EXPOSIÇÃO

Exposição reúne artistas que sempre trabalharam à margem da cena

Exposição na Caixa Cultural reúne obras de dois artistas que exploram temas como o sagrado, o urbano e o rural

O eurocentrismo presente na história da arte marginalizou importantes artistas que não seguem esse conceito restritivo e não recebem o devido reconhecimento por criarem obras abrangentes e plurais. Entre os artistas brasileiros que viveram à margem estão Manuel Messias dos Santos (1945-2001) e Chico Tabibuia (1936-2007). As produções feitas por eles chegam a Brasília juntas, em uma exposição intitulada A quem traspassaram, que recebeu curadoria de Marcus Lontra e Rafael Forte e está em cartaz na Caixa Cultural. "Este é o momento para que artistas como Manuel Messias e Chico Tabibuia ocupem os seus lugares de direito", ressalta o curador Rafael Forte.

A exposição foi nomeada em referência a uma da Via Sacra criada por Messias em 1979, que questiona se o homem Jesus ou Deus estava sendo torturado na crucificação. Em paralelo a isso, a curadoria questiona como os feitos desses artistas foram impactados pela estrutura socioeconômica e como essas questões ainda afetam a sociedade atual. "Chico Tabibuia e Manuel Messias foram dois artistas que viveram à margem da sociedade e do sistema de arte. Mesmo diante das adversidades de cada uma destas trajetórias, suas obras refletem uma necessidade vital de criação e chegam até nós carregadas de expressividade e de referências culturais e estéticas que, por muito tempo, ficaram obliteradas da nossa história", enfatiza Rafael.

Nascido em uma família de marceneiros, Chico Tabibuia se dedicou a trabalhar com madeira e explorar ferramentas e materiais. A religião foi uma fonte de inspiração para o artista que, no começo da carreira, frequentava um centro de Umbanda e, posteriormente, se filiou à Igreja Universal do Reino de Deus. Os elementos místicos eram a marca das formas de Tatibuia, principalmente através das formas fálicas e vulvas. O artista desenvolveu uma mitologia própria que explorou o conflito entre o bem e o mal.

Manuel Messias dos Santos se dedicou majoritariamente à xilogravura e produziu obras que abordavam a violência da ditadura militar. Com habilidade técnica, o artista desenvolveu uma identidade estética demarcada, onde explorou o cenário da Cidade de Deus, lugar em que vivia. Após um período, Messias se aproximou das influências da arte oriental e da estética pop.

Com entrada gratuita, a exposição está em cartaz na Galeria Vitrine até 28 de janeiro de 2024. A curadoria ressalta a importância de refletir sobre a realidade rural e urbana e os problemas presentes em ambas as vivências. "A ideia da exposição é trazer ao público de Brasília a oportunidade de conhecer as obras destes dois importantes nomes da arte do Brasil. São produções que reforçam a importância da arte como espaço de resistência cultural, emocional e até mesmo espiritual", define o curador Rafael. 

 

*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel

 

 

A quem transpassam

 

Exposição de Manuel Messias dos Santos e Chico Tabibuia. Curadoria: Marcus Lontra e Rafael Forte. Visitação até 28 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Galeria Vitrine da Caixa Cultural (SBS Q. 4, Lotes 3/4).Entrada franca.

 

Mais Lidas