Tem quem dê o braço a torcer, mas é inegável que Brasília, há anos, é referência nacional quando o assunto é hip hop. Casa de nomes como Câmbio Negro, Pacificadores, Cirurgia Moral, Tribo da Periferia, Hungria Hip Hop e Flora Matos, a cidade fortalece dia após dia os laços íntimos com essa cultura urbana, que não se manifesta só pela música, mas também por meio da dança e do graffiti. Essa faceta da arte brasiliense, entretanto, é muitas vezes deixada de lado das políticas públicas culturais, fato que motivou o deputado distrital Max Maciel (PSol) a instituir no calendário candango a Semana Distrital do Hip Hop. A celebração inédita se iniciou na segunda (6/11) e dura até sexta (10/11) com programação gratuita que traz atrações musicais, exposições, mostra de filmes, feira e debates.
A festividade se iniciou na segunda (6/11), com a abertura da exposição Linha do tempo 50 anos do hip hop, no hall de entrada da Câmara Legislativa, ressaltando a trajetória desse movimento no Brasil e no mundo. Também ocorreram as primeiras sessões do Cine Rap, mostra diária de filmes temáticos realizada no auditório da CLDF até o encerramento da celebração. Por fim, foi marcada a solenidade de lançamento da Frente Parlamentar em Defesa do Hip Hop como Patrimônio Cultural Popular.
Na segunda-feira (6/11), a programação se deu com a exibição dos filmes Marco zero do hip hop (Pedro Gomes) e Faz seu corre (Ricardo Palito). Depois, às 18h, aconteceu uma mesa de debate sobre a potência feminina dentro do movimento, seguida por apresentação de slam e de DJ.
Nesta quarta-feira (8/11), o Cine Rap exibe, a partir das 12h, os filmes Intervenção urbana: Baixada vive (Chyara Gomes) e Rivas vida hip hop (Claudio Chandelle). Rivas, o rapper, b-boy e grafiteiro candango tema desse último documentário, também brilha mais tarde nas solenidades, com a inauguração da exposição de graffiti no foyer do plenário, às 19h. "Para mim, isso significa representatividade e resistência, porque é uma arte nascida nas ruas e que, por muito tempo, foi criminalizada, mas hoje ocupa espaços que lhe são devidos, como patrimônio cultural imaterial do DF", destaca o artista.
Na quinta-feira (9/11) é a vez do filme Slam: voz de levante (Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D'Alva), exibido no auditório às 12h. No resto do dia, acontecem apresentações que vão de discotecagem a batalhas de MCs. Por fim, na sexta, no mesmo horário das outras sessões, o Cine Rap exibe o documentário 7º Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop (Isa Hansen Katupyry, Lisa Boersma, Letícia França Negalê e Thaís Medusa). A partir das 17h30, para fechar semana de celebração, haverá apresentações de DJ, break e declamação de poesia marginal, seguidas por uma sessão solene de homenagem aos fazedores de hip hop do DF e por um baile de encerramento, que se estende até as 22h, na Praça do Servidor.
Representatividade em pauta
Para o artista multifacetado Rivas, ex-integrante do grupo Álibi e também conhecido como Kabala, lutar pela preservação desse movimento é também lutar pelas vivências periféricas. “O hip hop sempre salvou e vai continuar salvando vidas, em toda e qualquer periferia, também nas do DF”, aponta. “Isso foi muito testemunhado por todos os representantes da cultura hip hop no lançamento do Edital Prêmio Cultura Viva Construção Nacional do Hip-Hop”.
Esse edital, cujo lançamento se deu no Beijódromo, na Universidade de Brasília, no fim de outubro, surge por esforços do Ministério da Cultura em defesa do fomento e da valorização do movimento hip hop. Serão investidos R$ 6 milhões em mais de 300 iniciativas artísticas relacionadas a essas vivências. "Com certeza a cultura é esse viés que pode fazer a transformação nos lugares mais difíceis", ressaltou a chefe da pasta Margareth Menezes na ocasião.
Em consonância com os esforços federais, a lei distrital nº 7.274, de autoria de Max Maciel, além de instituir a semana de celebrações, também torna o movimento hip hop patrimônio cultural imaterial do DF. Essas iniciativas têm como objetivo trazer essa cultura para a dentro da institucionalidade, para que seja possível discutir e fomentar tais manifestações artísticas sem os estigmas que as perseguem normalmente.
Entrevista // Max Maciel (PSol)
Qual a importância do hip hop para a periferia da capital?
A cultura pode ser transformadora na vida de uma pessoa, porque ela amplia o seu campo de visão e a faz compreender o mundo de uma maneira mais crítica. Faz com que ela olhe para a sua realidade a partir de uma outra perspectiva e pode ser a chave que a faça abrir novas portas. A arte liberta, e com a cultura hip hop não é diferente.
O que o hip hop proporcionou pra você?
Foi nas letras do GOG e X Câmbio Negro que expandi a consciência e passei a entender a realidade que eu vivia e compreender a origem de Ceilândia, cidade fruto de uma erradicação de invasões, na qual eu nasci, me criei e constitui minha família. Foi no hip hop que comecei a minha militância e tive a oportunidade de cantar rap. A cultura hip hop foi fundamental para a minha formação.
Por que aliar o cinema a essa celebração do hip hop?
Ceilândia, além de ser a maior região do DF, também é referência na cultura urbana e na produção audiovisual. Os filmes do cineasta ceilandense Adirley Queirós são premiados no Brasil e no mundo. O diretor tem o curta Rap, o canto da ceilândia e é com ele que vamos abrir a programação do Cine Rap.
Quais são os próximos passos da luta em defesa da cultura hip hop?
Além da nossa lei que declara o hip hop como patrimônio cultural imaterial do DF e a própria semana distrital do hip hop, também lançamos, juntamente com integrantes do movimento hip hop e a Secretaria de Cultura do DF, dois editais: um que premiou as batalhas de rima do DF e entorno e outro que reconheceu agentes culturais ligados ao movimento hip hop do DF. Também há previsão para a SECEC lançar um edital específico para o graffiti.
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