LITERATURA

Escritores brasilienses são semifinalistas de premiação literária

Semifinalistas do Prêmio Oceanos — Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa, os escritores brasilienses Nicolas Behr e Paulo Paniago falam da importância do certame e a chance de ganhar visibilidade internacional

Brazilian writer Nicolas Behr, who lives in Brasilia since he was a teenager, poses at the bus station in Brasilia, on January 10, 2020.  Behr, born in Cuaiaba, Mato Grosso state, found his muse and a literary niche in the futuristic buildings and the urban planning of the utopian city of Brasilia.  / AFP / Sergio LIMA -  (crédito: SERGIO LIMA)
Brazilian writer Nicolas Behr, who lives in Brasilia since he was a teenager, poses at the bus station in Brasilia, on January 10, 2020. Behr, born in Cuaiaba, Mato Grosso state, found his muse and a literary niche in the futuristic buildings and the urban planning of the utopian city of Brasilia. / AFP / Sergio LIMA - (crédito: SERGIO LIMA)
postado em 07/10/2023 05:00

Prestigiada premiação literária, o Oceanos — Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa bateu recorde de inscrições em 2023. Com 2.658 obras concorrendo em oito países, 41 chegaram à semifinal. Delas, 21 de poesia e 20 de prosa, escritas por autores de quatro nacionalidades diferentes: 24 brasileiros, 14 portugueses, dois cabo-verdianos e um moçambicano. No grupo de brasileiros, os escritores brasilienses Nicolas Behr e Paulo Paniago estão entre os semifinalistas.

Escritor de prestígio, Nicolas Behr é semifinalista da categoria Poesia com O itinerário do curativo, da Editora Reformatório. A obra é composta por poemas que tratam a obsessão, a paranoia e os traumas como elementos da técnica psicanalítica para diminuir a dor. O poeta conta que, apesar da surpresa, ter chegado entre os semifinalistas é uma honra. "Reconhecimento é sempre bom, se algum poeta disser que não quer reconhecimento, está mentindo. Prêmio é a maior legitimação no meio literário", enfatiza o autor.

Primeiro romance publicado por Paulo Paniago, Com meus dentes de cão, da editora Letramento, chegou à semifinal da categoria Prosa. O livro explora a misantropia, a aversão à humanidade. Segundo Paniago, o tema é recorrente, por isso, tentou inovar e acha que a obra pode ter se destacado pela semelhança com um ensaio. "Em vez de ser uma narrativa convencional, eu tentei fazer um romance num formato meio ensaístico", ressalta Paniago.

Como um incentivo ao intercâmbio editorial e à circulação das obras, o prêmio reconhece as melhores obras publicadas originalmente em língua portuguesa em qualquer lugar do mundo. Entre os gêneros dos trabalhos estão ficção, poesia, crônica e dramaturgia. Além de promover autores, o prêmio valoriza a literatura e a circulação das obras de países distintos. Para os autores brasilienses, a amplitude do prêmio o torna relevante. "Dá visibilidade. Todo mundo ganha, o leitor, o autor, a editora e a cultura brasileira", relata Behr.

A legitimação é de extrema importância, ainda mais em um país em que a literatura não recebe muito incentivo e o processo de publicar um livro é precário. "Chegar a ter uma relação bem estabelecida com a editora é sempre muito complicado. Então, quando veio a informação de que eu estava entre os 20 semifinalistas, eu fiquei felicíssimo, porque dá uma dimensão de que realmente é um reconhecimento de uma longa trajetória de esforço pessoal", observa Paniago.

Essa é a primeira edição que elege dois vencedores, um de prosa e outro de poesia. Cada um recebe o valor bruto de R$ 150 mil. Mesmo com uma categoria a mais, a escolha dos semifinalistas chamou atenção. Nas inscrições tiveram 1.427 livros de prosa (851 romances, 429 livros de contos e 147 livros de crônicas) e 41 de dramaturgia, mas apenas dois contos passaram para a semifinal, ante 18 romances. "Muita gente reclamou que não tem a categoria de contos e que ficou uma coisa meio indistinta, porque a maior parte do que foi selecionado é romance. Mas este ano já tem uma novidade, que é a de ter essa segunda categoria, que é a poesia", observa Paniago.

A primeira fase do prêmio contou com 159 jurados. Cada obra foi lida por três jurados diferentes e os melhores livros se classificaram para a etapa atual. Agora, para definir os cinco finalistas de prosa, os jurados Ana Paula Maia, Carlos Reis, Francisco Noa, Michel Laub e Regina Zilberman lerão os 20 semifinalistas da categoria. Os 21 semifinalistas de poesia serão avaliados por André Capilé, Annita Costa Malufe, Antonio Carlos Secchin, Joana Matos Frias e Veronica Stigger e restarão apenas cinco.

Apesar de Brasília não ser reconhecida como um polo literário, como Rio de Janeiro e São Paulo, obras de qualidade estão sendo produzidas na capital e a presença dos autores na lista do Prêmio Oceanos reflete isso. "É muito bom sair do triângulo Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte", afirma Behr.

Nicolas Behr e Paniago se esforçam para mudar o cenário literário da capital. Mesmo Com meus dentes de cão sendo o único romance publicado de Paniago, ele tem outros romances escritos. Para o autor, há pessoas no Brasil que buscam entender a literatura, o modo como ela pode ter um significado profundo para a vida cotidiana. "Eu sempre me pautei por pesquisar, por tentar encontrar uma forma de manifestar as coisas sem me repetir, buscando sempre uma espécie de experimentação, de pesquisa ou de inovação nas coisas que eu escrevo", relata o escritor. O resultado dos finalistas será liberado no fim de outubro e, como o prêmio tem um valor alto, além dele promover os escritores, possibilita que eles invistam na carreira.

O poeta Nicolas Behr tem inúmeras obras e, agora, lança o livro Rodô — poesia passageira, poemas sem destino. A obra é uma parceria com Paulino Aversa, e ambos retratam o carinho que têm por Brasília por meio de poemas e imagens.  

*Por Giovanna Kunz, estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

  • Jornalista, escritor e professor 
Paulo Paniago
    Jornalista, escritor e professor Paulo Paniago Foto: Mauro Giuntini
  • Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação