meses, 12 horas por dia, vivendo aquela tensão. Tinha que ser sentida de verdade. No corpo, senti dor de cabeça, e chegou o momento em que, acordei com meu corpo todo tremendo. Meu corpo não estava entendendo mais nada, por conta do desgaste físico, psicológico e emocional. No último dia de filmagem, deu o "corta", e fui para o hospital: meu corpo não tava mais aguentando. Faria do mesmo jeito, sabe?! Há cenas ali que eu faço umas caretas que são de dor real. Dava o "corta", e a lágrima caia.

 


  • O sequestro do voo 375
    O sequestro do voo 375 Foto: Fotos: Estúdio Escarlate, LTC Produções e Star Original Productions/ Divulgação
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