Música

Ed Motta combina drama policial, suspense e ficção científica em novo disco

'Behind the tea chronicles', lançado no fim de outubro, foi influenciado por obras audiovisuais e contos de suspense dos mais diversos

Sob uma atmosfera nebulosa, marcada por pitadas de drama policial e ficção científica, o aclamado musicista Ed Motta, após meia década, retorna ao mercado fonográfico com o disco de estúdio Behind the tea chronicles, lançado no fim de outubro e disponível em todas plataformas digitais. Influenciado por obras audiovisuais e contos de suspense dos mais diversos, o artista traz composições densas e imaginativas, com a linguagem musical que se habitou a explorar: o universo etéreo do jazz e do soul.

Ed Motta, com uma extensa e bem-sucedida carreira internacional, coleciona trabalhos de sucesso comercial e crítico, como Manual prático para festas, bailes e afins, de 1997, que traz hits como Vendaval e Fora da lei. Desde o começo, é marcado por grande ecletismo ao fundir, em composições dançantes, gêneros dos mais diversos, como funk, jazz, blues, soul, rock, MPB e até mesmo música de concerto.

Com notáveis doses de psicodelia, Ed Motta se inspirou agora em seriados cult como Quatermass, Columbo, Barnaby Jones e Streets of San Francisco para guiar a liricidade do disco, também influenciada por longas como Gaslight e pelo gibi Buddy Longway. Esteticamente, buscou superar o nível de excelência sonora que encontrou pela primeira vez com o conjunto de jazz fusion norte-americano Steely Dan. "Eu não quero homenagear Steely Dan, eu quero ser melhor. A ideia é um pouco essa lá no fundo. Eu sou leonino, apesar de eu gostar dessa gente, eu quero estar na frente", ressalta.

Ansioso pela turnê europeia que o aguarda nos próximos meses, Ed, ao , detalhou os processos que culminaram em Behind the tea chronicles, dissecou sua "televisão independente" e brincou sobre os próximos passos na carreira.

Como foi a concepção desse disco?

Eu acho que tive a facilidade da pandemia para desenvolver isso de uma maneira que eu jamais poderia se eu não tivesse esse tempo em casa. Eu pude criar músicas como se fosse a Capela Sistina, devagar, assistindo um milhão de detalhes. Depois que terminei isso, eu comecei a fazer as letras das músicas, e em nenhum momento eu pensei em fazer letras cinematográficas ou não. Foi completamente natural. Eu sentei para escrever ouvindo a música e baixou meio que um santo da concentração. Depois, a preocupação que eu tinha dentro do estúdio não tinha nada de música, era só sonora e estética. Pude levar isso aos últimos limites do som do chimbal.

Como surgiu a inspiração lírica?

Quando eu olhei o tema que eu estava abordando em todas as músicas, ele tinha esse clima de crônica policial e ficção científica, que vai desde o Asimov até o Stanisaw Lem, ou mesmo um Stephen King. E ainda tem o cinema, que é um hábito diário nessa casa. Eu e minha mulher assistimos pelo menos dois filmes por dia. Isso se reflete no que eu vou escrever, porque eu escrevo muito mais como um observador da arte. Nada do que está escrito aí é vivência de rua, vivência de nada. É tudo narração, roteiro.

Como você separa o lado especialista e crítico do lado artístico e criativo?

Um fala com o outro o tempo todo. Quando eu estou no estúdio, eu lido com o meu lado desconhecido, da arte, da criatividade, mas o tempo inteiro tem a minha autocrítica e a minha crítica a quem está executando. É feroz, sou como um professor carrasco, mas gente boa quando termina tudo. É chato, mas é legal, porque quem eu chamo idiomaticamente está ligado a esse tipo de música, então é um prazer para as pessoas quando a gente fala: "vamos tentar mais uma vez, e mais uma, e mais uma". Estamos todos ali juntos, então não é uma coisa opressora. Eu brinco muito, é muita sacanagem o tempo inteiro então eu falo mesmo: "vamos gravar mais uma, porque fulano errou para caralho".

Suas lives nas redes sociais repercutem bastante graças a algumas opiniões musicais bem polêmicas. O que te atrai nesse formato?

Para mim, é como se fosse uma televisão independente. A todo momento sinto a necessidade de externar minhas ideias. Eu tenho um espírito super humorado, mas também muito crítico. A crítica é adocicada pelo humor. É muito engraçado, eu faço disso uma catarse mesmo. Não estou ali vendendo curso, crowdfunding, caneca, eu estou exercendo uma coisa que seria quase punk com o uso daquela mídia, subvertendo aquilo num lugar onde todo mundo vai para se promover normalmente. É um Howard Stern sem patrocínio.

Já há anos voltado ao mercado estrangeiro, você tem a intenção de se debruçar sobre a música e o público brasileiro novamente?

Eu sinto que esse disco novo tem uma influência da música brasileira muito forte. A música que abre o disco, por exemplo, tem umas percussões, algo nordestino nela, com o uso do triângulo, meio xote, uma coisa assim… Eu, poxa, pretendo fazer música e lançar essa música no máximo de lugares possíveis. A gravadora que eu estava antes não tinha um braço aqui no Brasil, mas agora sou lançado aqui pela Virgin.

O que tens pela frente?

Agora é ficar agonizando até o dia da turnê europeia, porque eu começo a sofrer por antecipação. Eu começo a sonhar que eu estou dentro de avião, que eu estou em hotel, que eu estou passando som. Eu vou daqui até lá e vai rolando isso, eu vou sonhando e acordo de noite no susto. Não posso beber de noite, senão vou ter pesadelo. Se eu beber, bicho, eu já estou dentro do avião indo para a Alemanha.

*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel

 

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Bispo/Divulgação - Ed Motta: 'Behind the tea chronicles'
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