Música

BaianaSystem exalta ancestralidade e pensa no futuro em show no CoMA

BaianaSystem volta mais uma vez como atração principal do Festival Coma em nova fase e com novo show

Estética da nova fase do BaianaSystem -  (crédito: Jardel Souza/Divulgação)
Estética da nova fase do BaianaSystem - (crédito: Jardel Souza/Divulgação)
postado em 04/10/2023 13:53

Um grupo que há anos se mantém no holofote pela entrega nos palcos e a catarse que consegue proporcionar no público é o BaianaSystem. A banda, que mistura a guitarra baiana com o improviso dos sound systems, é uma das atrações principais da nova edição do festival CoMA, que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com shows também nas noites de quinta e sexta, e durante a tarde e noite do fim de semana.

No próximo domingo, o BaianaSystem traz o Sambaqui Show. "Não é que as pessoas acham que é 'sambar aqui', e até é bom que achem isso, é muito bom. No entanto, sambaqui é esse monumento pré-histórico brasileiro, com ossos, com bens, com histórias que os indígenas pré-históricos oriundos faziam na beira da praia", explica o vocalista Russo Passapusso. "Com esses ossos, faziam-se pirâmides, onde as pessoas entendiam suas histórias. Depois perceberam que ali, por conta dos ossos, tinha o cal, e até as casas de Salvador foram construídas com esse cal, então é uma antropofagia maravilhosa", complementa.

O conceito do show é justamente a noção de que olhando para o passado é que se constrói o futuro. Assim como as casas de Salvador só estão de pé por conta de um ritual de povos antigos, o BaianaSystem só está junto porque faz o trabalho de revisitar a história. "Num novo processo cultural, cuja ancestralidade é o futuro, a gente fica muito feliz em poder voltar para esse festival com o grau de percepção de que ancestralidade é o futuro", explica o cantor.

Para Russo, o fato de o CoMA ter uma conferência diversa acrescenta muito à ideia de um festival que vai muito além da música; também tem o lado da consciência e da arte. "Precisamos de eventos que tenham uma valorização de argumentação", elogia. "A crítica que eu faço aos festivais é que estão virando grandes shopping centers e não estão colocando a gente com a possibilidade de argumentação, criar argumento, criar cultura. Não adianta só você colocar o artista lá para falar, mas criando novos mecanismos (e conexões)", ressalta.

A banda tenta fugir da lógica que a indústria fonográfica impõe. "O mercado, pelo mercado, mata e morre; morre e mata no processo cíclico e as pessoas são substituídas", explica Russo Passapusso. Por isso o Baiana, como os próprios integrantes chamam, não segue a regra de lançamento de álbum que leva à turnê, eles fazem shows e discos de forma independente. O repertório das apresentações muda, de forma orgânica, ganha um conceito próprio e vai bem além de uma venda de um disco. "Eu acho que é isso que faz a gente estar ainda nos festivais, porque a gente fica tentando captar esse estilo de vida cultural para poder transformar em música. A gente quer que os temas sejam mais fortes do que o próprio show", reflete o músico.

Dessa forma, o grupo tenta propor algo novo, algo que, tal qual o CoMA, ultrapassa os sons, as danças e chega à catarse, fazendo o público pensar para além daquele momento. "A gente acha atualmente que tem que reacender um processo de postura de contracultura positiva a ponto de quebrar todos os parâmetros que vivemos", diz. "Para que fazer um show que não dialogue, que eu não fale no meio das músicas algo que a galera sinta que eu estou vivo?", indaga.

No centro político

A relação do BaianaSystem com Brasília ultrapassa o musical e chega ao político. "Brasília sempre foi um lugar que tem esse solo político naturalmente e de onde a gente tem uma troca muito forte com o público, com um entendimento de que não dá para fugir de que tudo é político", acredita Russo. "Naturalmente, não falo apenas sobre relações políticas partidárias ou essas coisas todas, mas como corpo político, lugar político, ocupação política, respiração política, arte política. Tudo isso que faz s gente se entender. Como se fosse um reflexo no espelho mesmo", acrescenta.

Para ele, o mais importante é que o Brasil está em um novo caminho, e agora o Baiana volta para celebrar estes novos tempos. "A gente está voltando no processo de transformação cultural. A gente está voltando depois de uma época de transformações", exalta. "O show do Baiana é uma mutação", conclui. Neste ano, os ingressos terão valor fixo: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada). Além disso, o evento contará com um plano de mobilidade e transporte gratuito saindo em direção ao CCBB.

 

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