Djavan tem uma contribuição estrondosa para a cultura musical brasileira. Durante a carreira, o artista recebeu diversos prêmios, incluindo quatro Grammy Latino e indicações ao Grammy internacional. O último lançamento de Djavan, o álbum D, foi indicado ao Grammy Latino 2023 na categoria Melhor álbum de música brasileira, e a faixa Num mundo de paz, que integra o disco, concorre a Melhor canção em língua portuguesa.
A carreira do músico alagoano é marcada pelo talento, letras poéticas e repletas de metáforas. Entre os temas falados nas canções estão amor, solidão, vida, natureza, espiritualidade e a cultura brasileira. Criou um estilo musical característico, onde mistura elementos de jazz, samba, bossa nova, música popular brasileira e as influências de música africana e latina.
Desde o primeiro álbum, A voz, o violão, a música de Djavan, lançado em 1976, o cantor recebeu reconhecimento pela qualidade das composições e interpretação vocal. Em 1980, lançou o disco Alumbramento, que proporcionou a ele destaque nacional e internacional. As faixas Flor de lis e Samurai se tornaram clássicos da música brasileira. A riqueza e diversidade presentes nas obras o tornam um cantor imprescindível para o cenário musical nacional.
Ao Correio, Djavan fala sobre a construção do álbum D, a música popular brasileira atual e como ele consegue manter a relevância e conversar com públicos diversos.
Entrevista // Djavan
O que o álbum D traz de diferente dos outros?
É muito difícil responder uma coisa como essa porque sempre trabalhei com diversidade. No álbum estão músicas de todos os gêneros, músicas que falam de amor, de relacionamento social, de tudo. Tem todas as questões que envolvem o ser humano e, em geral, faço isso nos meus discos. Eu procuro sempre focar na relação humana, que é um tema que abrange várias circunstâncias da vida. Esse disco tem isso, mas também músicas que o amor é a razão e o foco central. Portanto, é um disco bom de se ouvir em todos os aspectos.
Em qual fase você estava durante a criação do álbum D?
Eu estava numa fase de muita concentração, porque um trabalho novo sempre me coloca numa concentração, num ponto de observação, de alerta muito grande e animado também. Eu sou uma pessoa que tem prazer pelo trabalho e fico feliz a cada música nova que eu faço. O período de estúdio é o mais denso, mais importante da minha vida. Eu gosto muito do show, mas eu acho que na gravação de um trabalho novo é onde a gente se revela, traz novas letras, assuntos, melodias, harmonias e arranjos. É um período em que eu trabalho muito, mas o cansaço que isso geraria acaba sendo diluído pelo prazer que sinto em fazer tudo. Portanto, eu acho que a gravação de um disco é o melhor momento da minha vida.
Qual é o segredo para agradar pessoas de idade, gêneros, raças e classes sociais tão diferentes?
Eu acho que é exatamente essa diversidade que chama a atenção para um público igualmente diverso. Porque uma pessoa adulta, uma pessoa jovem, um garoto e uma menina se encontram nesse disco. O meu público sempre foi muito heterogêneo desde o início. Meus trabalhos sempre encontram assuntos e tópicos que abrangem faixas etárias distintas, raças e religiões. É um disco que serve a todos, digamos assim.
Suas músicas são tocadas em muitos casamentos e são trilhas sonoras de declarações de amor. Como é cantar tão bem sobre o amor?
É cantar sobre a vida, porque você vive para o amor, você vive sobre o amor. Você vive para cultivar, perseguir esse sentimento, que é a vida de todo indivíduo. Tudo que o sujeito faz, de modo geral, é visando um relacionamento, visando gostar de alguém, ser gostado por alguém. Esse é o tema central da vida.
Para você, quem está à frente da MPB atualmente?
A vida musical no Brasil mudou muito, principalmente a competitividade. Eu sempre fui uma pessoa competitiva, sempre gostei de estar ali na briga. É óbvio que tenho um lugar desde que praticamente comecei minha carreira, por ser diferente, por fazer uma música que só eu faço, tudo isso, mas a música no Brasil mudou muito. A música se subdividiu, teve a junção de alguns gêneros e surgimento de outros. Eu gosto muito disso, eu acho que estamos no caminho certo, que é dar valor e possibilidade a todo mundo que tem uma arte, a todo mundo que tem talento, para aparecer e fazer o seu caminho.
Você acredita que existe uma nova MPB?
Os grandes artistas chamados de MPB, eles fazem escola, eles deixam um rastro para ser seguido, todos os dias surge uma pessoa fazendo música, que se não é exatamente MPB, é decorrente dela. E isso vai ser sempre assim.
Você tem uma carreira muito longa, como você enxerga ainda conversar com o público e se manter relevante, mesmo após tanto tempo de carreira e com fases muito diferentes na carreira?
Manter uma carreira por tanto tempo é uma tarefa bem difícil, mas, ao mesmo tempo, é feita com naturalidade. Eu tenho um público enorme há muitos anos e isso traz uma coisa que é fundamental, a segurança para continuar experimentando, abrangendo espaços novos e brigando ali na ponta, sempre com aquele mesmo ímpeto, com a mesma vontade. Eu estou sempre envolvido com o que eu tenho que fazer para melhorar. Portanto, é um trabalho que, embora seja muito dispendioso do ponto de vista de energia e de tempo, é um prazer.
Tem algum trabalho seu que você tem um carinho especial?
Em todo trabalho a gente coloca nele a mesma energia, a mesma expectativa. Eu não saberia dizer que música é melhor que outra, porque isso não passa muito na minha cabeça. Um disco pode ter quantas músicas for, para mim é como se fosse uma música só. Tudo aquilo representa o trabalho, representa aquele momento da minha vida, quem eu sou naquela fase. Eu sempre gosto dos trabalhos, se eu não gosto, eu não lanço. O resto é esperar para ver o que pode acontecer, cuidar da turnê, do lançamento, da mídia.
Brasília está presente na sua música, qual a sua relação com a cidade?
Eu amo Brasília. A obra de Niemeyer, modo de viver e a própria conjuntura estrutural da cidade é diferente. É uma cidade linda, importantíssima para o Brasil pela política. Sempre esteve na minha música um foco, um objeto de consumo, digamos assim, de consumo da alma da cidade. Eu gosto muito.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
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