Paulinho da Viola pertence à geração de ouro da música popular brasileira, aquela que surgiu em meio aos festivais que se espalharam pelo país, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, na segunda metade da década de 1960. Ele teve como contemporâneos, entre outros, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Edu Lobo.
Filho do violonista Benedicto César Faria, que integrou o regional de choro Época de Ouro, criado por Jacob do Bandolim, Paulinho iniciou a carreira bem jovem, ao participar do grupo que acompanhava Aracy Cortez e Clementina de Jesus no espetáculo Rosa de Ouro, criado e dirigido pelo poeta Hermínio Bello de Carvalho.
Oficialmente, porém, A Voz do Morro foi o primeiro grupo do qual fez parte. A convite do primo Oscar Bigode, passou a integrar a Portela, escola de samba de Madureira, onde, mais tarde, iria criar a Velha Guarda, formada por expoentes da agremiação. É de Paulinho Foi um rio que passou em minha vida, que se transformou num hino de louvor à instituição ícone do carnaval carioca.
Em mais de 50 anos de trajetória artística, 22 discos lançados — o mais recente é Sempre se pode sonhar, de 2020 —, o compositor e cantor foi o vencedor do festival promovido pela TV Record em 1969, com Sinal fechado, quando o Brasil vivia sob o jugo da ditadura militar. Trecho da canção dizia: "Quando você telefona?/ Precisamos nos ver por aí/ Pra semana prometo/Talvez vejamos, quem sabe...".
Ao longo da carreira, o sambista tem vindo a Brasília com alguma frequência. Dia 25 próximo. ele volta a bordo da extensa turnê do show comemorativo dos 80 anos. A apresentação vai ocorrer no auditório máster do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Naquele palco, ele já esteve outras vezes — inclusive ao lado de Marisa Monte.
Aberto por Samba original, uma composição inédita, o repertório reúne clássicos como Eu canto samba Onde a dor não tem razão, Coisas do mundo, minha nega, Passado de glória, Acontece, Dança da solidão, Argumento, Timoneiro, Coração leviano e, claro, Foi um rio que passou em minha vida.
Em sua companhia no palco, Paulinho tem parceria de músicos com os quais tem atuado há mais de 30 anos: Adriano Souza (piano), Mário Séve (sipros), Dininho Silva (baixo), Ricardo Costa (bateria), Celsinho e Esguleba (percussão), além dos filhos João Rabello (violão) e Beatriz Faria (backing vocal).
Em entrevista ao Correio, falando de João Pessoa (PB), Paulinho discorreu sobre assuntos diversos, mas com foco maior no atual momento, que o tem levado a várias cidades brasileiras, para celebrar no palco os 80 anos de vida — completados em 2022.
O que representa para você a chegada dos 80 anos?
Completei 80 anos em novembro de 2022. Cheguei a essa idade sem trauma.É com naturalidade que vejo a passagem do tempo.
Chegou a celebrar a data?
Fiz shows com meu filho João Faria e minha filha Beatriz Faria. Com minha banda, realizei uma turnê, a partir de apresentações na Vivo Rio, casa de espetáculo localizada na área do Museu de Arte Moderna; e na Marina da Glória. Em ambas, reuni grandes plateias. Outro grande show foi no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Fiz apresentações também em capitais do Sul e do Nordeste.
Esses shows lhe permitiram revisitar sua obra?
No repertório, obviamente, não faltaram os sambas que se tornaram marcantes em meu trabalho. Como, felizmente, são muitos, pude alternar a lista. Mas não deixei de fora aqueles que as pessoas sempre querem ouvir.
Costuma homenagear sambistas de sua geração?
Neste show, canto composições de Zé Keti, Candeia e Sérgio Natureza, de quem sou parceiro.
Autor do clássico Choro Negro, ainda mantém o set instrumental em suas apresentações?
Não abro mão disso. O choro faz parte da minha vida. Aprendi com meu pai, César Faria, que era violonista do Época de Ouro, grupo criado por Jacob do Bandolim.
Tem alguma composição inédita?
Cantei algumas músicas novas que fiz numa live, mas ainda não gravei.
Há cobrança dos fãs por algo novo?
Sim, recebo sempre solicitações neste sentido.
Como vê a música feita no Brasil atualmente?
Está muito difícil acompanhar tudo o que está sendo feito, nos mais diversos segmentos e até mesmo na área do samba. Com as novas possibilidades oferecidas pela internet, qualquer pessoa pode gravar algo e inserir nas plataformas digitais. Tenho dificuldade de me inserir nesses formatos digitais.
O que trará para o brasiliense no show do dia 25 próximo?
Vou levar a Brasília basicamente o show com o qual tenho comemorado os meus 80 anos, acompanhado por minha banda. Não vão faltar os sambas que quem acompanha minha carreira gosta de ouvir.
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