Lisboa — Neto de português por parte de pai, o piauiense Pedro Gui, 12 anos, não abre mão das brincadeiras comuns a meninos da sua idade. Mas, na maior parte do tempo em que está livre, depois de fazer todos os deveres da escola, é na pintura que encontra a grande motivação de sua vida. E tudo começou há três anos, durante a pandemia do novo coronavírus. De rabiscos em rabiscos, o garoto foi transformando aqueles desenhos despretensiosos em obras que começaram a despertar a atenção, primeiro, de seus pais, depois, de familiares e amigos. Havia ali, naqueles traços perfeitos e nas combinações de cores, um diferencial. Um caso raro de paixão pelos pincéis e pelas telas.
Foi a mãe, Aline Fortes, que, particularmente, incentivou o filho a se dedicar à pintura. Na visão dela, não se podia desperdiçar um talento promissor. Ela começou a mostrar os quadros de Pedro para os conhecidos e os conhecidos dos conhecidos. A reação era sempre a mesma: de espanto. Muitos perguntavam como um menino conseguia ter tanta precisão nos desenhos. A fama do garoto foi se espalhando pelo Piauí e algumas celebridades locais se interessaram em comprar alguns quadros. Vieram as primeiras exposições, os contatos profissionais e o reconhecimento de quem entende de artes plásticas. Pedro Gui não perdeu tempo e se jogou na pintura.
Boa parte do trabalho do jovem pintor pode ser vista na exposição Riquezas em extinção, que está no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima, no Senado Federal, e vai até 26 de outubro. Pedro Gui se diz recompensado com a oportunidade de fazer a sua primeira mostra solo em Brasília. E já trabalha em outros projetos. As obras expostas, segundo ele, refletem toda a sua preocupação com o meio ambiente. “Quero, com meu trabalho, incentivar os jovens a preservarem o meio ambiente, sobretudo biomas como a Amazônia, a Mata Atlântica, a Caatinga”, afirma. “Também quero falar para as crianças que não tenham medo de investirem em coisas que gosta, de expressarem seu talento”, complementa.
Pedro Gui, que é representado em Nova York pela Saphira & Venture Gallery e pela Sociedade Internacional de Arte Contemporânea, acredita ser possível viver de arte no Brasil e vê espaço para artistas brasileiros no exterior. O menino, nomeado embaixador da Bienal da Amazônia, a ser realizada em 2025, em Belém do Pará, afirma que “quer pintar o mundo” com a arte dele. “A arte tem o poder de tocar as pessoas, despertar emoções e contribuir para a cultura e o enriquecimento da sociedade”, enfatiza ele, que se diz perseverante e determinado. “Meus sonhos são grandes e cheio de cores”, acrescenta. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Correio.
Quando surgiu o desejo de pintar?
Desde muito jovem, eu já tinha o gosto pelo desenho, mas o desejo de pintar em telas surgiu durante a pandemia do novo coronavírus, quando tudo ao nosso redor parou. Foi minha mãe quem me incentivou a transformar meus desenhos em pinturas, e foi aí que comecei a minha jornada na pintura, com apenas 8 anos de idade. Agora, estou completando três anos de carreira como artista plástico.
Em quem você se inspira?
Minha inspiração começou com Romero Brito, com quem tive a oportunidade de conversar no Programa do Bial no início da pandemia. Com o tempo, minha busca por inspiração me levou a explorar a história da arte e a me encantar com outros artistas notáveis, como Leonardo da Vinci e Van Gogh. No entanto, acredito que minha afinidade com a arte talvez esteja no sangue, transmitida por meu avô materno, que, infelizmente, não cheguei a conhecer. Ele tinha uma paixão por desenhar e expressar sua criatividade. Desenhava os amigos como forma de distração.
Há que atribui o sucesso que vem conquistando?
Atribuo a uma combinação de fatores. Acredito que o sucesso vem quando se é perseverante, determinado e quando se faz algo que verdadeiramente ama. O meu profundo amor pela arte e a minha determinação me impulsionaram a alcançar novos voos. Em três anos de jornada, nunca pensei em desistir, e pretendo levar a arte comigo ao longo de toda a minha vida.
Como a família vê a sua relação com a arte?
Minha mãe desempenhou um papel fundamental como minha maior incentivadora. Tanto a minha família materna quanto a paterna sentem muito orgulho do que faço. Além disso, tenho familiares em Portugal, que também expressam muito apoio e admiração pelo meu trabalho. Essa conexão e apoio da minha família são fontes de imensa felicidade para mim.
Houve apoio desde o início?
Sim. Desde o início, contei com o apoio fundamental da minha mãe. Mesmo quando muitos consideravam a arte apenas uma brincadeira infantil, ela esteve ao meu lado, sempre se preocupando em saber se a arte realmente me trazia felicidade, e, por isso, me incentivava a nunca desistir. Esse apoio foi valioso e motivador para minha jornada.
Você acredita ser possível viver de arte no Brasil?
Acredito que viver de arte no Brasil é um desafio, mas também uma possibilidade real. A arte tem o poder de tocar as pessoas, despertar emoções e contribuir para a cultura e o enriquecimento da sociedade. No entanto, o caminho pode ser complexo, pois envolve não apenas a criação artística, mas também promoção, venda e gestão da carreira. Minha jornada tem sido um constante aprendizado, e hoje sou muito bem orientado por pessoas que entendem de arte. Além disso, minha mãe batalha incansavelmente para que o Brasil valorize a arte, e o meu estado do Piauí sempre me apoiou. É importante buscar oportunidades, parcerias e redes de apoio. Além disso, a valorização da arte e da cultura brasileira é fundamental para que mais artistas tenham a chance de viver de sua arte. Acredito que, com dedicação, perseverança e um ambiente mais favorável à cultura, é possível, sim, viver de arte no Brasil. Hoje, tenho a honra de ser representado internacionalmente pela galeria Saphira & Ventura Gallery, em Nova York, o que amplia ainda mais as possibilidades para um artista brasileiro.
Quais os seus sonhos como artista plástico?
Como um jovem artista plástico do Piauí, meus sonhos são grandes e cheios de cores! Eu quero continuar pintando o mundo com a minha arte e compartilhando minha visão única. Sonho em ter minhas obras em galerias de arte famosas e espalhar mensagens importantes sobre a natureza e o meio ambiente. Também desejo inspirar outros jovens a explorar sua criatividade e expressar suas ideias através da arte. Quero que meu trabalho faça as pessoas sorrirem e refletirem. Então, meus sonhos são simplesmente continuar pintando e compartilhando amor e esperança por meio da minha arte.
Sonha e fazer carreira profissional?
Com certeza, sonho em fazer carreira internacional. Representar o Piauí e o Brasil em outros países. Hoje, além da Saphira & Ventura, sou representado pela Sociedade Internacional de Arte Contemporânea, em Nova York, e isso é uma honra para mim. Quero levar a beleza da minha cultura e da arte brasileira para o mundo, inspirando outros artistas e compartilhando minha paixão. Tenho muitos sonhos e planos, e trabalharei duro para alcançá-los e mostrar que a arte não tem fronteiras. O Piauí sempre estará no meu coração, e quero ser uma ponte cultural que conecta nossa terra ao resto do mundo.
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