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Liberdade audiovisual invade o CCBB com programação da mostra MFL

Com entrada franca e variadas sessões de cinema, a produção nacional independente faz a festa com a Mostra do Filme Livre

A maior mostra de cinema alternativo, independente de duração de obra ou de suporte em que foi produzida. Assim é a Mostra do Filme Livre, que completa 20 anos e chega à capital com programação gratuita no CCBB. É uma ponte para debate da produção nacional que, curiosamente, nesta quinta (23/11) também ganha visibilidade com a mostra A Cinemateca é Brasileira. Será no Cine Brasília (EQS 106/107), de graça, com sessões até 5 de dezembro e filmes fundamentais como Cabra marcado para morrer, O pagador de promessas, Limite e Central do Brasil.

De volta ao CCBB e à Mostra do Filme Livre, vale dizer que o evento reúne 160 títulos e nasceu para difusão de filmes caseiros ou criados em pequenas produtoras. "Se faziam filmes em vídeo ou 16mm, mas havia dificuldades de exibição diante da escassez de eventos interessados por eles. O digital e vídeo chegaram 'quebrando tudo', para sorte de quem gosta de audiovisual. Vingou a máxima que criamos: 'Se cinema é cachoeira, vídeo é arrebentação'", celebra o criador da MFL, Guilherme Whitaker.

Na leva de filmes, ele conta que há Mostrinha Livre, com títulos infanto-juvenis. "Há, no pacote, um curta de animação feito por crianças de escolas públicas (Memórias da infância) e outro criado por um indígena (Cem Pilum — A história do dilúvio). Noutra sessão, a Biografemas, seguimos conceito de Roland Barthes, em que ações artísticas extrapolam o campo da biografia. Nesse segmento estará A jornada do Valente, sobre Assis Valente (ilustrador e compositor) e o longa O cangaceiro da moviola, em torno do montador de cinema Severino Dadá", conta Whitaker. Com filmes de até cinco minutos, Pílulas também gera interesse. "Serão 17 curtas numa sessão que traz cineastas já tarimbados na mostra, como Sávio Leite, Leonardo Catapreta, Arthur B. Senra, Mari Bley e Marcio Vaccari", aponta. Na Cabine Livre, filmes experimentais (em looping) ganham espaço genuíno na MFL Brasília.

O premiado diretor Pedro Coelho Xavier (de Presente) se surpreendeu com o "amor e carinho" demonstrado pela menção honrosa na mostra , em que foi destacado ainda pela votação popular (entre dezenas de filmes). "Vi tudo com muita alegria", disse. Até 23 de dezembro, a MFL acopla programação extra, como oficina comandada por Marina Mara. "Há adaptações de linguagens a todos os públicos, principalmente junto àqueles que precisam de acessibilidade. O celular será uma ferramenta importantíssima para fazermos os filmes que serão exibidos no encerramento do evento. A partir de aplicativos gratuitos, os participantes conseguem filmar, legendar, ordenar a trilha sonora e, o melhor de tudo, incluir a transcrição em libras", comemora Marina.

Com essencial público participativo, o premiado Brasil, 1977 (de Felipe Kusnitziki), como diz o diretor, "nasce da vontade de trazer luz à importância da memória cultural do Brasil, em especial, do nosso acervo audiovisual". O filme foi feito em 2021, no auge da pandemia da covid-19. "Construímos uma ficção-documental em meio a sucessivas retiradas de direitos da população brasileira e dos ataques à nossa cultura", demarca, ao falar do título distópico.

Discussão será ponto de partida para Walter Fernandes Jr. que, ao lado do jornalista Ulisses de Freitas, debate a produção de títulos como A estratégia da fome (inspirados no Cinema Novo e na produção nacional marginal), nesta quinta, às 19h. Walter atenta para a banalização da miséria e da fome. "Cito o texto do Glauber Rocha, A estética da fome, em que ele afirmava que a "nossa originalidade é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida", adianta Walter Fernandes Jr. 

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