Há 45 anos era lançado no Brasil o filme que tornou-se o mais bem-sucedido musical de cinema da história, Grease — Nos tempos da brilhantina. Baseado em exitoso musical de teatro, que estreou em 1972 na Broadway, a adaptação cinematográfica foi parcialmente financiada com o que os produtores Robert Stigwood e Allan Carr faturaram com o filme B Os sobreviventes dos Andes (1976).
John Travolta havia sido coadjuvante na peça, por dois anos, e estrelado a obra-prima Os embalos de sábado à noite (produzido por Stigwood), e foi escalado para ser o protagonista Danny Zuko. Algumas adições para as telas incluíram: a canção-tema escrita por Barry Gibb, dos Bee Gees, que era empresariado pelo mesmo produtor, Hopelessly devoted to you, inspirada em End of the world — famosa com os Carpenters em 1972 — composta para a Olivia Newton-John, e You're the one that I want, já que originalmente não havia dueto para o casal.
O diretor responsável por dar forma à história é Randal Kleiser, que mais tarde realizaria sucessos como A lagoa azul, Voo do navegador, Pee-wee: Meu filme circense, Minha primeira transa, Querida, estiquei o bebê e um dos melhores filmes de 1996, A última festa, este também com a Olivia Newton John. Kleiser está lançando o livro Drawing Directors, no qual revela sketches que fez de Spielberg, Tarantino e Christopher Nolan, além de Grease: The director's notebook, com tudo sobre os bastidores do longa. EM conversa com o Correio, Kleiser falou sobre o musical e o trabalho com Olivia e John Travolta.
Entrevista // Randal Kleiser, diretor
O senhor estreou como diretor com Grease, mas havia realizado para a televisão O menino da bolha de plástico, com John Travolta. Ele o ajudou a ser contratado?
Eu e o John havíamos nos dado muito bem ao trabalhar em O menino... Eu devo muito a ele pela contratação (para Grease). O seu tino para o humor é enorme e há referências aos Três Patetas em Grease, os amigos de Zuko imitam os comediantes, e no filme Amantes de verão, uma telona exibe um curta do trio. Em Grease, Zuko, no ginásio, se move feito Jerry Lewis; os planos abertos nas cenas nas arquibancadas com os rapazes cantando Summer nights e vários enquadramentos em cenas engraçadas remetem também ao Jerry, subindo a escadaria em Cinderelo sem sapato e O terror das mulheres, respectivamente (também de Jerry).
O Lewis foi seu professor nos anos 1960, não?
Eu aprendi muito com o Lewis nas aulas de direção na University of Southern California.
Para ver como equipes profissionais trabalhavam, o senhor foi figurante nos anos 1960 em Folias na praia, filme sobre jovens com o ídolo teen Frankie Avalon. Anos depois, ele roubou as cenas em Grease...
Eu visitei as filmagens de Folias. E já que o cômico e diretor do cinema mudo Buster Keaton fazia uma participação, eu aproveitei para perguntar a ele como foi filmado O general, na década de 1920. Figuração, eu fiz em Bola de fogo 500, A primeira noite de um homem e outros. Lembro-me das cenas com o Keaton pescando. Interessante que o Bola de fogo também é com o Avalon.
Também se nota que o senhor admira os clássicos musicais dos anos 1940 e 1950, com aquele hiper-realismo todo, vide as sequências com as canções Greased lightning e Beauty school dropout.
Sempre gostei muito, mas eu mesclei aquela atmosfera "trabalhada" com uns toques de naturalidade.
Olivia Newton-John que nos deixou há pouco mais de um ano, estava relutante de estrelar o filme?
Ela exigiu que a gente filmasse uma cena-teste atuando, pois não queria repetir o fracasso do seu trabalho anterior (o esquecido filme londrino TooMORROW). O John atuou com ela na cena, ela ficou à vontade e vi a química perfeita que tinham! Eu sentia que ela seria perfeita no papel da Sandy, na fase boazinha. Mas eu temia que não funcionasse ao se transformar na versão Sandy Malvada, pois ela não é nada assim na vida real. Mas quando a Olivia veio de longe na minha direção com aquele look, eu demorei para reconhecê-la. Todos ao redor estavam feito um enxame de abelhas perto dela e aí eu vi que não teria razão para me preocupar. E agora que partiu, faz muita falta.
*Texto de Marco Antonio Santos Freitas, Especial para o Correio