MÚSICA

Ana Frango Elétrico lança novo disco marcado por ritmos dançantes

Ao Correio, Ana conta mais dos motivos por trás do disco 'Me chama de gato que eu sou sua' e as expectativas pelo próximos passos da carreira

Ana Frango Elétrico. -  (crédito: Hick Duarte/Divulgação)
Ana Frango Elétrico. - (crédito: Hick Duarte/Divulgação)
postado em 21/10/2023 12:30 / atualizado em 21/10/2023 12:30

Artista carioca cuja marca são a experimentação e a originalidade, Ana Frango Elétrico lançou o terceiro disco de uma respeitada discografia, na última sexta-feira (20/10). Me chama de gato que eu sou sua traz como temática as experiências da artista como pessoa não-binária, acompanhado por ritmos setentistas e oitentistas. “É o meu álbum mais pessoal até aqui”, diz.

Com carreira reconhecida internacionalmente graças aos discos Mormaço queima e Little electric chicken heart, Ana Frango Elétrico iniciou a divulgação desse novo trabalho com os singles Insista em mim e Electric fish, que trazem sintetizado o tom dançante e orquestrado do álbum, remetendo fortemente às características da música negra norte-americana.

Ao Correio, Ana Frango Elétrico, cujo vulgo surge inusitadamente de um trocadilho com sobrenome dela, Fainguelernt, conta mais sobre a construção do novo disco e as expectativas para a recepção dele ao redor do mundo.

Entrevista // Ana Frango Elétrico

Qual a história por trás da concepção desse novo disco?

Eu estava há 3 anos sem gravar algo meu – as últimas gravações foram os dois singles que produzi à distância, durante a pandemia, 'Mulher homem bicho' e 'Mama planta baby', além de ter produzido alguns álbuns de outros artistas, como Julia Branco e Bala Desejo. Cada vez mais tenho tido interesse em produção musical, e sinto que no meu trabalho autoral é onde eu tenho toda a liberdade de experimentação sonora. Então esse disco parte de um desejo de botar em prática esses pensamentos que eu vim nutrindo durante esse tempo. Esse álbum vem dessa vontade de estar em estúdio, trabalhando, produzindo… Tanto é que ele é o álbum que mais tem músicas de outras pessoas, dentro da minha discografia, o que tem a ver com isso, com essa vontade de produzir.

Como as suas vivências queer influenciaram na concepção do disco?

Eu sou uma pessoa não-binária e o álbum fala sobre minhas vivências, experiências, amores… E isso vai desde a escolha das canções até o título, passando pela identidade visual… É o meu álbum mais pessoal até aqui, onde eu me exponho mais, o que tem mais a ver com as coisas que eu ouço, vejo e reflito na minha intimidade. Acho que esse caráter queer do álbum vem sobretudo daí, de eu estar me mostrando como sou, à vontade.


De onde veio o ímpeto por um som mais ritmado e dançante?

Eu acho que vem do que eu escuto. É o disco que mais reflete o que eu escuto. Meus outros trabalhos tem a ver com outros processos: o 'Mormaço queima' eu penso como um anti-álbum, quase oposto ao groove, no sentido de que foi gravado sem clique, é todo torto… Já o 'LECH' é uma pesquisa sobre nostalgia, que não tem tanto a ver com groove, tem a ver com outras coisas.

Existe a intenção de furar a bolha alternativa independente com esse novo trabalho?

Confesso que nunca tive a intenção de estar dentro da bolha, por isso espero que seja um trabalho que se expanda sempre e cada vez mais.

Há algum tempo, você cativa cada vez mais olhares internacionais. Como você percebe isso? Existe uma intenção em expandir sua arte para o exterior?

Foi uma coisa muito natural, esse processo, que vem acontecendo desde o meu primeiro álbum, que foi lançado de maneira completamente independente e, mesmo assim, despertou o interesse de diversos blogs, DJs e ouvintes ao redor do mundo. Com o 'LECH' também, houve uma expansão orgânica, tanto o Anthony Fantano quanto o Gilles Peterson descobriram meu trabalho por acaso, e ele foi parar no Grammy. Cada vez mais eu penso na música brasileira como uma música do mundo, no mundo. O meu segundo álbum tem o nome em inglês, mas nenhuma faixa é em inglês. Já esse novo álbum, a gente tá lançando em parceria com o selo britânico Mr Bongo. No álbum novo, tem 2 canções em inglês: eu sinto que essas músicas são como iscas para o que não está traduzido no álbum.

Esse novo trabalho vem aliado a um projeto gráfico bem original e complementar à proposta musical. Como foi pensada essa parte?

A parte visual de todos os primeiros trabalhos foram feitos em parceria com o designer e artista plástico Caio Paiva, que infelizmente faleceu no início deste ano. Ele que iria fazer o projeto deste novo álbum também. Me vi meio órfã no sentido de precisar me reinventar graficamente e senti a necessidade de colocar em prática um lado meu que eu já havia trabalhado, mas estava meio parado – eu fiz a direção de arte do álbum do instrumentista Antonio Neves, 'A pegada agora é essa', e a capa do primeiro álbum de Bruno Berle, 'No reino dos afetos', é uma foto minha… Então, nesse novo álbum, pedi uma pintura de tigres para a ilustradora Fernanda Massotti e chamei a designer Maria Cau Levy para assinar o projeto gráfico, além de assinar eu mesmo a direção de arte. Tudo isso resultou numa visão de mim e de meu trabalho que me trouxe muita felicidade e que casaram muito com o álbum. Nos tempos de hoje eu visualizo cada vez mais a música como parte de um projeto estético total, então eu penso que um grande álbum precisa de um grande conceito estético e visual que o acompanhe.

Quais serão os próximos passos da sua carreira?

Já tô com vontade de gravar meu próximo álbum. Espero poder colaborar cada vez mais com artistas que eu admiro e estar mais próxima dessa parte gráfica e visual, seja no meu próprio trabalho, seja no de outros artistas.

Serviço

Me chama de gato que sou sua

Ana Frango Elétrico, pelo Selo Risco. Full-lenght composto por 10 faixas, com 32 minutos de duração no total. Disponível em todas as plataformas digitais.

*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori

 

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