Começar a carreira quase aos 30 anos parece tarde, mas foi com essa idade que Teresa Cristina plantou a semente do que seria uma bonita trajetória. Em 2023, a cantora completa 25 anos nos palcos e junto ao grupo que a acompanha, chamado justamente Semente, colhe os frutos dessa grande árvore de samba que ela plantou ainda no fim dos anos 1990.
Tudo começou quando Teresa Cristina decidiu assumir o microfone do grupo Semente no bar que levava o nome dos sambistas. Foi ali a semeadura para o que se tornaria uma história. "O maior fruto é poder entender que eu pude influenciar outros artistas por meio do meu repertório, da minha atitude, da minha perseverança. Além de poder ver outras mulheres compondo", afirma a Teresa em entrevista ao Correio. "Eu sinto que esse repertório que foi colocado na roda ali, por mim, pelo Semente, floresceu. Ele inspirou outras pessoas e outros grupos", complementa.
Teresa entende que tudo ocorreu como tinha que ser, mas sem uma explicação do motivo. "Foi um chamado ancestral, porque eu ter aquela ideia de fazer um show sem ser cantora, não dá para explicar", diz a artista, que atribui à própria visão de mundo e universo parte do sucesso da trajetória. "Eu consegui ouvir bem a minha ancestralidade. É muito importante a gente estar conectado com as nossas vozes internas", pontua.
Para Teresa Cristina, 25 anos é uma comemoração e tanto, pois ela não sabia aonde aquela ideia poderia chegar. "Vendo a minha trajetória, as mudanças que eu passei e tentando fazer um resumo desses 25 anos, eu acho que eu tenho muita coisa a comemorar. Foram muitos progressos pessoais, de vencer a minha timidez, de vencer o meu medo do público e de encarar as pessoas", reflete.
Apesar de um longo tempo na estrada, o sentimento é de, entre erros e acertos, estar em constante aprendizado. "Eu acho que Deus foi muito bom comigo. Porque eu pude aprender com os erros. A gente comete os mesmos erros sempre e não tem a clareza. É sobre tentar aprender com o que a gente faz errado", acredita Teresa Cristina, que sabe também o que acertou. "Eu acho que eu acertei em não mudar meu repertório. Eu acertei em seguir as minhas intuições, em aceitar os bons conselhos quando eles apareciam", conta.
Com mais de 10 álbuns, turnê europeia e um bonito caminho onde colecionou fãs e interpretações de grandes músicas da história do samba, Teresa chegou onde jamais imaginou, afinal, por vezes, questionava até se o canto seria uma profissão para ela. "O meu receio era que aquela profissão também fosse ser uma coisa temporária. Então, eu demorei um pouquinho pra entender e eu não esperava chegar onde cheguei. Não esperava mesmo. Acho que o nosso trabalho foi um trabalho muito de formiguinha, um passo de cada vez", comenta.
Atualmente, com um show de samba e uma banda composta por mulheres, Teresa quer inspirar ainda mais pessoas, principalmente mulheres negras. "Hoje, a gente fica falando sobre a importância da valorização da mulher, principalmente da mulher negra, no samba. E eu aprendi que as nossas conquistas, elas são mais fortes e duradouras quando se estendem coletivamente", analisa a cantora. Ela entende que, juntas, as mulheres podem conquistar novos espaços. "Eu acho mais difícil você derrubar um coletivo do que você derrubar uma pessoa só. Então, o que eu tenho tentado é isso, é fazer o grupo", acrescenta. "É incentivar outras mulheres a serem instrumentistas, musicistas e arranjadoras. Isso é um trabalho coletivo e por ser coletivo, é muito mais difícil de ser derrubado. Eu acho que é um caminho sem volta", completa.
Quem sabe faz on-line!
Teresa Cristina ganhou um destaque inédito na carreira durante a pandemia. Ela fazia lives diárias no Instagram que chegavam a números extraordinários de visualizações, com média de 15 mil pessoas acompanhando por dia. "Eu consegui chegar aonde os pés não foram, virtualmente", exalta. A cantora acredita que se reinventou para não ficar parada. "Para mim foi um ano de show. Eu tinha figurino, eu tinha maquiagem, eu passava perfume. Eu preparava os roteiros e o repertório de cada dia. Era como se eu estivesse fazendo um show por dia. Eu considerei um show por dia", lembra.
Após o fim do período tenebroso, a artista vive o tão esperado encontro com um público que só via em números e ao qual não atribuía rostos. "Uma coisa que me deixa muito emocionada é que a maioria das pessoas que eu encontro, que vem falar comigo por conta das lives, pedem um abraço. Isso me quebra completamente, porque eu acho que é um abraço que a gente gostaria de dar na época da pandemia", declara Teresa, que convida os fãs a pedirem esse afeto. "Tem me feito muito bem abraçar as pessoas."
Vascaína fanática
Teresa Cristina começou a carreira na era de ouro do clube cruzmaltino e espera que novos ventos de sucesso cheguem em breve. Sobre a atual briga contra o rebaixamento, a cantora confia no trabalho
do técnico Ramón Diaz e
crava: "o Vasco não cai!"
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