Foi por meio do movimento que um grupo de danças urbanas conseguiu não só transmitir a própria realidade, mas fazer dela uma válvula de emancipação social. Nascida em Ceilândia, a Cia Have Dreams está consolidada como uma das referências na cena urbana no DF e no Brasil.
Em 14 de outubro, o grupo fundado pelo dançarino, coreógrafo e professor Rafael Nino ganhou a competição nacional de dança do Hip Hop District 2023, realizada em Jundiaí (SP). "Hoje, essa é a maior competição [de hip hop] da América Latina", afirma Nino. "Os melhores grupos do Brasil estão nela, e nós competimos com pessoas que são as nossas referências, que nos ajudaram a crescer."
A coreografia vencedora, A capital, foi idealizada pelo diretor e pela dançarina e professora do Have Dreams Studio Luísa Carvalho, que dirigiu o trabalho. A diretora explica que o processo de elaboração se iniciou a partir da definição do tema, escolhido após uma reunião entre os coreógrafos do grupo.
"Em um primeiro momento, a gente pensou sobre questões relacionadas à visibilidade, e depois a gente deixou um pouco mais voltado para Brasília. A partir disso, apareceu a história da construção de Brasília como uma candidata potente", relata Luísa Carvalho.
"A partir daí, começamos a discutir como isso seria mostrado e de que forma a gente ia passar a mensagem que a gente queria desde o início, até porque o grupo veio da Ceilândia, que foi uma das cidades onde os candangos que construíram Brasília foram alocados", detalha Carvalho.
A capital retrata como os candangos — antes um termo pejorativo para rebaixar os trabalhadores humildes — vieram dos quatro cantos do país em busca de vida nova. Devido à urgência da promessa de mandato de Juscelino Kubitschek, esses trabalhadores ergueram a nova capital do país em 1.000 dias, mas viram o trabalho de quase três anos ser menosprezado ao serem alocados nas periferias da cidade e esquecidos por muito tempo.
Luísa Carvalho afirma que, para ela, os relatos da memória dos candangos são lindos. "Foi uma história de sair do nada, chegar em um lugar onde você teria trabalho, oportunidade, ter uma vida melhor, mas onde isso não aconteceu. O objetivo da coreografia era mostrar o outro lado, que não é tão contado quanto deveria."
*Estagiário sob supervisão de Nahima Maciel
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