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Experimentalismo marca show de Bixiga 70 e Jéssica Caitano no CoMA

O grupo instrumental paulista convida a cantora pernambucana para uma apresentação recheada de experimentos acerca da brasilidade

Bixiga 70. -  (crédito: José de Holanda/Divulgação)
Bixiga 70. - (crédito: José de Holanda/Divulgação)
postado em 07/10/2023 09:41 / atualizado em 07/10/2023 09:41

Características de um país marcado pela síntese cultural, as experimentações com ritmos diversos são força motriz da apresentação integrada que acontece hoje, no festival CoMA (CCBB), a partir das 20h20. Surgida em São Paulo, em 2010, a banda instrumental Bixiga 70 combina influências brasileiras com latino-americanas, africanas e estadunidenses num som marcado pela ecleticidade e primazia técnica. E, nessa edição do evento, eles convidam ao palco a pernambucana Jéssica Caitano, que traz o vocabulário poético de sua terra com uma roupagem da música eletrônica e do hip hop.

Para o Bixiga 70, esse tipo de mistura cultural que motiva a produção da banda é marca da própria identidade canarinha. “Eu acho que as experimentações estilísticas começaram em 1500”, brinca o saxofonista Cuca Ferreira, um dos veteranos do grupo paulistano. “Essa é a tradição da música brasileira, por mais que os gêneros se formem e depois virem coisas bem definidas, o Brasil é o país das misturas, das combinações de tudo”.

Formado no Bixiga, bairro paulista marcado pela diversidade cultural e pelo histórico de cidadãos imigrantes, o grupo sempre pensou a música a partir dessas amálgamas. “Ser paulistano é ter influência de vários lugares do mundo que você nem sabe ou percebe. E, no bairro do Bixiga, isso é elevado à enésima potência”, destaca Cuca. “Essa tradição de misturar gêneros tem muito a ver com como a cultura brasileira se formou. Eu acho que é muito legal que isso continue acontecendo e talvez tenha sido o que a gente mais pirou quando ouviu o som da Jéssica”.

Jéssica Caitano.
Jéssica Caitano. (foto: José de Holanda/Divulgação)

Segundo a cantora nordestina, que mescla primorosamente rap com repente, as experimentações com diferentes referências culturais também são parte natural do processo criativo. “Eu bebo muito dessa fonte oral, daqui da poesia do Pajeú, mas também da poesia marginal, que está nos grandes centros”, diz Jéssica. “É interessante pensar essa poesia dentro desse outro universo que é a música eletrônica, trazendo a potência do nosso território, a nossa verdade e expandindo isso através dessa forma de música que é universal”.

Mesmo que muito marcado pela brasilidade e experimentalismo, as sonoridades de ambos Bixiga 70 e Jéssica Caitano são capazes de cativar uma legião de fãs mundo afora. “No nosso caso, a gente atua num circuito de world music, ainda que às vezes caia para jazz ou para festival de música eletrônica”, explica Cuca. “A gente tem a facilidade de não ter letra, então não depende da pessoa entender a língua para curtir o som. A gente atrai um público interessado justamente por essa mega mistura brasileira que fazemos, pois não é em todo lugar que você vê isso acontecer. O Brasil é um país bem mais desenvolvido do que os europeus nesse aspecto”, argumenta.

Para essa apresentação, o Bixiga 70 traz um repertório diversificado, com arranjos das músicas de Jéssica, além de algumas novas do álbum que se preparam para lançar no dia 13 de outubro, Vapor. “Esse disco é muito diferente de todos. Tem maracatu rural, tem tecnobrega, só que isso tudo mascarado”, ressalta o tecladista Pedro Regada, um dos membros recém-chegados ao grupo. “Ele tem uma linguagem muito carnavalesca do nordeste, além de uns grooves mais estranhos, mais bonitos, dançantes”.

Jéssica certamente se vê instigada para explorar o potencial máximo dessa junção, sugerida inicialmente pela própria organização do festival. “Eu gosto muito dessas provocações, da gente fazer um show que é único, que ninguém nunca viu”, enfatiza. “Acho que me animei muito mais por isso, e quando a galera animou também de pegar músicas foi muito massa. Vai ser lindo demais”.

Os ânimos estão nas alturas para um reencontro caloroso com o público candango, muito apreciador da sonoridade experimental. “A gente se sente bastante abraçado dentro desse contexto porque, com essas misturas, também rolam as identificações imediatas. A gente tem a célula rítmica, aquela coisa do fazer dançar que quem é brasileiro sabe: a gente não aguenta ficar parado e aí já era, rola abraço e comemoração”, fala Regada.

Serviço

Bixiga 70 convida Jéssica Caitano
Festival CoMA (CCBB, SCES Trecho 2). Sábado, a partir das 20h20. Ingressos esgotados. Classificação indicativa: Livre.

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