De três em três versos, a poeta e compositora Angélica Torres Lima construiu a obra diminutos: haicai à brasileira, da Editora 7Letras. Com lançamento marcado para segunda-feira (9/10), a partir das 18h, no bar Beirute (109 Sul), o livro é um delicado repositório de haicais inéditos e não inéditos, produzidos ao longo da carreira da autora. Eles destacam as belezas da fauna e da flora do Planalto Central, mas também permeiam sentimentos profundos. Além disso, Romulo Andrade traz ilustrações pela obra.
O haicai é um tipo de poema originário da cultura japonesa. A característica principal vem da estrutura rígida, composta por apenas três versos curtos produzidos por meio de uma métrica específica. Apesar disso, ele visa ser simples, no sentido de evitar palavras de difícil entendimento, além de trazer temas do cotidiano e da natureza. No Brasil, também há muitos poetas que escrevem haicais, mas no estilo livre, fugindo da técnica formal japonesa que os puristas, os haicaístas mesmo, seguem rigidamente. Este é o caso de Angélica, que se aventura com as palavras.
Desde o título, o livro já traz metalinguagens. O termo "diminuto" significa "pequeno", mas também, exprime a fruição leve e ligeira da obra quando é fragmentado em "de minutos". "Esse livro tem uma leveza. Eu quis, inclusive, publicar ele agora, porque a gente viveu esses últimos anos com muita dificuldade. Eu quero que leiam alguma coisa minha que seja leve, agradável, mesmo que fale em dor, saudade, perda e morte, que ele seja mansinho", explica Angélica.
A obra descreve belezas da fauna e da flora do cerrado, mas também, fala sobre as luzes, angústias e alegrias da cidade, como questões existenciais e sociais. Traz a passagem do tempo e as sombras e saudades que a envolvem. Para escrever sobre tanta natureza, Angélica se inspirou nas memórias de infância na fazenda goiana do pai. "O cerrado está aqui dentro, está em Brasília e nas redondezas. Meu pai era fazendeiro, então eu cresci indo na fazenda com ele e passei partes da minha infância lá. Por isso, tenho uma ligação muito forte com o cerrado, um vínculo e paixão", ressalta.
A narrativa atravessa por tarde, noite e manhã. Na apresentação do livro, a crítica literária Ana Clara de Andrade Alvim afirma que o humor e a graça da obra são resultado da destreza com que a poeta distribui a sonoridade e o ritmo dos versos. Para reforçar isso, aliterações, rimas e ironias são distribuídas pela obra e o leitor viaja pelas cenas descritas com os sentidos despertados. "O papel da poesia é encantar, comover e tocar as pessoas", destaca Angélica. Vale lembrar que uma personagem de grande ênfase na obra é a Lua, que mesmo distante, muda e irônica, continua íntima do escrita da poesia.
Jornalista e escritora brasiliense, Angélica nasceu em Goiás e mudou para a capital federal ainda adolescente. Possui diversos livros publicados, como Sindicato dos Estudantes (1986), Solares (1988), Paleolírica (2000), O poema quer ser útil (2006), Luzidianas (2010), O nome Nômade (2015), entre outros. O último lançamento, a antologia Dos 70 aos 70, celebra a poesia marginal em Brasília ao lado de outros poetas. O próximo lançamento, diminutos: haicais à brasileira, foi viabilizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC).
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira.
Serviço
Lançamento do livro 'diminutos: haicai à brasileira'
Segunda-feira (9/10), a partir das 18h, no bar Beirute, na 109 Sul de Brasília. A obra é lançamento da Editora 7Letras e foi viabilizado com recursos do FAC.
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