Música

Hodari vive o sonho e representa Brasília no Grammy Latino na quinta (16/11)

Hodari representa Brasília no Grammy Latino e disputa Melhor álbum de pop contemporâneo em língua portuguesa

Hodari em primeiro show internacional, na cidade de Paris, França -  (crédito: Andre Atangana/Divulgação)
Hodari em primeiro show internacional, na cidade de Paris, França - (crédito: Andre Atangana/Divulgação)
postado em 15/11/2023 06:00

"Eu trabalho com o impossível", garante Hodari. Essa afirmação fez o artista brasiliense mover montanhas para chegar ao ponto em que está. Hodari está na disputa do Grammy Latino na categoria Melhor álbum de pop contemporâneo em língua portuguesa e, na noite de amanhã, saberá se ganha o prêmio mais cobiçado da indústria musical da América Latina.

O cantor, nascido e crescido na Asa Sul, está no páreo com o disco que leva o próprio nome. Na disputa do gramofone dourado ainda estão Xênia França, com Em nome da estrela, Bryan Behr, com Bryan Behr ao vivo em São Paulo, Melim, com Quintal, e Rubel, com As palavras vol. 1 & 2. O vencedor será divulgado na noite de hoje no Centro de Exposições e Conferências (FIBES) em Sevilha, na Espanha. A transmissão brasileira fica por conta do Canal Bis e da Globoplay.

Apesar de estar em uma das categorias mais disputadas de língua portuguesa, Hodari acredita que esse possa ser o momento dele. "Eu vou ganhar esse Grammy, eu vou voltar com o caneco. Vou gritar lá, já estou criando meu textinho espanhol", conta o artista em entrevista ao Correio. Ele exalta os trabalhos que estão na concorrência, mas vê na própria versatilidade o trunfo para sair com o prêmio. "Esse álbum foi milimetricamente estudado pra gente poder conseguir tapar todos os buracos que a música pop brasileira precisa. Eu não estava lutando por isso.Estou lutando pelo Grammy", avisa.

O disco tem um alcance bastante distinto do funk no single de sucesso Teu Popô, ao afrobeat em S-E-X-O, passando pelo sertanejo na parceria com Luísa Sonza, Embarcação de amor, até chegar a um reggaeton em Praya e sol. Hodari buscou entregar um álbum completo, diverso e diferente. Para isso viajou o Brasil e o mundo. No álbum tem do céu de Brasília às praias do Rio de Janeiro, mas também tem as Chapadas dos Veadeiros e Diamantina e outras cidades, como a charmosa cidade de Paris, além de ser rico em cultura mexicana.

O trabalho é apenas um reflexo do que sempre quis fazer. "Eu uso a música como plataforma para desbloquear a alma, desbloquear esses sonhos, tudo que a gente tem destravado no nosso corpo", explica Hodari. O álbum ficou da forma que queria. "Eu consegui estar nesse Grammy só falando de coisa boa. Você consegue ouvir o álbum em qualquer lugar, com qualquer pessoa", complementa.

Quem é Hodari?

O músico levou muito tempo para chegar ao produto final e tornar possível o que parecia impossível. "Quando eu soube que fui indicado, comecei a pular, gritar, chorar e pular na rua", lembra. Para entender a dimensão dessa conquista é necessário saber de onde veio e onde o músico quer chegar.

Hodari gostaria de ser apresentado como "artista jovem negro, carrega o nome de Brasília para Sevilha, na Espanha, concorrendo ao Grammy com o melhor álbum de pop, de música contemporânea do Brasil, trazendo ouro pra Brasília". Contudo, a trajetória é muito maior.

Nascido em Brasília, na Asa Sul, ele cresceu na cidade e, ainda na escola tocava guitarra em bandas do gênero emo. Muito tímido, ele preferia estar na construção das músicas do que no holofote. "Não que eu imaginaria que eu poderia estar chegando no Grammy concorrendo com os maiores artistas do Brasil. Eu nem pensava em cantar", brinca o músico.

A jornada foi longa para o artista que acabou de passar dos 30, mas está efetivamente se lançando como solo há pouco mais de um ano, apesar de ser muito ativo na cena de de ter participado de álbuns de artistas como IZA, Luísa Sonza e Urias. "Eu já fui garçom nos bares da Asa Norte, palhaço em praça de alimentação do Conjunto Nacional e Iguatemi, até em evento infantil. Depois virei vendedor de loja, concursado, larguei tudo para ser tatuador, e fui viver de música lindamente como estou agora. Eu nem sei o que sentir, não tenho explicações para isso", recorda.

Essa luta toda o fez fazer parte de bandas de grandes artistas. Ele tocou para Marvelo D2 e Di Ferrero. Hodari só pôde tirar o tempo para fazer o álbum novo porque foi "demitido" amigavelmente pelo vocalista do NXZero especificamente para que o brasiliense trabalhasse nas próprias músicas. A guitarra da gravação do disco foi um presente de D2.

Tudo parecia escrito. O artista escolheu o termo manifestar para explicar que pediu ao universo para receber algo em troca. Ele acredita que as palavras têm poder e que atraíram a mudança da própria trajetória. "Eu já sabia que isso ia rolar. E aí achei muito louco, porque a manifestação, ela já existe desde antes. Então, agora eu estou vivendo uma coisa que eu já estava manifestando há um tempo", crava. " Todo dia que eu estava no estúdio, eu falava de Grammy", acrescenta. "Eu acho que é tudo sobre manifestação. Todos os meus sonhos, tudo que eu consegui realizar, não veio pela grana. Foi pela manifestação", completa.

Brasília

O cantor acredita que Brasília tem "teto baixo". "De todos os meus amigos, da geração que cresceu comigo, eu fui o único que seguiu os sonhos de infância e adolescência. Então, pra mim, ter acreditado até hoje é uma vitória imensurável", comenta. Porém, este fato nunca o impediu de expandir os próprios horizontes. "Quero ser inspiração pros meus também. Porque eu acho que, nessa minha trajetória, desde quando eu saí de Brasília, em 2018, eu quis viver a música também para poder inspirar as grandes almas que eu tinha em Brasília", clama.

Hodari vê na cidade um potencial cultural muito grande e por isso crê que a própria música pode mudar vidas do quadradinho. "Minha busca pela música também é para desbloquear mentes e desbloquear essa nossa vontade mesmo de realizar nossos sonhos. Mostrar pra cidade que é possível a gente poder viver disso", diz.

Como foi sonhando que chegou até aqui, Hodari permite se expressar, mais uma grande conquista em relação à própria cidade. "Eu quero estar em um palco lotado cantando as minhas músicas, com toda a galera cantando junto, no Mané Garrincha, na minha cidade", diz o cantor que, se depender do próprio ímpeto e capacidade de realizar sonhos, já considera isso uma premonição.

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