Ousados como o skatista Elijah Berle, a banda californiana Irontom conquistou vários brasileiros desde que abriu o primeiro show da turnê latinoamericana do Red Hot Chili Peppers, em 4 de novembro. Muito desse carinho é resultado do carisma do vocalista Harry Hayes, que conversou com o público brasileiro como um nativo; dos solos de guitarra psicodélicos de Zach Irons; e das pesadas batucadas do baterista Dylan Williams. Em entrevista ao Correio, o trio contou um pouco sobre a trajetória da banda, o apadrinhamento dos Chili Peppers e o esforço para fazer os shows no Brasil algo para a história.
Português como segunda língua
Se Anthony Kiedis, vocalista e frontman do Red Hot Chili Peppers, foi acusado pelo público brasileiro de ter acordado do lado errado da cama, isso não pode ser dito de Harry Hayes, o cativante cantor do Irontom. “Mãos, mãos”, pedia sempre Hayes à plateia, que correspondia. O vocalista foi além dos tradicionais “olá, Brasil” e “obrigado”, e arranhou algumas frases que animaram o público.
Para os shows em solo brasileiro, Hayes fez um intensivão de língua portuguesa, mas ele explica que aprendeu a falar algumas coisas em português quando veio ao Brasil com um amigo quando era adolescente e por meio de leituras. “Eu simplesmente amei [ter vindo ao país]. Adorei jogar futebol o dia inteiro, a comida e a cultura”, relata o cantor. “Provavelmente é a língua que eu mais sei falar além do inglês, apesar de ser bem pouco.”
O baterista da banda, Dylan Williams, apesar de não ter falado em português durante os shows, afirma que o grupo se preparou para tornar a ocasião inesquecível: “Nós sabíamos o quão especial seria mostrar que apreciamos isso [o carinho dos brasileiros], então todos nós fizemos um esforço para mostrar que estamos entusiasmados por estar aqui aprendendo um pouco o seu idioma.”
Os brasileiros são conhecidos por terem uma das melhores plateias de show no mundo. Entusiasmados pelo amor e carinho recebidos no país, Harry Hayes afirma que ama o Brasil e “a forma que vocês se relacionam com o rock que nós e o Red Hot Chili Peppers tocamos”.
“Paixão é a palavra que eu usaria”, enfatiza Zach Irons, guitarrista do Irontom. “As pessoas aqui parecem um pouco desinibidas. Elas não estão tentando ser legais, estão apenas mostrando seu coração e sendo abertos sobre sua paixão pela música e pela arte.” Segundo Irons, “em outros lugares, há um fator legal ‘olha para mim’, ‘você está na banda’. Aqui existe uma conexão forte, é como se estivéssemos todos juntos”.
O caminho até aqui
Formada em 2012, o Irontom está na estrada há algum tempo. Harry Hayes, Dylan Williams e Zach Irons são os três remanescentes da formação original, e, junto com o baixista Michael Goldman, estão conquistando novos fãs durante os shows de abertura da turnê latinoamericana do Red Hot Chili Peppers. Essa oportunidade surge em meio ao lançamento do álbum GEL pt.1, o que, para eles, é o ressurgimento de quem nunca sumiu.
“Este álbum parece um renascimento para nós”, afirma Hayes. “Começamos a sair em turnê em 2015, o que para mim foi quando realmente começamos a ser uma banda pública, porque antes tocávamos em clubes em Los Angeles, tentando começar alguma coisa.”
Irons acredita que hoje eles são outra banda com o mesmo nome. “É a maioria das mesmas pessoas, mas com uma abordagem e perspectiva totalmente novas. É como se estivéssemos começando do início com todo o conhecimento que adquirimos nos anos anteriores”, conta o guitarrista. “Há um novo fogo atrás de nós que não tivemos.”
O baterista, Williams, acha que estão se saindo bem. “A moral está alta. Os fãs todas as noites têm sido tão receptivos, então é muito encorajador o que temos sentido internamente. Estamos muito entusiasmados com essas novidades, e tem sido muito bom apresentá-las e receber um feedback tão positivo.”
GEL pt.1 é o primeiro álbum da banda que eles fizeram praticamente por conta própria, conta Williams. Segundo o baterista, “é a primeira vez que eu escuto uma música que antes estava só na minha cabeça”. Irontom lançou, em 2017, o primeiro álbum de estúdio, intitulado Partners, seguido por Cult following, de 2020. Ambos tiveram participações de membros do Awolnation, banda na qual Zach Irons faz parte desde 2015, e, em 2015, a banda lançou uma compilação produzida por Alain Johannes, que trabalhou com Jack Irons pelo grupo Eleven.
“De agora em diante, faremos exatamente o que quisermos, do jeito que quisermos, quando quisermos, como quisermos. Não precisamos nos comprometer com pessoas que não seguem nosso fluxo criativo”, afirma Zach Irons. Essa foi a forma que GEL pt.1 foi produzido, segundo ele.
“Nós já trabalhamos com grandes produtores, como Alain Johannes, Aaron Bruno e Isaac Carpenter”, relata Harry Hayes. “Mas isso nos levou a esse ponto de pensar ‘ok, agora vemos o que queremos fazer’. E agora Zach está nos produzindo, e ele pode ver tudo e formar as nossas ideias.”
No entanto, os dois garantem que isso não significa que eles não irão trabalhar com outras pessoas, pois, segundo eles, quando você muda a abordagem, você consegue resultados inéditos e incríveis.
Gostinho de quero mais
Desde que foram anunciados como banda de suporte ao Chili Peppers, diversos fã-clubes foram criados em homenagem ao Irontom. Um deles foi criado no Brasil, e, pensando no próximo Lollapalooza, que acontece anualmente no autódromo de Interlagos, em São Paulo, uma petição foi criada para que os meninos voltem ao Brasil ano que vem. Ela pode ser encontrada na página do Instagram @irontom_brasil, e a banda faz o convite:
“Assinem a petição”, pede Harry Hayes. “Peça aos seus amigos e familiares que assinem também para que possamos voltar em breve. E só quero dizer que amo o Brasil. Eu amo tudo isso. E nós simplesmente gostamos de nos conectar com o povo brasileiro e com o rock.”
“Vocês são loucos, então vamos endoidar Façam essa petição circular, e nós faremos de tudo para voltar aqui o mais rápido possível”, promete Dylan Williams. “Brasília foi uma noite muito especial.”
*Estagiário sob supervisão de Nahima Maciel
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