Paul McCartney não escolheu o Clube do Choro para uma apresentação surpresa em Brasília ao acaso. O ex-beatle é um homem atento para a formação musical e o fato de a casa brasiliense, além de abrigar a música tradicional, ser também a semente da Escola de Choro Raphael Rabello, fez diferença. "O Paul tem muito carinho por essa parte de ensino musical em instituições culturais. Ele também apoia uma instituição em Liverpool. Entende que é importante fazer o estímulo a instituições que sejam menores", conta Henrique Neto, diretor da escola, que conversou com o empresário do músico para entender o porquê da escolha do Clube do Choro para a apresentação. "Paul disse que tinha interesse em fazer um show no Clube do Choro porque entendia a importância de tocar nesses locais culturais e dar projeção a lugares que cultivam o ensino, a cultura. Ficamos sem acreditar. É um ícone, inspirador para quem toca qualquer estilo musical, ele unifica as pessoas, é universal. Ele imortalizou a Escola e o Clube com a presença dele", diz.
Neto foi um dos intermediadores da apresentação histórica de terça-feira (28/11). Segundo ele, o contato oficial com a produção de Paul McCartney teve início há cerca de uma semana, embora os diretores da casa tenham sido sondados há um mês. "Mas era uma coisa muito remota. O acerto oficial foi de uma semana pra cá. Antes, era somente uma sondagem, a gente não se reuniu com a equipe. Semana passada fomos oficialmente contactados", conta o diretor, que precisou manter sigilo total até ontem, embora a notícia do show tenha vazado na segunda-feira.
Todo o equipamento de som foi trazido e montado pela equipe do inglês, mas houve também a participação de técnicos do próprio Clube do Choro, como Mike Brito, que ajudou na luz, e Jazz Caipora, que intermediou o trabalho da equipe de som. O camarim passou por uma leve adaptação, com direito a cenografia, conduzida pela equipe de segurança do músico. Alguns móveis foram trazidos e pequenas alterações foram feitas para facilitar o acesso ao backstage, mas não houve grandes exigências, como costuma ocorrer em shows de celebridades. "O palco, eles deixaram exatamente como é. Achei isso maravilhoso. Com a nossa marca. Eles foram sensíveis, mantiveram o caráter do Clube do Choro", diz Neto.
Segundo ele, o Clube do Choro tem um equipamento de som de alta qualidade, mas pensado para a música instrumental. Como Paul McCartney tocou com a banda completa, incluindo sopros e bateria, seria preciso incrementar. "Por ser um show do Paul, que tem todo equipamento do som e exigências particulares, eles levaram mais som", explica Neto. Amplificadores Vox e Fender, além de um piano elétrico foram acrescentados ao palco.
Tanto a Escola de Choro Raphael Rabello quanto o Clube do Choro não arcaram com nenhuma parte da produção nem da venda de ingressos. "A equipe deles foi muito rigorosa com a questão dos ingressos. Não ficamos com nenhuma parte no gerenciamento dos bilhetes. Eles concederam 30 ingressos para alunos da escola. E também ficamos com 10 ingressos", garante Neto. "E ele fez esse show sem apoio, do bolso dele, foi uma iniciativa dele. Não teve patrocinador. Foi surpreendente."
Também foi surpreendente poder ser apresentado ao músico, que acabava de chegar do México, por onde a turnê Got back passou antes de vir ao Brasil: "A gente foi apresentado rapidamente, a segurança dele é muito rigorosa. Ele chegou cansado e foi direto pro camarim. Foi um contato muito rápido, mas, para mim, zerei a vida".