Artes cênicas

Festival Cena Contemporânea inicia hoje sua 24ª edição

Evento conta com programação de sete espetáculos, com destaque para o Grupo Galpão, de Minas Gerais, e a Cia. Dos à Deux, do Rio de Janeiro

Before de dawv, de Yumiko Yoshioka, é um dos destaques  -  (crédito: Fotos: Yumiko-Bea - Divulgação - Davi Mello)
Before de dawv, de Yumiko Yoshioka, é um dos destaques - (crédito: Fotos: Yumiko-Bea - Divulgação - Davi Mello)
postado em 17/10/2023 06:00

São 28 anos de festival, com um total de 24 edições. Quando olha para o conjunto, o produtor e diretor Guilherme Reis sorri: há quase três décadas, o Cena Contemporânea pontua a vida teatral do brasiliense regularmente, com uma seleção de espetáculos que permite aos amantes de teatro se manterem atualizados com a produção nacional e terem pequenos drops da cena internacional. "Eu estou muito feliz por conseguir fazer essa edição em 2023. As dificuldades são as de sempre, captação de recursos, financiar um festival que, mesmo tendo 28 anos de história, tem que começar todo ano do zero. Tudo isso depende de política pública estável na cultura. Estamos num ano de reconstrução de uma certa sanidade no processo de financiamento cultural e isso ainda está em construção", diz Reis.

O Cena Contemporânea tem início hoje, com uma programação de sete peças inéditas e participação de seis companhias brasileiras e de uma artista japonesa. É uma espécie de retomada mais encorpada pós-pandemia, agora com mais segurança e menos medo das salas fechadas e aglomerações. É também uma nova forma de fazer o Cena, que desta vez ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), mas não se espalha por outros espaços da cidade, como ocorreu em edições anteriores. Um formato mais compacto,  cheio de comemorações especiais.

Cabaré Coragem

Os mineiros do Grupo Galpão abrem o festival com o espetáculo Cabaré Coragem, que celebra os 40 anos do coletivo, inteirados em 2022, mas comemorados timidamente devido aos receios com a pandemia. A peça revisita alguns escritos do alemão Bertold Brecht, especialmente Mãe coragem. "O Brecht está no início do Galpão", conta Júlio Maciel, que dirige o Cabaré. O coletivo começou a fazer teatro a partir de uma oficina em torno do texto A alma boa de Setsuan, do dramaturgo alemão. A companhia voltou a se debruçar sobre Brecht nos últimos quatro anos. "Foi um momento de volta, para entender o que estava acontecendo no mundo e no Brasil, com essa questão do fascismo. Estávamos estudando as peças, lendo sobre a história. Brecht está sempre retornando à nossa história, então sentimos que era um momento bom para voltar a estudar para entender o momento político."

  • A ATA — Agrupação Teatral Amacaca encena a peça  2=2 5
    A ATA — Agrupação Teatral Amacaca encena a peça 2=2 5 Davi Mello
  • Julius Caesar —Vidas Paralelas no 24º Cena Contemporânea 2023
    Julius Caesar —Vidas Paralelas no 24º Cena Contemporânea 2023 NIL CANINE
  • Companhia Dos à Deux traz um espetáculo inovador
    Companhia Dos à Deux traz um espetáculo inovador Divulgação
  • Companhia Dos à Deux no 24º Cena Contemporânea 2023
    Companhia Dos à Deux no 24º Cena Contemporânea 2023 Nana Moraes
  • Cabaré coragem, do Grupo Galpão, no 24º Cena Contemporânea 2023
    Cabaré coragem, do Grupo Galpão, no 24º Cena Contemporânea 2023 Beto Hektor
  • Cabaré coragem, do Grupo Galpão, no 24º Cena Contemporânea 2023
    Cabaré coragem, do Grupo Galpão, no 24º Cena Contemporânea 2023 Divulgação
  • Cena de Atos de leitura, do Teatro do Concreto,  no 24º Cena Contemporânea 2023
    Cena de Atos de leitura, do Teatro do Concreto, no 24º Cena Contemporânea 2023 Thiago Sabino
  • Cabaré coragem, do Grupo Galpão, abre o Cena
    Cabaré coragem, do Grupo Galpão, abre o Cena Divulgação

Cabaré Coragem foi montado em um processo muito coletivo, durante o qual cada um dos atores apresentava propostas de cenas, músicas, textos e poemas. O Cabaré como cenário foi uma escolha feita em função do diálogo com o público e da possibilidade de juntar vários microespetáculos dentro de um só, como em um verdadeiro palco de cabaré. "A gente fala muito dessa questão do fascismo, do perigo do fascismo, do desequilíbrio social, econômico, que existe na população, da fome, da guerra", avisa o diretor.

A Cia. Dos à Deux, que nasceu francesa e hoje é carioca, tem uma relação de lealdade à Brasília. "A gente esteve presente em Brasília com todos os espetáculos que trouxemos ao Brasil, é um lugar pelo qual a gente tem uma grande afetividade", garante Artur Luanda, integrante da companhia ao lado de André Curti. O espetáculo Enquanto você voava, eu criava raízes, que a dupla traz ao Cena, e com o qual celebra os 25 anos do grupo, nasceu de um processo investigativo muito ligado ao presente e ao cotidiano durante a pandemia. "Veio muito de como eu e André estávamos nos sentindo, colocamos uma rotina de trabalho na pandemia", avisa Artur. "A gente se deixou entrar em lugares desconhecidos e fomos costurando vários universos até criar um espetáculo. É um espetáculo que tinha todas as camadas da companhia, mas que tinha alguma coisa mais profunda, e mesmo metafísica."

De Brasília, o Teatro do Concreto, que completa 20 anos de existência, também está na programação com Atos de leitura, e o ATA — Agrupação Teatral Amacaca adapta o clássico 1984, de George Orwell, que vem com o título 2=2 5. Uma referência no butô, a japonesa Yumiko Yoshioka, hoje radicada em Berlim, faz mistura de culturas em Before the dawn, enquanto a Cia. do Sal traz Macacos, dirigida por Clayton Nascimento, 34 anos, que ganhou o Prêmio Shell de Teatro e o troféu da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) de melhor ator pelo trabalho. A premiação colocou o diretor e ator no mapa do teatro brasileiro e ele foi  reverenciado por nomes como Marieta Severo, Renata Sorrah e Zezé Polessa.

Para Guilherme Reis, as comemorações do Galpão, do Teatro do Concreto e do Dos à Deux podem ser encaradas como símbolos do Cena Contemporânea. "É um festival que demonstra que é possível ter continuidade de trabalho no Brasil, mesmo com tantos percalços e ausência absoluta de políticas públicas. Não foi fácil conviver com os últimos quatro anos que vivemos, e só o fato de os grupos e artistas terem sido tão produtivos durante esse período, mesmo que motivados pelo próprio período nefasto como uma resposta, tem um significado muito grande", diz, ao apontar a resistência e a persistência como características vitais do teatro brasileiro.

Cena Contemporânea

De hoje a 29 de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Trecho 02 Lote 22 — Edif. Presidente Tancredo Neves — Setor de Clubes Espacial Sul). Ingressos: R$ 30 (inteira) e
R$ 15 (meia, válida para estudantes, professores, profissionais da saúde, PCDs, pessoas maiores de 60 anos e clientes BB), à venda em www.bb.com.br/cultura ou na bilheteria física do CCBB Brasília.

 


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