Segundo o dito popular, pai é quem cria. Quem realmente conserva a Amazônia e garante que a floresta e os seus recursos estão sendo bem usufruídos são as pessoas que vivem nas áreas do bioma: indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu e outras comunidades tradicionais. O cineasta maranhense Neto Borges, com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), produziu nove documentários retratando as experiências e os depoimentos dessas populações, e, nesta quarta-feira (25/10), às 19h30, a mostra será lançada no Cine Brasília, com entrada gratuita.
Os filmes foram gravados no Maranhão, Mato Grosso e em Tocantins, territórios onde o ISPN, por meio do Fundo de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS), ampara mais de 50 projetos de promoção e apoio à iniciativas locais, além de ajudar na conservação dos territórios das populações locais. Para a produção dos documentários, foram escolhidos nove dos 56 projetos do instituto para receber maior alcance do público.
Rodrigo Noleto é coordenador do programa Amazônia do ISPN. De acordo com o dirigente, o instituto faz investimentos semelhantes à contratação do Neto Borges, com o intuito de apresentar os projetos a um público maior. “Nós queremos demonstrar para a população que não conhece a relação das comunidades com os seus territórios, e como elas ajudam a manter a floresta e até os nossos modos de vida”, explica Noleto.
“Essa iniciativa fortalece a luta dessas populações porque a gente não está inventando algo que vem de fora. Não é um projeto tecnológico inventado por alguma instituição, mas um projeto comunitário que está relacionado com a sua atividade produtiva diária, e esse recurso vem para apoiar as organizações, apoiar os modos de vida e as suas culturas”, detalha o coordenador.
Desde terça-feira (24/10), representantes de 56 organizações comunitárias participam do 3° Ecos da Amazônia, evento que resgata experiências e aprendizados do Fundo PPP-ECOS do Instituto Sociedade, População e Natureza. Eles estarão reunidos em Brasília até quinta-feira (26/10) para fazer o balanço geral das atividades e dar vazão às ações que combinam o uso sustentável da biodiversidade com o manejo da paisagem.
Neto Borges, diretor da série documental exibida no Cine Brasília, conhece bem a realidade retratada nos filmes. Natural de Carolina, município maranhense, Borges buscou um olhar que fugisse do superficial: “Eu sempre costumo olhar o modo de vida e o espaço, mas também o afetivo, que muitas vezes não transparece no dia a dia”, explica Neto. “A subjetividade tem que estar presente. Muitas vezes, a pessoa te leva para ver uma plantação e a roça, mas tem que entender que por trás disso tudo, existe uma relação próxima, íntima, que vai além da matéria.”
Segundo o cineasta, essa prática tem se tornado comum na sua carreira. Formado em História e em Cinema Antropológico, Neto Borges é fundador da produtora Olho Filmes, que realiza obras etnográficas e documentários. “O audiovisual nos permite fazer produtos com muita atenção, muito respeito, muita calma e estar sempre procurando o que está mais invisível.”
“Para mim, estar fazendo uma produção no meio dessas populações é como fazer uma geral no que tem de realmente amplo no país”, afirma o diretor." Nós saímos de uma bolha e começamos a ampliar o sentimento pelo país. A gente sempre chama de Brasil profundo, mas, na verdade, o Brasil não precisa ser tão profundo para ter esse contato, basta você sair da sua cidade e ficar um pouco com eles.”
*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco
Serviço
Lançamento da série: Quem conserva a Amazônia?
Quarta-feira, às 19h30 no Cine Brasília (EQS 106/107). Entrada franca.