Existem vozes que são inconfundíveis, perpassam gerações e marcam a vida de milhares de pessoas, independentemente de gostos pessoais. Um dos nomes mais conhecidos do samba, o cantor Péricles é exemplo disso. Em atividade desde os anos 1980, o artista tem construído uma das carreiras mais estáveis e relevantes do samba, seja como parte do grupo de pagode Exaltasamba, ou como artista solo, atingindo, assim, os amantes do gênero e também aqueles que torcem o nariz para o estilo musical. As décadas de trabalho e reconhecimento são, hoje, incentivos para as reinvenções da carreira do músico, que lança o álbum Calendário.
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Tópico presente em todas as fases da trajetória profissional de Péricles, o amor continua sendo central no trabalho do artista, que canta sobre o sentimento universal ao longo das oito faixas presentes no lançamento. "Nos dias de hoje, nunca foi tão urgente falar de amor", declara Péricles. "Eu acho importantíssimo falar de amor. Tanto do amor bem-sucedido, quanto daquele amor que muita gente vive, que às vezes nem é tão bem-sucedido assim", afirma.
O amor, de fato, se fez presente em todas as esferas do novo projeto. A faixa que dá título ao álbum, por exemplo, é resultado de um trabalho em família — Calendário foi escrita por Péricles, o filho Lucas Morato e o sobrinho Clayson Leandro, trio que cresceu cercado pela música. "O fato de nós termos crescido em um ambiente musical ajudou na nossa formação como cidadãos. A música salvou a gente, porque nós, jovens negros da periferia, não tínhamos uma perspectiva, não tínhamos um herói para se espelhar. Meus heróis eram meu pai, minha mãe e meus avós, eu não tinha outros exemplos fora da minha família", ressalta o cantor.
Exemplo
Foi por meio do samba que o artista encontrou seus modelos pessoais de sucesso. "A música era onde nós tínhamos nossos exemplos de gente bem-sucedida. Essa foi a forma que nós procuramos fazer com que fôssemos, também, um exemplo para os outros que vinham, os primos, aqueles que se simpatizavam com as nossas ideias", explica. Ao lado do fiel escudeiro Thiaguinho, Péricles, durante os anos à frente do Exaltasamba, se tornou ídolo de diversos garotos que, assim como ele, sonhavam em viver do samba. Juntos, a dupla consagrou a banda como um dos maiores grupos do Brasil e abriu caminhos para diversos artistas de sucesso da nova geração.
Mesmo com a saída de ambos do conjunto musical, a parceria de quase 20 anos continua firme — Thiaguinho é responsável por uma das composições de Calendário, a faixa Essa não. "Se eu for sucinto, posso resumir que a receita do nosso sucesso juntos é o amor e o respeito", avalia. "O Thiaguinho fala de amor de uma maneira muito bacana e externou várias vezes que ele compõe pensando no que eu cantaria, e é por isso que essa parceria tem dado certo. Ele escreve e eu procuro interpretar da maneira que ele imaginou. Isso desde sempre, desde pelo menos 2003", complementa.
Atualmente, Péricles se vê mais no papel de intérprete do que de compositor, por isso busca, por meio de seus álbuns, dar oportunidades a novos talentos. "Eu peço para ouvir muitas músicas no processo de criação dos meus discos, assim abre-se espaço para novos compositores. Tem muita gente boa querendo mostrar seu trabalho e eu aproveito essa porta para chamar outros compositores", conta. Para Calendário, o cantor chegou a ouvir 800 composições. "Às vezes ficam músicas maravilhosas de fora e a gente aproveita em outros trabalhos, mas precisa ter essa seleção. A música tem que ter esse atrativo, chamar a atenção da gente primeiro e assim a gente vai saber se essa música vai agradar o nosso fã ou não", discorre.
Do samba ao rock
Apesar dos pés fincados no samba, Péricles nunca teve medo de explorar novos gêneros. "Na minha casa, a gente sempre ouviu música, seja ela qual for, nunca teve rótulo. Eu levo isso para o meu trabalho. Eu sou do samba, mas o trabalho que eu procuro desenvolver é o trabalho musical, quebrando barreiras, e fazendo com que todos nós, da música, sejamos um time só", expõe o músico. "A vida é feita de desafios. Em todas as colaborações que eu procurei fazer, os covers que eu fiz, eu não mexi muito na estrutura, porque a pessoa que ouve tem que se sentir identificada de alguma forma com a primeira versão, mas eu procuro sempre imprimir a minha maneira de ver, e o resultado tem sido muito legal", opina.
Foi a partir dessa mentalidade que surgiu a vontade do cantor de homenagear, por meio da música, a eterna rainha do rock Rita Lee — o paulista encerra Calendário com uma releitura do sucesso Desculpe o auê. "Eu tive o privilégio de conhecer a família de Rita e até mesmo de tocar com eles, então essa foi a minha forma de fazer essa homenagem, esse carinho no coração deles", conta. "Até tinham outras faixas que eu gostaria de ter gravado, mas, essa, particularmente, soa como um clássico da bossa nova e foi essa cara que eu tentei dar. Foi essa a imagem que eu queria que as pessoas guardassem a minha maneira de ver essa música", finaliza.
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