Música

Ivan Lins lança disco 'My heart speaks' e fala sobre carreira

Compositor carioca lança pelo selo Resonance Records, premiada editora de jazz independente dos EUA, o álbum My heart speaks

 Ivan Lins gravou o álbum My heart speaks, com a Orquestra Sinfônica de Tbilisi e vocais de Dianne Reeves e  Jane Monheit -  (crédito: Rodrigo Simas/Divulgação)
Ivan Lins gravou o álbum My heart speaks, com a Orquestra Sinfônica de Tbilisi e vocais de Dianne Reeves e Jane Monheit - (crédito: Rodrigo Simas/Divulgação)
postado em 24/10/2023 03:55 / atualizado em 24/10/2023 11:50

Um dos artistas brasileiros mais gravados no exterior, Ivan Lins tem composições em discos de expoentes do jazz como George Benson, Barbra Streisand, Sara Vaughan, Shirley Horn, Carmen McRae, Nancy Wilson e Peggy Lee. Quincy Jones, de quem é amigo, o ajudou a impulsionar a carreira do cantor nos Estados Unidos, na década de 1980.

A obra do cantor, compositor e pianista carioca conquistou muitos admiradores, entre espectadores dos shows que ele apresenta, com alguma frequência, na América do Norte, Europa e Ásia. Com carreira iniciada na década de 1970, viu sua música chegar ao grande público, quando Elis Regina gravou e transformou em clássico a canção Madalena. Depois disso, lançou 50 álbuns, alguns deles pelo Velas, selo que criou com o parceiro Vitor Martins.

Criador e intérprete de canções em que a questão social costuma aflorar nas letras, Ivan Lins emplacou uma delas, Os dias eram assim, como tema de abertura da super-série homônima, escrita por Angela Chaves e Alessanda Poggi, com direção de Walter Carvalho, que tinha como tema central os anos de chumbo, vividos pelo país nos anos 1970. O programa foi apresentado pela TV Globo entre 17 de abril a 18 de setembro de 2017.

O cantor lançou, recentemente, pela Resonance Records, premiada editora de jazz independente dos EUA, o álbum My Heart Speaks, no qual recria canções consagradas do seu repertório, com o acompanhamento pela Orquestra Sinfônica de Tibilisi, capital da República de Geórgia. O prolífico compositor e arranjador alemão Kuno Schmid escreveu as orquestrações.

My Heart Speakers conta com a participação de Randy Brecker, Diane Reeves, Jane Monnheit e Tawanda, vencedora do Concurso Internacional de Jazz Vocal Sara Vaughan. As notas de rodapé, que contém comentários extensos sobre o compositor brasileiro, foram escritas por James Gavin, premiado biógrafo de George Michael, Chet Baker e Lena Horne.

A voz grave de Ivan é ouvida em Renata Maria — um dos destaques do repertório — que ele compôs em parceria com Chico Buarque sobre uma deusa onírica que aparece na praia e enlouquece um homem. Corpos, com letra de Vitor Martins, data dos anos sombrios da ditadura militar, quando políticos estavam desaparecendo.

Jane Monheit, intérprete frequente das composições de Ivan Lins, e uma letrista talentosa, escreveu duas adaptações em inglês para o disco. The Heart Speaks foi gravada por Dianne Reeves. Monheit canta Rio, e Tawanda solta voz em I'm Not Alone (versão de Anjo de mim). A banda que acompanha o cantor tem em sua formação Josh Nelson (pianista de Los Angeles), o guitarrista uruguaio Leo Amuedo e o baixista cubano Carlitos Del Puerto, fundador do grupo latino Irakere.

George Klabin, fundador da Resonance Records, que tem no catálogo lançamentos de John Coltrane, Bill Evans, Stan Getz, Freddie Hubbard, Nat KIng Cole, Sarah Vaughan e Wes Montgomery, considera Ivan Lins tão grande compositor de música brasileira quanto Tom Jobim. "A jornada de criação desta obra prima permanecerá comigo como a experiência mais espiritual e amorosa que tive no campo da produção musical".


Entrevista// Ivan Lins

Que importância atribui ser reverenciado por ícones do jazz como Sarah Vaughan, Quincy Jones e George Benson?
É uma honra ser reverenciado por essas pessoas que são artistas muito talentosos, que escreveram suas histórias tão brilhantemente na música mundial. Fico contente com os elogios e a deferência.

Como avalia ser comparado a Tom Jobim por críticos musicais norte-americanos?
Ser comparado a Tom Jobim eu acho um pouco exagerado, mas é claro que fico contente.

O que o levou a esse hiato de uma década sem lançar um disco?
Não foram 10 anos, mas, sim, oito. Nesse período, fiz muitos shows e turnês pelo Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia e lancei o disco América Brasil, com o qual conquistei um Grammy Latino, na categoria pop.

Quanto tempo se dedicou a este novo projeto?
Entre o processo de criação e a gravação foram dois anos. Quando recebi o convite para fazer o disco, ainda estávamos no período da pandemia. Não podia viajar, shows foram cancelados. Usei whatsApp, telefonemas para me comunicar com as pessoas. Por isso, o processo demorou mais. Durou o tempo que deveria durar.

A seleção do repertório foi determinada por qual circunstância?
O fato de letras precisarem de versões em inglês foi determinante para a escolha das músicas pelo produtor norte-americano e pelo arranjador alemão. Mandei mais de 30 músicas e recomendei algumas inéditas, não inéditas, lados B, músicas que foram gravadas, mas que não se tornaram conhecidas. Foram escolhidas 11, de acordo com o gosto deles.

Quem fez a escolha do título?
Foi também o produtor que escolheu o título. Ele gostou muito de uma das músicas que recebeu letra em inglês e foi gravada por Diane Reeves. Aliás, My heart speaks é a minha proferida.

Vai fazer show ou turnê para lançar o álbum?
Vai ser difícil excursionar com uma orquestra sinfônica. Mas posso fazer shows e incluir no repertório canções do disco, embora sem a sonoridade original. Isso tanto no Brasil quanto no exterior.

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