Pessoas somem, do nada, sob a desculpa de serem vitimadas por gripe, num ambiente em que soldados, chamados de "pacificadores", atuam contra a civilidade, com pesados porretes: nesse cenário distópico de Jogos vorazes reside uma semente de maldade que eclodirá no corpo do ditador Snow (um marcante papel para o veterano Donald Sutherland). Tudo isso já foi visto em quatro filmes sequenciados, entre 2012 e 2015, e que, puxados pelo carisma de Jennifer Lawrence, na pele da combativa Katniss Everdeen, fizeram história nas bilheterias sob gordos orçamentos de US$ 495 milhões.
Averiguar, dentre escritos da bestseller Suzanne Collins, a caminho da venda de 100 milhões de exemplares, as origens para tanto mal contido em Snow puxa a razão de ser do mais novo filme: Jogos vorazes: a cantiga dos pássaros e das serpentes. À exceção do primeiro filme (de 2012), a cargo de Gary Ross, todos os outros longas levam a assinatura de Francis Lawrence, que explicou para a imprensa do exterior a razão de ter convocado o jovem Tom Blyth para reacender a chama maligna de Snow (herdada de Sutherland): "Os grandes olhos azuis tomam parte da crença (no personagem), o formato do rosto, a sofisticação e inteligência na atuação — isso sem contar a forma como Tom se comporta. No ponto fisicalidade, ele foi convincente. Tom, aliás, já tinha tudo".
Violação de normas de jogos que oprimem moradores de distritos rebeldes, punições severas, desprezo por humanidade e muita torcida estão no rastro do enredo capitaneado ainda por Lucy Gray (Rachel Zegler). Lucy tem o futuro (e malévolo) presidente como mentor durante a realização da competição. Snow, pela vez, ainda estará sob a tutela da esperta personagem de Viola Davis, que, para a The Hollywood Reporter, brincou: "Só de perceber quantas vezes você pode fazer alguém se contorcer — como foi com Tom Blyth — foi prazeroso (risos). Ao perceber a receptividade dele (a cada investida), fiquei muito feliz em cutucá-lo (ainda mais)".
Com música original de Olivia Rodrigo e duração de duas horas e 37 minutos, o novo Jogos vorazes é pontuado por um fictício apresentador (papel de Jason Schwartman), que insufla: "aproveitem o show". No filme, que mergulha numa atmosfera distópica, há um espaço de respiro, que em algo lembra Terra de ninguém (1973), criação de Terrence Malick. Nesta fase da trama, a personagem Lucy, que leva o canto como armas e é sempre cheia de atitude, rende chance de destaque para a intérprete Rachel Zegler, que, com muita energia folk, faz lembrar a ativista Joan Baez. Manter o mistério em torno dos pássaros e das serpentes é vital para não estragar a experiência de Jogos vorazes. Com retorno de US$ 2.955 bilhões de lucros, no mundo inteiro, a saga segue apostando em conteúdo de conspiração, deserção, mobilizando aliados e mortes.
Com clima aterrorizante, instalado por atentados, empobrecimentos e encerrado numa tenebrosa área batizada de árvore-forca, o filme, orçado em US$ 100 milhões e estrelado ainda por Fionnula Flanagan Peter Dinklage, dá conta de lastrear o nascimento da soberba de Snow. Instituído em 2008, na literatura de Suzanne Collins, o mundo de vingança, entre a Capital e os 13 distritos da trama, segue dando o que falar na trajetória da autora considerada uma das 100 pessoas mais influentes (pela Time) e sistematicamente presente na lista de mais lidos do The New York Times.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br