Há 10 anos, uma jovem paraense chamava atenção no país com um estilo musical quase desconhecido nacionalmente. Gaby Amarantos furava a bolha e trazia uma música pop com referências de tecnobrega, tecnomelody, aparelhagem e guitarrada para o público brasileiro muito acostumado com o que fazia sucesso no Sudeste, principalmente no eixo Rio-São Paulo.
Atualmente, com outra cabeça, experiência e maturidade, Gaby Amarantos revisita as próprias músicas que a colocaram sob as luzes dos holofotes, em trilhas sonoras de novelas e nos maiores palcos do país no EP Pirarucool. O novo trabalho é formado de remixes de músicas importantes para a trajetória da artista. Cada canção ganhou um novo arranjo e participações especiais. Nomes como Lexa, Irmãs de pau e Luisa Nascim, da banda Luisa e os Alquimistas, fizeram parte do novo trabalho. "O Pirarucool foi um lugar muito especial para mim", conta a cantora.
Gaby comemora o novo momento da carreira da melhor forma que poderia. Além de poder chamar para perto aqueles que a acompanharam ainda é, de uma vez por todas, uma representante do norte do Brasil para o mundo, uma vez que disputa o Grammy Latino na categoria Melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa, com o Tecnoshow, último disco lançado.
Ao Correio, a cantora falou sobre os 10 anos de carreira, a importância de representar o lugar de onde vem e cresceu, o sentimento de vitória por chegar onde chegou e a expectativa de trazer o Grammy para o Norte do Brasil.
Entrevista //Gaby Amarantos
Qual o sentimento de completar 10 anos de carreira e perceber que está em alta durante praticamente todo esse tempo?
Eu fico muito feliz, porque não é só sobre a carreira da Gaby Amarantos, mas sobre a música pop da Amazônia e a possibilidade de inserir cada vez mais os nossos ritmos, com os nossos representantes na música popular brasileira. Eu estou me sentindo fabulosa, com todo o apoio e amor que tenho recebido dos meus fãs todos esses anos.
Como foi fazer esse passeio pela sua própria discografia?
Eu me senti passando férias na casa do vovô e da vovó. Um lugar que eu sempre ia e sempre me divertia. Porque tinha rio, tinha floresta e a Amazônia presente. Revisitar a minha discografia, algo que venho fazendo agora em comemoração aos 10 anos de carreira, é revisitar toda essa trajetória e celebrar todo esse caminho de sucesso, criatividade e de trazer muita música e conceito para os amantes da música pop do Brasil.
Você acredita que agora, 10 anos mais velha, pode dar outra cara às suas músicas neste EP?
Acho que, atualmente, 10 anos depois, eu me sinto em um lugar de muito autoconhecimento, sei mais da indústria e entendo o que eu posso contribuir para que a música pop brasileira seja ainda mais rica. Como uma das pioneiras desse movimento, sinto que capinei uma estrada e agora estou desfilando por ela mais uma vez e vou seguir desfilando.
Como você sente a maturidade de uma carreira já consolidada e reconhecida pelo público e crítica?
A maturidade tem que ser muito valorizada. Quando eu era uma artista de 19 ou 20 anos, queria muito saber o que sei hoje. Eu estava aqui assistindo o documentário da Britney Spears, e vendo o quanto que as artistas que são muito jovens e passam por esse holofote da mídia, que, às vezes, é olho de um furacão, têm de conviver com diversos problemas de saúde mental, de não saber lidar com a fama e de consciência de classe. Hoje, me sinto mais completa, jamais trocaria a minha carreira de hoje pelo agito do início da minha carreira, afinal, eu não tinha maturidade nenhuma. As novas artistas têm que mirar muito na gente, para saber o que trocar e o que mostrar, porque já passamos por onde elas estão agora. E, que delícia, que temos esse movimento lindo.
Recentemente, o seu vídeo emocionada porque está concorrendo ao Grammy, foi muito comentado. Você consegue descrever essa emoção em palavras?
É uma emoção muito grande ter o Tecnoshow indicado ao Grammy, pois é um álbum de tecnobrega e tecnomelody. Essa chancela da Academia é essencial para valorizar e fortalecer e fazer esse movimento mais forte. Estamos vivendo o novo boom da música pop amazônica e do Brasil reconhecendo a gente como pioneiros nesse estilo. Nós, no Pará, estamos muito à frente no que diz respeito ao tecnobrega e o tecnomelody. A cultura da aparelhagem constantemente tem sido redescoberta. Sinto-me muito feliz e vitoriosa por fazer parte disso.
Qual a sua expectativa? Acha que vai trazer esse Grammy?
Eu estou preparando um look lindo, vou para lá feliz, quero me divertir, aproveitar cada pessoa nova que eu conhecer, cada momento, e trazer as pessoas comigo. Eu já me sinto de verdade vitoriosa, isso não é papo. Eu estou muito confiante de que posso trazer esse gramofone para o Norte, trazer esse caneco para o Pará. Porém, só a indicação já alavancou a minha carreira para mostrar para as pessoas que a gente está aqui fazendo música. Eu estou vibrando muito, estou comemorando muito e, o melhor, estou com meus fãs, que sempre admiraram o meu trabalho e se mantiveram engajados em tudo que a agente produz. Isso para mim já é uma grande vitória.
Olhando para trás, revendo sua trajetória. Quais sentimentos são mais evidentes para você agora?
O mais evidente para mim é voltar atrás e ver que eu tive a coragem de acreditar na minha carreira, no meu trabalho, no meu estilo, que é é ser vanguardista, diferente e única. Sinto-me bem de seguir nessa trajetória, com muito orgulho, integridade, sempre tratando bem as pessoas que estiveram pelo meu caminho, sempre deixando portas abertas e me arriscando. Nunca fui com a manada, nunca fiz o que todo mundo estava fazendo e sempre tive a coragem de fincar uma bandeira e trazer um movimento para o Brasil e para o mundo. Hoje eu me agradeço por ter tido coragem de ter saído lá do Jurunas, do Pará, para mostrar para o Brasil o quão lindo e quão rico a nossa cultura é. Viva a música pop brasileira do Pará, produzida na Amazônia! Viva a música pop do Norte!