Perder-se e se encontrar, voar e cair, oito ou oitenta. Para Jorja Smith, nunca houve meio termo. A cantora britânica passou de anônima para uma estrela da música do Reino Unido em um piscar de olhos. Em 2016, a artista lançou os primeiros singles; em 2018, o álbum de estreia; e, em 2019, estava em turnê mundial, passando inclusive pelo Brasil no Lollapalooza em São Paulo, além de mais de 14 milhões de ouvintes mensais apenas no Spotify. Na última sexta, a cantora lançou o segundo disco da carreira, Falling or flying, fruto de um processo de amadurecimento e de consolidação de Jorja na música.
A cantora nasceu em Walsall, uma cidade pequena na região central da Inglaterra. Desde os 16 anos, compõe e canta. Ela se destacou pelo timbre de voz limpo e afinado e as melodias que conquistaram principalmente os jovens. Ela faz parte de uma nova geração da música britânica dos filhos da diáspora afrolatinocaribenha que incorporaram ritmos como o afrobeat, originário dos países africanos, principalmente falantes de inglês, e reggaeton, principalmente proveniente da América Central, com foco na Jamaica, para o pop e R&B.
Contudo, o que mais chama atenção no trabalho de Jorja Smith é a quantidade de emoção que ela consegue colocar nas músicas que canta e escreve. "Eu escrevo músicas baseadas no que sinto ou vejo, não tenho um discurso formado. Eu escrevo para tirar coisas que estão presas no meu peito e tenho a esperança de que isso pode ajudar as pessoas", afirma a cantora em entrevista ao Correio. "Eu não sei se tenho uma mensagem, tenho um sentimento. Uma melodia que faz sentir", complementa.
Esse sentimento traz consigo a intensidade da cantora. Jorja é de extremos, sente de forma maniqueísta. Por isso os nomes dos álbuns sempre são antíteses: o primeiro intitulado Lost & found, perdida e achada em tradução literal, o segundo Falling or flying, é traduzido para caindo ou voando no português. "Eu não costumo ter um meio termo, ou estou me sentindo ótima, ou péssima. Ou muito confiante, ou super insegura. Esse sentimento fica ainda maior quando eu lanço um álbum", confidencia Jorja, que escolheu o nome do disco em uma reflexão sobre a relação entre cair e voar. "O álbum se chama Falling of flying, porque foi dessa forma que me senti. Voar e cair são sensações muito parecidas e ao mesmo tempo muito diferentes", conta.
O novo álbum é diferente do primeiro, mais experimental, mais dançante e mais maduro. O trabalho chega a ser um paradoxo fora do plano das ideias, visto que é muito mais animado, mas foi criado em um momento muito mais calmo da vida de Smith. A cantora voltou para cidade natal e se juntou aos amigos para viver o processo. "Eu me diverti fazendo esse álbum. Nós conversamos, rimos, comemos comida boa. Eu cantei, toquei, chorei e ri. Foi um pouco de tudo", lembra a artista. O resultado acabou mostrando uma faceta distinta, mas tão real quanto qualquer outra da cantora. "No processo do fazer, voltei para quem eu era antes de me mudar para Londres. Esse processo foi sobre mim, sobre como trabalho e o que eu gosto", pontua.
A análise que fica é que podem ser várias justificativas. No entanto, Jorja está mais velha e com a idade vem uma forma diferente de enxergar o mundo. "Eu sinto que estou me tornando cada vez mais uma mulher. Eu tenho 26 anos. No meu álbum anterior, cantei músicas que escrevi entre os 16 e 18 anos", explica. "Eu, literalmente, cresci e amadureci olhando o meu público de frente. Sinto-me mais segura e tenho mais certeza. As músicas são mais sobre o que eu tenho passado do que algo que vi e decidi escrever, ou inventei", completa a artista, que se sente mais segura para criar, inventar e até colocar interlúdios entre as 16 faixas que compõem o complexo disco lançado. "Durante o distanciamento social da pandemia, percebi que não era mais uma artista revelação, eu já estava consolidada", finaliza.
Contudo, a nova visão de mundo não alterou os sonhos. "Espero muito que o que fiz em Lost & found, eu consiga repetir em Falling or flying, principalmente em fazer as pessoas sentirem, minhas músicas representarem algo para quem escuta", comenta Jorja que pretende alcançar cada vez mais ouvintes. "Tomara que a minha audiência cresça. Tanto no sentido daqueles que estavam desde o começo e cresceram comigo, quanto crescer em tamanho, mais pessoas entrando nessa", projeta. "Quero ver o que minha música faz com o público, o que ela faz na vida real", conclui.
Trajada de Brasil
Jorja Smith tem uma passagem pelo Brasil na carreira. Em 2019, no Lollapalooza em São Paulo, a cantora e sua banda subiram ao palco vestidos com a camiseta da seleção brasileira. "A gente tinha comprado as camisas e eu pilhei todo mundo para vestir", recorda. Ela tem o país com muito carinho. "Eu não consigo acreditar que eu só fui uma vez para o Brasil. O meu show no Lollapalooza em São Paulo foi um dos melhores que já fiz na minha vida", crava.
A cantora não é muito assídua nas redes sociais, mas conta que os amigos sempre perguntam porque tem tantos comentários de "come to Brazil", venha para o Brasil em tradução literal. E ela responde que é difícil entender, mas o Brasil tem uma energia diferente. "Eu ainda não acho que conquistei o Brasil na minha cabeça. Porém, o Brasil me conquistou. Tem algo de alma, tem muito amor, energia, um calor que fez tudo parecer muito mais real quando subi ao palco", tenta explicar.
Com os três shows de estreia do disco esgotados na Inglaterra, uma turnê está a poucos passos e o Brasil provavelmente deve figurar na rota. "Continuem com o Come to Brazil, que nós mal podemos esperar para voltar com um show meu", antecipa a voz de uma nova geração.