Com o avanço da tecnologia, o formato dos conteúdos passou por uma drástica mudança. Nos últimos anos, principalmente entre os mais jovens, os audiolivros viraram tendência e, apesar das pessoas continuarem lendo, as inovações surgem como alternativas mais práticas e versáteis para facilitar a vida das pessoas.
Apesar desse crescimento no mercado de audiolivros, poucas obras brasileiras estão disponíveis no formato. Para mudar esse cenário e atender a demanda pelo conteúdo, artistas como Maitê Proença, Marcos Palmeira, Bianca Bin, Clarice Falcão, Daniel Munduruku, Denise Fraga, Eduardo Moscovis, Fabrício Boliveira, Gabz, Maria Ribeiro, Nathalia Dill, Otávio Muller, Tabata Contri, Tarso Brant e outros emprestaram as vozes e narraram diversas obras em português. "Espero que o público ouça muito e que goste. São vários títulos incríveis, feitos por brasileiros, para os brasileiros", ressalta Bianca Bin em entrevista ao Correio.
A criação desses audiolivros no Brasil foi iniciativa da Audible, serviço de streaming de audiolivros e empresa subsidiária da Amazon, que chegou ao Brasil neste mês. O catálogo conta com diversos gêneros e obras de autores renomados como Ana Claudia Quintana Arantes, Augusto Cury, Carla Madeira, Djamila Ribeiro, Itamar Vieira Jr., Laurentino Gomes e Rita Lee. Para acessar o streaming de audiolivros basta acessar o site ou baixar o aplicativo Audible.
Além das obras de autores brasileiros, títulos clássicos e best-sellers mundiais estão disponíveis no catálogo nas vozes de célebres artistas. A obra 1984 foi narrado por Otávio Muller. Gabz narrou Alice no país das maravilhas. Um teto todo seu foi narrado por Clarice Falcão e Dom Casmurro, por Marcos Palmeira. Harry Potter por Ícaro Silva e Mauro Ramos narrou a trilogia Senhor dos Anéis.
O livro Anne de Green Gables, escrito por L.M. Montgomery e publicado em 1908, foi narrado por Nathalia Dill, talentosa atriz que atua no teatro, no cinema e atuou em novelas como Cordel encantado, A dona do pedaço e Orgulho e paixão. Segundo a artista, apesar de ser um trabalho desafiador, é muito interessante. “Eu ficava exausta, a garganta ficava cansada. Procurei um fonoaudióloga para me ajudar a fazer a melhor performance, mas eu fui descobrindo coisas diferentes, sonoridades diferentes, entonações, jeitos, perspectivas", conta Nathalia.
Por ser um trabalho diferente da interpretação tradicional, a narração literária permite que os atores entrem em contato com outros lados da arte. "Enquanto eu estava lendo o livro, eu estava fazendo uma peça nos finais de semana e eu chegava na peça com outras percepções, com outras entonações. Uma arte foi complementando a outra", destacou Nathalia Dill.
A obra que Nathalia leu acompanha Anne, uma órfã que foi erroneamente enviada para a Fazenda Green Gables para ser adotada. "A Anne é uma personagem muito específica. Ela tem uma visão muito peculiar do mundo. Ela descreve tudo de uma forma muito própria, essa é uma das graças do livro também", conta Nathalia. Com uma imaginação sem fim, a personagem principal lida com desafios da pré-adolescência no romance infanto-juvenil. "É um livro legal para ouvir com a família, como agora eu tenho uma filha, estou pensando muito nisso", indica ela.
Renomada atriz, Maitê Proença narrou O cortiço, romance naturalista do escritor brasileiro Aluísio Azevedo, publicado em 1890. Apesar da artista ter tido contato com a narração na versão em áudio do livro que ela escreveu, Uma vida inventada, a experiência foi incitadora. "Eu conhecia muito bem o meu livro, mas O cortiço é um texto de época com português que não se fala mais, então em muitos momentos eu não sabia se aquela interjeição era otimista ou negativa", conta Maitê.
A história de Aluísio Azevedo denuncia a exploração e as terríveis condições de vida dos moradores de cortiços do Rio de Janeiro no final do século 19. "É um enredo maravilhoso, um clássico. A maneira com que os escravizados eram tratados, a forma que as pessoas falavam, objetificando seres humanos, tudo é tão bem retratado que falar em voz alta me deu dor física", destaca a atriz.
Segundo Maitê, as pessoas estão acostumadas com livros de pessoas aristocráticas e bem-sucedidas, mas O cortiço mostra a vida de pessoas se rua, como elas resolviam problemas, como elas se safavam na violência física, como as coisas eram tratadas naquele momento de arrogância, mostra os piores e melhores sentimentos humanos. "Espero que o público não tenha preconceito por ser um clássico. As pessoas acham que vai ser chato e não é chato em nenhum momento. Não precisa de 30 páginas para a coisa pegar, na primeira é bom. É uma baita de uma obra" enfatiza Maitê.
O único romance da escritora inglesa Emily Bronte, O morro dos ventos uivantes, foi publicado em 1847. Narrada por Bianca Bin — atriz brasileira que interpretou a protagonista Clara em O outro lado do paraíso e atuou em diversos outros papéis em novelas e peças de teatro —, a história retrata o amor entre Heathcliff e Catherine, dois personagens que crescem juntos e se apaixonam, mas são separados por suas diferenças sociais.
Para Bianca Bin, o universo de audiolivros abre infinitas possibilidades para os artistas e para os estúdios. Como a atriz nunca tinha trabalhado apenas com a voz, teve que enfrentar alguns obstáculos, mas os aprendizados e o resultado compensaram. "O maior desafio, além do vocabulário rebuscado, foi encontrar um fluxo de pensamento, encontrar variações de entonações para cada personagem. Eu nunca tinha trabalhado só com minha voz e me apaixonei", conta ela.
Além de permitir que as pessoas desfrutem de histórias envolventes enquanto estão no trânsito, nas práticas de exercícios ou quando fazem alguma tarefa doméstica, o serviço de streaming de audiolivros proporciona acessibilidade. Pessoas com deficiências visuais ou dificuldades de leitura conseguem experienciar o poder da literatura através dos audiolivros. "É divertido, a gente embarca na história e parece que eu estou do lado de quem vai ouvir. A sensação de proximidade é muito grande e isso me encanta", enfatiza Bianca.
Esta inovação impulsiona a literatura em uma época em que as pessoas vivem uma vida acelerada e dificilmente conseguem tempo para ler um livro. Independentemente do formato, a literatura é uma ferramenta crucial para a imaginação e conhecimento. "Quando você lê um livro, você imagina tudo. A leitura é um trabalho criativo", destaca Maitê.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
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