Música

Após hiato de quatro anos, Jaloo retorna com novo álbum Mau

No novo trabalho, cantora abraça uma nova fase, as mudanças e a difícil busca do amor

O movimento natural de mudanças para alguns é brusco e assustador, mas a verdade é que é natural do viver. A cantora Jaloo se viu nesse movimento de se perder e se encontrou no amor. Desse amor surgiu o disco Mau, terceiro trabalho de estúdio, o primeiro da cantora em quatro anos. Ela apresentou as músicas novas no festival Sangue Novo em Salvador, também em um retorno, dessa vez, aos palcos.

Em 10 faixas a cantora fala sobre si mesma, destrincha situações muito pessoais, e faz um álbum com a própria cara. "Nesse disco, eu me dei a liberdade de tocar em lugares mais delicados, até ousados", acredita a cantora, que também abraçou os cabelos longos e o pronome feminino no que pode ser considerado uma nova era, tanto na vida quanto na música.

Contudo, Mau ainda tem ritmo de pista de dança. As músicas apostam nessa mistura de intimidade e o som que vibra. "A gente usa de artifícios para seduzir e um dos meus é botar a galera para dançar", conta Jaloo. Ela acredita que se expôs, mas que o público pode não entender por conta do caráter dançante. "É me expor, mas, ao mesmo tempo, mascarando essas coisas. Não deixar tão claro por meio da dança, talvez", complementa.

A cantora trata a exposição como parte do processo para voltar a público. Nas redes sociais, não posta mais fotos de silhuetas, mostra a cara lavada. Jaloo quer que o público a veja por inteiro. "Eu acho que a gente se liberta quando a gente tira de dentro da gente algumas coisas. Esse disco, a imagética dele, ele como um todo, é muito sobre fazer as pazes com a nossa sombra", reflete. "Esse disco sou eu agarrando um demônio, ele faz parte de mim. É uma coisa que eu também gosto. Então, quando a gente finge que a sombra não existe, acho que ela cresce mais ainda dentro da gente", acrescenta. "Quando coloco essas coisas para fora trato da minha vulnerabilidade do meu lugar vergonha, de medo, de ansiedade. Fazer as pazes com isso tudo é importante", finaliza.

Jaloo acredita que, após a pausa e com o lançamento do novo disco, é a chance dela de sair de uma zona confortável como artista. "Artisticamente, eu acho que eu acabei criando uma prisão pra mim muito a ver com a forma com que as pessoas me pintavam", conta. A artista não tem mais medo de ser julgada como diferente. "Eu evitava muito mostrar os meus lados mais humanos. Não vou nem falar sombrios, vou falar humanos. E aí, nessa prisão,  acabei criando para mim mesma um lugar de negação dessa sombra, dessa parte mais humana", analisa. "Eu decidi que nesse disco eu ia fazer o que eu quisesse, acho que o inconsciente da gente age. Ele acaba se manifestando sem a gente perceber muito", conclui.

No álbum, ela trata de temas e tabus de forma explícita, não se esconde de falar sobre as próprias experiências sexuais e chega a um nível de exposição da intimidade ainda sem precedentes na própria trajetória. "Alguém tem que fazer isso para abrir o caminho. Talvez soe esquisito agora. Contudo, eu acredito muito que daqui a alguns anos, as pessoas vão achar normal esse trabalho que eu estou fazendo agora", projeta Jaloo.

Um novo amor

A jornada de Jaloo passa pelo amadurecimento. "Às vezes,  me sinto muito velha pensando na quantidade de tempo que eu estou fazendo o que faço", afirma. Os primeiros lançamentos da cantora já beiram os 10 anos. Por estar no circuito há tanto tempo, ela acredita que não tem as mesmas preocupações de alguém começando no mundo da música. "Nos primeiros discos, eu tinha medo de soar esquisita. Agora, não me importo muito. A falta de medo de soar estranha me mostrou um lugar maduro. Acho que quando a gente para de sentir medo a gente amadurece", destaca.

Atualmente, a intenção da cantora não é mais se consolidar, mas encontrar sentimentos distintos no próprio processo artístico e pessoal. "É incrível. É novo de novo. Eu sinto que estou vivendo uma nova puberdade. Isso é legal também", exalta. "Acho que eu vivi esse processo de libertação agora, nesse terceiro disco, onde eu tô celebrando e me amando por inteiro. Acho que eu voltei para o processo de auto-amor", confessa.

Do sentimento de amar que Jaloo quer colher os frutos de Mau, que, ao contrário do que o nome diz, é a busca por algo bom. "O amor já se manifestou de diversas formas na minha vida. Eu percebo a forma com a qual ele vai se manifestar agora vai ser bem diferente e eu ainda estou me abrindo para isso", explica a cantora, que crava: "Agora, eu quero encontrar esse novo amor".

 

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