Professor de física, matemática e geometria, aposentado pela Secretaria de Educação, desde 2013, Jorge Amancio dedica-se integralmente à poesia. "A arte e a ciência possuem fronteiras tênues. O surgimento da ciência, bem como descobertas, invenções, vem da contemplação. Teoria, em grego, significa estado de contemplação — hoje, a capacidade abstrata está cada vez mais presente, tanto nas artes como nas ciências", observa. Independente da lida com as formas fixas e o "exercício do artesanal onírico" ou racional científico, Jorge Amancio produz: nesta quarta-feira (89/11) tem lançamento do livro O leopardo que mata moscas inoportunas, no Beirute, às 19h.
O livro chega às prateleiras depois de Nós outrxs, Negrojorgen e Batom d'amor e morte, mas numa linha mais concisa, segue uma trilha do recente Haikus em preto e branco. Haikus, vale a lembrança, encerra poemas de origem japonesa, objetivos e comumente de três versos. Econômico na linguagem, o livro aposta em orikis. "O oriki, trazido da África por sacerdotes, griôs e outros escravizados, foi eternizado através da oralidade, cantado até hoje nos terreiros de candomblé e umbanda. O oriki é uma das mais belas expressões poéticas ioruba, referem-se, no contexto religioso, a alusões, louvações, epítetos e atribuições dos orixás e nos permite melhor compreender sua natureza mítica, segundo o sociólogo e historiador Carlos Eugenio Marcondes Moura", explica o autor.
Sem ser frequentador do circuito de terreiros da cidade, conta que a mãe biológica, Dina Santos Amancio, foi zeladora de terreiro e mãe de santo (na umbanda). Nisso, pesam ainda observações do carioca, que chegou à capital em 1976, com engajamento no Centro de Estudos Afro Brasileiro. "Acho que o movimento negro tem conseguido muitas conquistas graças à semente plantada nos anos anteriores, e acredito que, degrau a degrau, vamos chegar aonde deveríamos estar, com representações em todas as áreas socioeconômica e politica, nesse país ainda viciado no colonialismo", comenta o autor.
Vendo a poesia como "arte de valor imensurável", Jorge Amancio enfatiza que o processo de criação literária traz aprendizado a partir de pesquisas. Claro que, entre inúmeras ferramentas, acessadas pelo escritor, há bagagem reservada aos leitores no acesso de culturas diferenciadas. "Um dos objetivos da literatura é ampliar o pensamento, abrir novas janelas para o grande público, estendendo o campo intelectual. Um bom leitor também vai atrás das ideias novas, do desconhecido através da pesquisa, leitura e dedicação", conclui.
Serviço
O leopardo que mata moscas inoportunas
Da editora Aldeia das palavras. Nesta quarta-feira (8/11), no Beirute (109 Sul). Livro de poemas (orikis), de Jorge Amancio, com recriação e uso de elementos da tradição iorubá, com aposta afro-futurista.
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