Um dos maiores artistas da história da música pop mundial regerá os brasilienses em um grande coral no Estádio Mané Garrincha na noite de hoje. Sir Paul McCartney, que já fez história ao tocar um no Clube do Choro na última terça-feira (28/11), agora vai entoar os maiores sucessos da carreira durante quase três horas para uma arena inteira cantar junto. A noite de hoje será especial, pois qualquer momento na presença de um Beatle é especial.
Quem é fã assíduo de Paul McCartney deve saber que o baixista britânico gosta de montar os setlists em "W", ou seja: o começo é avassalador e alto astral, seguido por um ritmo mais cadenciado com surpresas escondidas e o encerramento é com chave de ouro. E, ao longo da turnê Got back, que já passou pelos Estados Unidos, Austrália e México, as músicas tocadas se mantiveram praticamente as mesmas.
Durante as quase três horas de McCartneymania, o público pode esperar faixas icônicas como A hard day's night, Let it be, Ob-la-di, ob-la-da, Helter skelter e Hey jude, além de clássicos como Sgt. Pepper's and lonely hearts club band e I've got a feeling, que conta com um dueto virtual com ninguém mais que John Lennon. E, como é de praxe, Paul encerra o show com The end.
Que o brasileiro é profissional na arte de ser fã, todo mundo já sabe. Porém, com os Beatles, a situação alcança um novo patamar. Milhares de pessoas lotarão as oito noites de shows nos maiores estádios do país para ver mais uma turnê de Paul McCartney. Nem as mais de 35 músicas e as quase três horas de show assustam quem ama louca e incondicionalmente o homem que fez história com os Beatles.
Esse amor é declarado de diversas formas. Gilvan Moura, por exemplo, tem mais de 10 mil artefatos relacionados aos quatro britânicos que mudaram a história da música. Mais importante, ele escreveu A Liverpool dos Beatles: um passeio pela cidade da banda mais amada do mundo, auxiliou na tradução da biografia de Paul McCartney e tem mais de 50 mil seguidores em um canal do Youtube só sobre Beatles, o Beatles School.
"A minha relação com os Beatles se iniciou no fim dos anos 1980. Eu assisti um filme chamado Curtindo a vida adoidado e Twist and shout era tocada no meio do filme. No dia seguinte liguei para uma rádio e pedi a música. Dali ganhei meu primeiro LP, Please please me, e hoje tenho mais de 10 mil itens ligados a eles", lembra Gilvan, que já foi a 10 shows do Paul. Foi a partir dos Beatles que tudo começou para o professor de inglês e literatura. "Os Beatles me fizeram ter interesse pela língua inglesa. Assim como muitos jovens se tornaram musicistas por causa deles ao longo das décadas, eu acabei me tornando professor de inglês e suas literaturas. Devo muito a eles", afirma.
O autor, professor e tradutor, no entanto, atribui um entendimento de mundo à banda britânica. "Principalmente pelas músicas falarem de amor, compreensão e paz. Os Beatles são algo positivo", pontua Gilvan, que se sente nobre por ajudar os Beatles chegarem a mais pessoas. "Passar isso para as pessoas com meus vídeos faz com que elas se interessem mais pelas músicas e pelas histórias. Divulgar meus ídolos e ter meu nome atrelado a eles no meu país é a maior forma de agradecê-los por tudo", complementa.
Para um artista que influencia o mundo da música desde a década de 1960, não seria surpresa encontrar gerações e gerações de famílias que compartilham e transmitem o amor pela obra de Paul McCartney e os Beatles. A família Palvarini, por exemplo, foi capa do suplemento Revista do Correio, há 10 anos.
Desde então, a admiração pelos britânicos se manteve e, por motivos de força maior, Bruno Palvarini, Cláudia Quezado e os filhos Felipe e Luísa vão para São Paulo com os trajes coloridos do álbum Sgt. Pepper's and lonely hearts club band para assistir a mais um show do beatle em sua turnê Got back no Brasil.
Desde os 5 anos de idade em contato com a música dos Beatles, Bruno Palvarini ainda se lembra de quando recebeu do tio as coletâneas Vermelho e Azul, que abriram as portas para uma nova geração de fãs. "Foi amor à primeira vista! Passei a cantar as músicas em um inglês inventado e há cinquenta anos eles fazem parte da minha vida", conta Bruno.
Para ele, "mesmo considerando a junção dos quatro insuperável", ele considera a carreira solo de Paul McCartney "espetacular". "Gosto de suas parcerias com outros músicos como Stevie Wonder e Elvis Costello e do seu eterno alto-astral para superar obstáculos e seguir em frente, sempre de forma positiva."
Bruno conhece bem os shows do Paul. Ele esteve presente no último em Brasília, em 2014, além de ter visto o artista no Rio de Janeiro, Montevidéu e Londres. "É famoso o fato dele não gostar muito de variar os arranjos entre os shows, pois considera que o espectador que o estará vendo uma única vez deve poder ter acesso à projeção que ele tem das canções em sua mente, mas queria muito que ele cantasse Find my way, carro-chefe do álbum que ele gravou quando estourou a pandemia [McCartney III, 2020]", espera Palvarini.
Se a ideia é levar pra frente os Beatles, poucos brasilienses fizeram mais isso do que Rodrigo Karashima. Ele é da banda Let It Beatles há 23 anos, afinal desde pequeno se desafiava a aprender as músicas dos Beatles no violão uma por uma. "Eu ouvia cada música dos álbuns e depois ia para o violão aprender a tocar", recorda. Porém, o esforço deu certo. A Let It Beatles é sucesso por onde passa na cidade. "Sempre foi muito positiva a experiência de tocar Beatles em Brasília", conta.
Karashima acredita que é imprescindível ver o beatle e crê que este show pode estreitar a relação dos fãs com a música no geral. "O público está muito volátil. As pessoas estão com menos paciência e tempo para ouvir música. É tudo muito corrido, toda hora muita informação", reclama. "Ver um show de um cara que mudou o mundo na cidade faz com que as pessoas tenham contato com algo grandioso como é o Paul e se deem o tempo de gastar três minutos para ouvir uma música que seja", acrescenta.
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