Música

Guilherme Arantes faz show no domingo com a Orquestra Brasília Sinfônica

Guilherme Arantes apresenta show no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães com os grandes sucessos da carreira

Guilherme Arantes, um dos artistas de maior destaque do pop nacional, tem músicas gravadas por intérpretes consagrados da música popular brasileira como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Elis Regina, Maria Bethânia e Gal Costa. Visto como um hitmaker, ele possui canções em incontáveis trilhas de novela.

Várias fazem parte do imaginário de um número incontável de pessoas, entre as quais Amanhã, Cheia de charme, Deixa chover, Lindo balão azul, Meu mundo e nada mais, Pedacinhos e Um dia, um adeus. Possivelmente a música de maior sucesso do compositor paulistano seja Planeta água, com a qual levou a multidão presente ao Maracanãzinho, num festival, em 1981, acompanhá-lo num coro gigantesco.

De volta à capital, Guilherme revisita sua obra em show no domingo (29/10), às 21h, no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, acompanhado pela Orquestra Brasília Sinfônica, em 17 hits. Ao Correio, o compositor concedeu uma longa entrevista, na qual discorreu sobre sua trajetória musical, o processo criativo e a passagem pela Espanha, de onde voltou recentemente.

Serviço

Guilherme Arantes e Orquestra Brasília Sinfônica

Show domingo, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos à venda na rede de lojas Óticas Diniz, ao preço de R$ 90 a R$ 190. Informações: 98144-1514 e 98425-1147.

  

Entrevista//Guilherme Arantes

Que avaliação faz de sua trajetória artística de quase 50 anos?

Foi uma trajetória muito pessoal, feita na base de muito apreço, muito carinho pela música. A minha orientação era sempre de ser compositor, acima de qualquer circunstância. Então, acho que eu consegui consolidar isso. Em 50 anos, vivi um pouco de tudo...de momentos de maior popularidade, de menos popularidade, mas uma certa constância de produção autoral. Isso me dá muito prazer e uma realização grande de um acervo bonito, que conseguiu atingir vários tipos de público, fazer cross over social de agradar várias camadas da sociedade. Ser um pouco um denominador comum em um Brasil tão diverso de perfis das pessoas.

Há momentos de sua carreira que considera mais relevantes?

Eu acho que em uma carreira todos os momentos são relevantes porque é uma trajetória. E como uma trajetória estelar, os periélios e ou afélios, existem os longos percursos também. E tudo parece mais morno. Mas eu acho que a trajetória é uma coisa muito orgânica. Dentro da física poderia explicar dessa maneira, que é construída também das calmarias, dos momentos de reestruturação. Às vezes, a gente parece ter sumido, nem sempre o resultado, em termos de popularidade é o mais importante. Mas se for por relevância, por estar bastante presente, teve vários momentos. O momento do Planeta Água no festival foi um momento culminante de todo um processo do começo da minha carreira. A primeira fase da minha carreira culmina em 1981 com a apresentação no festival em que eu canto Planeta Água. Eu acho que ali é um momento de culminação. Outro momento, acho que foi o ano de 1988. A gente veio de uma sequência muito boa de lançamentos, com muita popularidade, uma aceitação grande e uma crítica qualificada. Foi o ano que eu fiz Um dia um adeus; e o ano seguinte também quando eu fiz Raça de heróis, Romances modernos. Então, ali eu acho que a gente conseguiu um certo pináculo em termos do pop, ou o que era possível fazer no pop dos anos 1980.

Como foi o período em que esteve radicado na Espanha?

Esse período da Espanha é um período de reavaliação também porque é muito bom você estar em um país em que não é conhecido, que não representa grandes coisas para as pessoas. Então, por um lado, não tem os pontos negativos da popularidade, mas também abre mão dos pontos positivos da popularidade, em termos de se tornar invisível. Então, passa a ser um cidadão comum, sem grandes predicados. Então, eu acho que os privilégios são muitos confortáveis, de um lado, fazem você não se mover muito em direção do desconhecido, e ser também uma pessoa invisível. Em termos de fama é muito prazeroso também porque você volta a ser um cidadão comum.

Qual é a sua visão da música brasileira atualmente?

A música brasileira tem uma diversidade muito grande. Ela veio se ramificando ao longo das décadas. Nós tivemos uma década de 1950 bastante aristocrática, de uma certa monocultura das elites. O disco era um produto de luxo para uma camada mais abastada da sociedade e isso foi se democratizando e os shows foram seguindo um caminho com uma popularidade. E ao longo dos anos vai se abrindo uma gama muito grande de possibilidades. Então, a música segue com muitas vanguardas colaterais que vão acontecendo e é preciso ter atenção porque nem sempre o mainstream está aberto para essa variedade de possibilidades. Existem muitas vanguardas. Então, essa multiplicação de possibilidade torna bastante difícil um raciocínio simplista em relação à música brasileira. Ela continua tendo grandes nomes, mas você não tem hegemonias tão claras em termos da música mais elitista. Houve uma hegemonia muito clara nos anos 1950, no começo dos 1960, no período da bossa nova, da MPB, mas a gente tem que ver que outras camadas da sociedade passaram a participar desse ambiente.

O que representa para você ser visto como um hitmaker?

Essa visão de ser ou não um hitmaker varia. Você pode ver que o Tom Jobim e o Chico Buarque e Jobim um dia foram hitmakers de grande qualidade. Nem sempre o hitmaker é uma coisa depreciativa. Você pode ter hitmakers internacionais, como o Elton Jonh, os Beatles. No Brasil, o termo hitmaker denominou um tipo de profissional especializado em fabricação em série do sucesso. Isso é uma coisa que nunca me agradou e achava que extrapolava essa função. Então, tende a querer ser pejorativa, mas acho que dá para conviver com essa ideia... As circunstâncias me fizeram ser um hitmaker durante um período.

Entre suas canções há as preferidas por você?

Das mais populares, eu diria: Deixa chover, Planeta água, Um dia um adeus, Coisas do Brasil. Mas existem músicas que são mais misteriosas como Um Deus Ateu e uma recente, Nossa imensidão.

Tem ideia de quantas músicas suas já fizeram parte de trilha de novela?

Eu tenho impressão que eu tive 29 em trilhas de novelas.

Ser chamado de Elton John da música brasileira lhe envaidece?

A questão do Elton John como referência é muito bacana porque ele é um grande compositor de clássicos, um grande cantor com uma voz privilegiada, um ídolo pop legítimo.

Está com algum projeto em andamento?

O meu projeto agora é voltar a ter uma boa presença como compositor de abastecimento de intérpretes. Estou com muitos convites para participar de discos como compositor e isso tem me dado muitas alegrias, como me deu no passado quando eu fiz música para Elis Regina, Maria Bethania, Fafá de Belém e Roberto Carlos. Toda essa minha presença como compositor é o cerne da minha carreira. Muito mais importante do que o pop star é eu me firmar como compositor da música brasileira. Agora estou com um projeto de várias encomendas que me dá muita alegria de saber que tenho essa importância para os colegas que estão buscando repertório.

Já havia se apresentado na companhia de uma orquestra sinfônica?

Sim, inclusive essa orquestra que vai tocar comigo em Brasília, já esteve junto comigo no palco várias vezes. É muito prazeroso o trabalho com orquestra.

Acho que vai ser um espetáculo bem bonito de levar esse lado mais orquestral do meu repertório.

Por conta disso, teve que fazer algum tipo de adaptação para o show?

A adaptação é feita pelo maestro sempre em função da formação que ele tem a disposição. A gente fica sob o comando do maestro. Eu tenho meus arranjos previamente estruturados por mim mesmo, mas a presença do maestro é fundamental porque ele traz o seu toque artístico no meu repertório. Então, a adaptação é feita mais pelo maestro. Sou eu quem me adapto ao trabalho do maestro.

Incluir Brasília no roteiro de suas turnês é importante e porque?

Voltar a Brasília é sempre um privilégio muito grande. É sempre uma emoção a gente estar inserido em um cenário que é o sonho do Brasil. Brasília faz parte da minha geração, talvez, como o de nenhuma outra. A nossa geração nasceu regida por esse empreendimento do sonho brasileiro.

 

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