Música

Em entrevista, Humberto Gessinger fala sobre novo disco solo

Humberto Gessinger fala sobre o lançamento do novo disco, 'Quatro cantos de um mundo redondo', processo criativo e Engenheiros do Hawaii

O Brasil teve uma grande geração do rock radiofônico dos anos 1980. Nesta época, o eixo Rio-São Paulo perdeu um pouco do protagonismo e deu espaço para grandes bandas de Brasília, mas um nome se sobressaiu em outro ponto do país. Engenheiros do Hawaii ganhou o público com rock, mas principalmente com as baladas. Desde o acústico lançado em 2015, a banda não mostrou mais nada para o público, mas Humberto Gessinger, vocalista e líder do grupo, carrega o legado em carreira solo. O novo capítulo é o álbum Quatro cantos de um mundo redondo, solo do artista que ficou conhecido como a voz do Engenheiros.

O artista aposta em um disco multifacetado. Há uma essência que lembra a banda que o fez famoso, mas também há experimentação e principalmente os frutos do amadurecimento de Gessinger como artista. Haja vista que o músico chega a 30 anos de carreira e tem a experiência necessária para entender como quer se apresentar para o mundo.

Apesar do título fazer uma brincadeira sobre espaço, Quatro cantos de um mundo redondo, o álbum fala mais sobre tempo. "O tempo faz parte da música, o tempo dos três minutos da música, os 30 segundos do solo, os dois anos da turnê, os 30 anos de carreira", explica Humberto, em entrevista ao Correio. O cantor afirma que a forma como enxerga o tempo mudou, inclusive na forma como trabalha. "A gente vive num mundo muito infantilizante, todos querem quer ser crianças a vida inteira, e esquecem de coisas positivas que é a maturidade, acho que escrevo melhor — escrevo menos positivamente, mas escrevo melhor — sou bem mais rigoroso comigo mesmo, e  acho que, do ponto de vista artístico, me coloco no mundo", reflete.

Humberto busca sempre acrescentar mais à própria carreira, nenhum trabalho é um ponto sem nó. O foco como artista é não se ver preso, seja como for. "Um risco que todo artista longevo corre é de ficar duas coisas, ou competindo com si mesmo, que é um absurdo, uma coisa esquizofrênica; ou então se repetindo", avalia. "Então tem que buscar acrescentar tijolinho nessa parede que vem sendo construída há muito tempo; mais que parede, eu chamaria de ponte", afirma o músico.

Contudo, o roqueiro não está virando as costas para o passado para se afirmar no presente. Ele está em busca de realmente construir um novo espaço, sem precisar destruir nada no caminho para que isso seja possível. "Quando eu falo de seguir adiante e tal, as pessoas, às vezes, acham que no fundo estou renegando os anos 1980. De maneira nenhuma, tenho maior orgulho de fazer parte dessa geração", destaca. "A minha geração da MPB é toda formada de artistas que são ótimos letristas e pessoas com um pensamento muito avançado no ponto de vista estético", exalta.

Após esses 30 anos, o cantor é muito grato ao trajeto que o trouxe até aqui. Ele atribui à música toda a mudança, que ele jamais imaginaria. "Eu sempre fui um cara muito tímido, sozinho, melancólico, desde a minha adolescência, e acho que eu quase não sairia de Porto Alegre, se a minha vida não fosse de músicas, eu não sou aquele cara que gosta de viajar, e é incrível que a música me deu ferramentas para chegar em lugares onde eu nunca chegaria como uma pessoa", confessa. "Só a música me levaria tão longe, e que me ensinou uma coisa, que de fato nós temos muito em comum, por mais distância que a gente esteja, culturalmente ou fisicamente, e na coisa de geração", completa.

Além do Engenheiros

O apreço que Humberto tem pela própria caminhada também diz respeito à banda Engenheiros do Hawaii, onde começou a carreira. O artista garante que a inatividade do Engenheiros não existe uma vez que ele apenas optou por não usar mais o nome. "(O nome) não fazia muita diferença, mas senti que rolou uma glamourização muito positiva para o meu trabalho, eu pensei que era só uma questão de nomenclatura, mas acho que foi ficando cada vez mais pessoal, e eu acho que esse é o objetivo da arte", comenta.

Para o músico, nada mudou. "O próprio Engenheiros teve 10 formações. Então, nesse sentido, não mudou muito, mas é mais uma coisa formal mesmo, uma coisa de ser uma grife. Não estou dizendo que todo mundo deva fazer isso, mas para mim, foi muito salutar, eu me sinto muito mais à vontade hoje", explica. "Acho que é mais fácil chegar direto naquelas pessoas que se interessam pelo seu som, o mundo está mais fragmentado, então, nesse sentido, me sinto mais em paz comigo mesmo", declara.

Aos fãs do trabalho dele com banda, Humberto faz questão de garantir que nada ficou para trás: "Continuo tocando várias canções, mas as vezes essa coisa de uma grife, fica uma coisa meio corporativa, pesada, e eu me sinto mais leve, mais livre hoje". Portanto, usar o próprio nome é apenas mais um passo para ser o Humberto Gessinger que ele sempre quis ser.

 


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