Cinema

As Marvels estreia com pouca expectativa e muita ação

Dirigido por Nia DaCosta, primeira diretora negra a assinar um filme do universo Marvel, o longa conta a história de três heroínas que se unem para proteger uma civilização

 Teyonah Parris é a poderosa Monica Rambeau, no filme da Marvel -  (crédito: Courtesy of Marvel Studios)
Teyonah Parris é a poderosa Monica Rambeau, no filme da Marvel - (crédito: Courtesy of Marvel Studios)
postado em 09/11/2023 10:22 / atualizado em 09/11/2023 15:24

Um emaranhado de situações que resultam tanto na união de três heroínas quanto num inspirado lado cômico para a 33ª aventura do universo da Marvel a estrear nos cinemas — os predicados são de As Marvels, filme que chega à telona hoje, sem muito estrondo. O que é bastante curioso, dado que as personagens alinhadas no cartaz — Capitã Marvel, Ms. Marvel e Fóton — têm poderes todos relacionados à energia. Com roteiro a cargo de Megan McDonnell (da série WandaVision) e Elissa Karasik (Loki), o novo longa ainda traz no enredo a assinatura da diretora Nia DaCosta, catapultada pelo sucesso do terror A lenda de Candyman, de 2021.

Nia, que acabou de fazer aniversário, ontem, e tem 34 anos, desde já, fez história: é a mais jovem e a primeira cineasta negra a conduzir um filme da Marvel. Mas, pelo que aponta a prestigiosa Variety, em meio à greve de atores (terreno que dificulta a divulgação de qualquer filme), Nia comandou um longa orçado em US$ 250 milhões e pode amargar derrota, já que há previsão de pífios lucros no mercado interno, com projeção de retorno (no primeiro fim de semana) de apenas US$ 80 milhões.

Outro dado que prejudica o longa é a recepção apenas mediana entre um público-teste. Além da necessidade adicional de quatro semanas de refilmagem, o título ainda enfrentou uma dose de indiferença do todo-poderoso Kevin Feige, comumente, atento aos detalhes de cada produção. Há ainda, na imprensa estrangeira, quem questione o interesse de Nia DaCosta, que, segundo consta, partiu sem demora para os preparativos de Hedda, longa que comanda, tendo Tessa Thompson como protagonista. Thompson, por sinal, aparece no trailer de As Marvels, na pele de Valquíria, vista em Thor, amor e trovão (2022).

O filme que chega aos cinemas tem prevista a maior exploração da personalidade da Capitã Marvel (a vencedora do Oscar por O quarto de Jack, Brie Larson). A capitã, que tem voo vigoroso e possibilidade de metamorfose, além de não envelhecer, atende (na vida civil) por Carol Denvers. Além de ter tido um longa em 2019, ela teve aparições em Vingadores: Ultimato e Shang-Chi. Na aventura que envolve o destino do Império Kree e a liderança daquele povo, na representação da Aniquiladora (a inglesa Zawe Ashton).

Dosar "por tentativa e erro" a quantidade de dados a serem trabalhados no filme foi um desafio da diretora, segundo adiantou a publicação Total Film. Fato é que, pelas alianças de Capitã Marvel, com Fóton e a personagem de Iman Vellani, entram em jogo muitas situações desenvolvidas em Ms. Marvel, na qual uma declarada fã da Capitã Marvel age tendo ainda o apoio de uma pulseira ligada à tradição de super-poderes e à série WandaVision, que tem a participação crucial de Monica Rambeau, a astronauta da entidade S.A.B.E.R. Fundamental dizer que duas cenas pós-crédito incrementam a narrativa do novo filme.

A tia de todos


Premiado pela crítica, pelo roteiro e, entre outros destaques (como uma menção honrosa para a atriz Vera Valdez), o drama cômico Tia Virgínia, de Fábio Meira, chega aos cinemas, depois de uma ótima recepção no Cine Brasília, onde foi apresentado, na semana passada. "Foi uma enorme emoção, o cinema lotado e foi aplaudindo em cena aberta. Ficamos felizes, foi incrível", conta a atriz Louise Cardoso, premiada no LABRFF 2023, como melhor atriz coadjuvante, ao lado da parceira de cena Vera Holtz (confira entrevista), melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado. "Todos as personagens têm várias camadas. Eu me realizo com personagens diferentes. Valquíria (irmã da protagonista vivida por Vera Holtz e da personagem de Arlete Salles) não tem um lado só. Pode ser autoritária, se achar a dona da verdade, invadir o espaço do outro, mas ama a família dela, o filho, as irmãs... Quanto à falta de compaixão, existem personagens assim; existem mulheres assim, e não podem ser ignoradas; devem ser mostradas, discutidas, até para que haja uma transformação. No filme, a sororidade ficou para as novas gerações, na figura da sobrinha, por exemplo", adianta Louise Cardoso.

 

Entrevista // Vera Holtz, atriz

Como evoluiu a questão do etarismo e os cuidados com a terceira idade?

No filme, há a questão de quem será a cuidadora. Irmãs estipulam quem estará direto com a mãe de 90 anos. O cuidado, na tradição brasileira cabia à mais nova, depois, à desquitada, divorciada, ou "largada", como na terminologia antiga. Era outro tipo de relação familiar. Lá em casa, com minhas verdadeiras irmãs, vivemos cuidado da longevidade. Sempre houve harmonia com o envelhecer — a gente amava o velho, e as tias. Gostava do amor que vinha delas. Etarismo é preconceito por qualquer idade. Acho que o caminhar na vida é matemático: há multiplicações, somas, divisões e subtrações. Quanto à liberdade, se perde em corpo, com a demanda de maiores cuidados, mas não é algo necessariamente limitante. Há história, transbordamento de vida. Se ganha, na imaginação, há a consciência crítica, com maior liberdade nas visões de mundo e ainda o domínio das narrativas contemporâneas.

Como foi o recente trabalho em documentário, que, aliás, está no streaming?

Fiz As quatro irmãs, com o diretor Evaldo Mocarzel, foi sensacional, produzi este documentário ficcional, que ele não queria que tivesse ares domésticos, e ficou com patamar mais elaborado. Mostra minha trajetória, em lugares como Tatuí, Pereiras e Mongaguá, este, no litoral sul de São Paulo, onde temos uma propriedade desde os anos de 1950. Sempre fomos unidas na harmonia e no afeto. A número 1 cuidava da número 3; a três da dois... (risos).

Como vê a evolução da carreira, iniciada tarde no audiovisual?

Antes dos 70 anos, tive o contato com a pandemia, e pensei: "Vamos para o paraíso, tô com a mão na maçaneta" (risos). Vieram os novos caminhos na estrada. Houve a volta para o trabalho e a convivência. Trabalho, aliás, é libertário. Passei a revisitá-lo, de uma nova forma. Quanto ao público, tenho muito respeito pelo olhar do outro. Te querem bem traz amor, dá à relação um tipo de contato que nada tem a ver com poder. Estreei "protegidíssima", no audiovisual, na novela Que rei sou eu?, com o Jorge Fernando e Antônio Abujamra. Uso da teoria: vejo no outro o que tenho em mim. Daí fico em dúvida sobre o que veem em mim. Há quem se lembre (e tenha o afeto) pelos personagens dos trabalhos mais recentes e outro grupo sempre comenta da ligação com o meu uso das redes sociais. Trabalhei muito, recentemente, com o curta-metragem Baile de máscaras, e ainda as peças Ficções e Voz de vó, isso além dos longas-metragens.

Que mulheres foram importantes na tua formação?

A diretora e professora Miriam Muniz — ela era inédita (risos). A Bibi Ferreira, que me dirigiu muitas vezes ao lado da Suely Franco. E, numa referência, a Dulcina de Moraes, a quem fui apresentada pela Suely — a Dulcina que era uma inspiração para a Marília Pera!

Blanche DuBois (do clássico de Tennessee Williams) foi uma inspiração? Como vê o apego da Virgínia com a juventude?

Ela tem muitas sensações na vida dela. E, por exemplo, o vestido de formatura, muito citado, traz momentos de grande emoção na vida dela. Ela tem a impressão de que foi a última vez na qual experimentou da felicidade. No fundo, ela passa um tempo orquestrando aquela noite de Natal representada, e que chega com muita carga de suspense.

Cinematografias fortes

A volta pelo cinema francês contemporâneo, em 19 filmes, está em cartaz com a entrada de mais uma edição do Festival Varilux, por três cinemas da cidade: Cinemark Pier 21, Cine Cultura (Liberty Mall) e Espaço Itaú de Cinema (CasaPark). Até 22 de novembro, serão apresentados longas como O desafio de Marguerite, que teve sessão especial no Festival de Cannes, foi dirigido por Anna Novian, e estrelado por Ella Rumpf e o veterano Jean-Pierre Darroussin, contando do recomeço na trajetória de uma exímia exploradora do universo da matemática.

Além de títulos conduzidos por renomados artistas como Emmanuel Mouret, André Téchiné e Alice Winocour, o evento presta reverência a Brigitte Bardot, com exibição de E Deus criou a mulher (clássico de Roger Vadim, de 1956) em torno de uma ciranda amorosa motivada por esplendorosa moça e ainda O desprezo, de Jean-Luc Godard, feito há 60 anos, e que, centrado em um escritor e roteirista, mostra a instável relação dele com a esposa.

Dois filmes assinados por mulheres merecem especial atenção: Anatomia de uma queda (de Justine Triet), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, e Culpa e desejo, também derivado da competitiva de Cannes, e que, assinado por Catherine Breillat e estrelado por Léa Drucker, explora os limites da sexualidade de uma advogada. Anatomia de uma queda examina o perscurso de uma escritora alemã acusada do assassinato do próprio marido.

Tanto em edição virtual (em: https://festivalcinemaitaliano.com/) quanto em versão presencial (no CCBB, e mais adiante, no Cine Brasília), o Festival do Cinema Italiano no Brasil trará 32 longas-metragens, entre filmes contemporâneos e retrospectiva que cerca a Comedia à italiana, florescido nos anos de 1960. Hoje, às 19h, Ainda temos o amanhã será mostrado, no CCBB. A fita, de Paola Cortellesi, se concentra no período pós-guerra dos anos de 1940, no qual uma mulher questiona seu espaço dentro de família aparentemente feliz.

 

 

  • Atrizes do filme Tia Virginia
    Atrizes do filme Tia Virginia Foto: Primeiro Plano/ Divulgação
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