O Grupo Galpão tem uma história antiga com Bertold Brecht. O dramaturgo alemão esteve na origem da criação de um dos coletivos mais longevos do Brasil. O Galpão nasceu há 40 anos, de uma oficina que resultou na montagem de A alma boa de Setsuan. É, portanto, natural que o grupo comemore a data redonda com Brecht. Cabaré coragem, em cartaz hoje e amanhã no Cena Contemporânea 2023, é uma fusão de vários escritos do alemão, mas também de outros textos trazidos pelos atores.
Por conta da pandemia, o Galpão ficou um tempo sem investir em nova montagem. Passaram um tempo estudando as peças de Brecht, revisitando alguns textos com a intenção de criar algo que favorecesse a aproximação com o público. “A gente estava há muito tempo sem realizar uma nova montagem por causa da pandemia, teve um hiato grande entre a última montagem essa nova , e ficamos pensando que tipo de trabalho seria interessante. Era um momento de volta e estávamos pesquisando Brecht para entender o que estava acontecendo no mundo e no Brasil, com essa questão do fascismo”, conta Júlio Maciel, diretor de Cabaré coragem. “Brecht está sempre retornando à nossa história, então sentimos que era um momento bom para voltar a estudá-lo para entender o momento político.”
Ao pensar sobre as abordagens possíveis, a maneira de montar o espetáculo e o distanciamento do público causado pela pandemia, a companhia decidiu fazer um cabaré. A ideia é que o espetáculo fosse uma festa, com muito humor, mas também com muita crítica social. “Todo mundo aceitou essa ideia na mesma hora”, conta Júlio. O grupo começou então a estudar a história do cabaré, um tipo de casa de espetáculos muito popular no final do século 19, a chegada desse tipo de formato ao Brasil e o teatro de revista. “E Brecht está muito ligado ao cabaré, ele foi muito influenciado pelo cabaré também”, explica o diretor.
O espetáculo foi criado de maneira coletiva, a partir dos desejos individuais dos atores, que trouxeram textos, músicas e poemas para a dramaturgia e incorporaram suas próprias pesquisas. “O espetáculo é um grande cabaré”, avisa Júlio. “A gente fala muito do perigo do fascismo, do desequilíbrio social e econômico que existe na população, cada vez mais acentuado, da fome, da guerra.” No palco, os sete atores se revezam como se apresentassem pequenos esquetes, tudo comandado por uma madame que dirige o cabaré. Muita música e uma mini big band acompanham os atores.
Cabaré coragem
Com Grupo Galpão. Hoje e amanhã, às 20h, no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Trecho 2). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)