As cores vibrantes são a primeira coisa que chama a atenção na obra de Isabella Despujols. A textura vem em seguida e compete com as formas geométricas abstratas e relativamente simples desenhadas pela artista venezuelana. Por textura entenda-se a mistura de materiais. Isabella é pintora, mas seus meios não se limitam ao pincel e é sobre isso que ela fala nas oito obras de O fio que conecta, em cartaz no Museu de Arte de Brasília (MAB).
Fruto de uma mistura que coloca no mesmo plano pintura acrílica e bordado com fios de seda, a obra da artista vem de uma série de experimentações que começaram muito cedo. Isabella tem 29 anos, mas desde menina convive com a geometria de forma lúdica graças aos pais arquitetos. Nascida num país que se tornou referência da arte cinética com nomes como Cruz Diez e Jesús Soto, a artista incorporou elementos da história da arte de suas próprias origens para desenvolver um pensamento plástico particular.
Isabella já pintava telas geométricas abstratas quando decidiu investigar um material pelo qual sempre foi fascinada: os tecidos e estamparias. "Comecei a experimentar outra materialidade porque sempre tive curiosidade pelos tecidos, pelos estampados. Fiz primeiro uma série de obras em tecido e, um dia, pensei: o que acontece se eu experimento com o material em si, que resultado poderia ter?", conta a artista, que tem obras em coleções públicas e privadas importantes, como o Instituto Inhotim. "E comecei a experimentar com a linha, mas não sabia muito como trabalhar com a linha, foi um processo bem autodidata e de misturar mais a pintura do que a linha, até que, aos poucos, fui desenvolvendo o trabalho com o bordado".
A linha e o bordado trouxeram outras questões para Isabella. Ela precisava tomar decisões quanto às texturas, mas também quanto às combinações de cores que, eventualmente, podiam até gerar novas ilusões para a escala cromática. "Se eu misturava duas cores diferentes, dava para criar a ilusão de uma cor nova, então me aprofundei no estudo da cor e comecei a estudar referência do cinetismo, que é uma corrente forte na Venezuela", lembra. O cinetismo trabalhava materiais mais industriais e queria eliminar o fator humano da obra. Ela gostava da premissa, sobretudo da ilusão de movimento que a arte cinética é capaz de criar. "Achei isso um pontapé muito interessante para pegar a ideia de criar ilusão do movimento a partir de um trabalho manual no qual o espectador consegue apreciar o fator humano e o que o trabalho humano consegue fazer", diz.
Serviço
O fio que conecta
Exposição de Isabella Despujols. Visitação até janeiro de 2024, de quarta a segunda, das 10h às 19h, no Museu de Arte de Brasília (MAB - SHTN, trecho 1, Projeto Orla, pólo 3, lote 5)