Um Beatle no Clube do Choro

Paul McCartney: saiba como foi o show para 'sortudos' no Clube do Choro

O Beatle fez show memorável no Clube do Choro para poucos sortudos e abriu a turnê brasileira tão próximo do público como se estivesse em um pub londrino

Poucos presenciaram um dos maiores artistas de todos os tempos da música pop de forma de tão próxima. O eterno beatle Paul McCartney fez uma apresentação especial para cerca de 500 pessoas sorteadas no Clube do Choro. O show marcou o início da turnê Got back, que terá oito datas, incluindo Brasília na próxima quinta. Histórico, como esperado, Paul assinou o próprio nome em um espaço icônico da cidade.

Espaço onde tocaram Bide da flauta, Sivuca, Hermeto Pascoal, Paulinho da Viola, Valdir de Azevedo, Armandinho, João Donato, Moraes Moreira e Hamilton de Hollanda, por si só, sagrado. As apresentações que teriam feito história em qualquer casa do mundo poderiam ser um ato de abertura para aquele que moverá mais de 2 mil vezes o número de pessoas que ocuparam a tradicional casa brasiliense na última noite. Paul fez um show memorável. Era uma oportunidade tão especial que, na fila, uma frase do professor de história Lourenço de Sant'anna, 32, ecoou risadas entre os presentes: "Já fui a show cover dos Beatles em Brasília com mais gente".

As poucas centenas de pessoas que grudaram na boca do palco tiveram a experiência de um pub britânico nos anos 1960, quando quatro jovens com "cabelos de cuia" iniciavam a trajetória do que seria a maior banda da história da música. Cada verso cantado na noite que começou às 18h de uma terça-feira no Clube do Choro era uma anedota que seria contada nas casas das famílias daqueles espectadores que viveram uma experiência que misturava sonho e realidade. O calor de um cavern club do Reino Unido no centro do quadradinho de Brasília fazia aqueles fãs de Paul transpirarem histórias para contar à posteridade.

Não havia uma pessoa ali que acreditava na oportunidade que estava vivendo, tudo parecia surreal: um artista que mudou a história da música decidiu que tocaria em um templo da cultura da capital para apenas quem teve sorte de receber um e-mail e comprar na hora certa, parece mentira. No entanto, foi verdade e todos que estavam ali terão no mínimo a lembrança de ver Paul McCartney arranhando a nossa língua com frases como "agora vocês" e "vou falar um pouquinho de português" da distância que um goleiro vê o batedor de um pênalti.

Sem celulares, todos tiveram que ser lacrados na entrada da apresentação, no entanto, viveram um momento para marcar na memória. Foi a oportunidade de entoar a plenos pulmões o "na na na" de Hey Jude, como em um passado distante, mas com a força que a música demanda. A noite foi da alegria da faixa de abertura A hard day's night, para as lágrimas de emoção em Blackbird, até a potência da música que marcou a história dos Beatles, Let it be.

Pouco mais de 20 faixas, passando desde os primórdios dos Beatles, chegando à menos famosa banda Wings e transitando pela carreira solo do cantor preencheram por quase duas horas os corações de pessoas que representavam o amor de todo Brasil por Paul McCartney e, agora, mais do que nunca, é incontestável dizer que Paul ama, e muito, o Brasil de volta.

Como funcionou?

O show teve um esquema especial, foi anunciado apenas às 9h de ontem, dia em que Paul subiria ao palco. O público que lotou o Clube do Choro era formado majoritariamente por felizardos que receberam um link de compra da produtora do evento pelo e-mail, alunos do próprio Clube, também sorteados, e convidados de honra como Samuel Rosa, vocalista do Skank, e João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, também ocuparam o recinto. Por ter sido um sorteio, o público foi bem variado. Dos idosos que acompanham Paul desde os Beatles a uma criança que aparentava menos de 10 anos.

A experiência era exclusiva, foram proibidos celulares ou qualquer tipo de dispositivo que filmasse ou fotografasse. Os espectadores tiveram que lacrar os celulares para ser permitida a entrada no Clube do Choro. As mesas, conhecidas do espaço de shows, foram retiradas dando mais espaço para os fãs. No entanto, a maioria se aglomerou perto do palco.

O evento faz parte de uma série de shows surpresas que o cantor tem feito para comemorar shows e turnês. O gigante dos festivais Glastonbury na Inglaterra ganhou um evento menor como esse, a cidade de Nova York também abriu um pub antes de ver o Beatle lotar uma grande casa. O Clube do Choro, com tudo que carrega de tradicional, foi apenas a escolha mais sensata do músico para abrir os trabalhos no Brasil.

As filas começaram a se formar às 12h30, os portões abriram às 16h30 e Paul subiu ao palco às 18h, com a pontualidade que é peculiar das terras em que foi criado. Despojado, com uma camiseta levando o nome da cidade que cresceu, Liverpool, e uma camisa riscada por cima, Paul cantou com banda completa, acompanhado de um guitarrista, um músico que alternativa entre baixo e guitarra, um baterista, um tecladista e uma linha de metais com trompete, trombone e saxofone. O protagonista da noite tocou o tradicional baixo, guitarra e um piano enfeitado com a bandeira do Brasil.

McCartneymania

Beatles é uma das bandas mais populares da história da música, mas tem a peculiaridade de ter fãs que tratam esses ídolos como deuses. Os poucos que tiveram a chance de assistir a Paul McCartney no Clube do Choro faziam jus à paixão dos milhões de beatlemaníacos pelo mundo.

O fã mais impressionante era Javier Lubelski, um profissional de TI de 46 anos que veio de Buenos Aires para Brasília para assistir ao ídolo pela trigésima vez na próxima quinta. O show de número 30 virou 31, pois uma amiga, a jornalista Amanda Cardoso, o presenteou com a oportunidade de ver o ídolo no Clube do Choro. "É sempre bom ter uma amiga brasileira sortuda", brinca o argentino, que a conheceu em um fórum de fãs justamente porque queria assistir o Paul no Brasil e precisava de um cartão de crédito brasileiro para passar o valor do ingresso.

Ele assistiu o Paul em quatro países diferentes, mas estabeleceu o maior contato com o ícone no Brasil. "O país em que eu mais assisti ao Paul foi o Brasil, com certeza", conta o fã, que vem ao país para todas as turnês do eterno Beatle desde 2011. Javier, inclusive, fala inglês com sotaque britânico. Quando questionado se por conta da banda favorita, responde: "Os Beatles foram meus primeiros professores de inglês e agora uso essa língua para o meu trabalho".

Também de longe chegaram Nicole e Cristina Pilla. Filha e mãe respectivamente, as duas haviam chegado em Brasília vindas de Porto Alegre minutos antes do link da venda dos ingressos ser disponibilizado no e-mail. Os ingressos para a apresentação especial no Clube do Choro foram comprados no aeroporto. Foi só o tempo de Nicole colocar a camiseta que ela mesma mandou fazer do ídolo e correr para a casa de shows. "Eu tentei comprar para Curitiba, não consegui. Chorei muito. Minha família deu um jeito e agora estamos aqui vivendo esse sonho", afirma a designer, que arrastou a família inteira para Brasília. "Acho que eu sou fã por conta dela", brinca a mãe.

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