ESTREIAS

Bruce Lee: mostra de cinema homenageia os 50 anos da morte do ator

Estreias da semana destacam a mostra com a trajetória de Bruce Lee e o controverso filme de Alejandro Monteverde, acusado de endossar teorias de conspiração da extrema-direita americana

Cena do filme 'O Voo do Dragão' (1972) com Bruce Lee -  (crédito: Divulgação / Warner Bros)
Cena do filme 'O Voo do Dragão' (1972) com Bruce Lee - (crédito: Divulgação / Warner Bros)
postado em 21/09/2023 06:00

Lee Jun-fan, conhecido como Bruce Lee, nasceu em São Francisco (EUA), em 1940, mas foi criado em Hong Kong pelos dois pais. Desde a infância no protetorado britânico fazia aulas de artes marciais para canalizar a energia. O artista das lutas continuou até se tornar instrutor e chegou a desenvolver uma forma de expressão própria dentro das artes marciais, o Jeet Kune Do, que depois se tornou sua marca registrada. Em 1959, foi morar com a irmã em Seattle, onde finalizou os estudos na cidade estadunidense.

O jovem Bruce Lee foi introduzido aos campeonatos de artes marciais dos Estados Unidos e ensinava seu estilo para quem tivesse interesse. O lutador, que sempre teve proximidade com A sétima arte, por conta do seu pai, iniciou a trajetória no cinema dos Estados Unidos introduzindo As artes marciais em cenas de luta em que atuou. Bruce morreu em 20 de julho de 1973, devido a um edema cerebral, no auge de sua carreira cinematográfica.

Desta quinta-feira (21/9) até quarta-feira (27/9), os cinemas do Espaço Itaú e do Cine Cultura recebem a mostra Bruce Lee: 50 anos, em homenagem às cinco décadas da morte do ator. Com a iniciativa da distribuidora Sato Company, a mostra apresenta as cinco obras cinematográficas em que o ator protagonizou, como Dragão chinês (1971), Fúria do dragão (1972) e O voo do dragão (1972), todas remasterizadas em 4K. Dragão chinês marcou o início da carreira dele como protagonista de filmes de ação. Por conta da velocidade das cenas, as gravações foram feitas com 32 frames por segundo e mudou as coreografias de lutas no cinema para sempre. Ao tirar o foco das tradicionais lutas com espadas e dar destaque ao uso dos golpes manuais, o ator é considerado um dos responsáveis pela retomada da popularidade do cinema de Hong Kong.

Além dos três grandes sucessos da curta carreira de Bruce Lee, a mostra apresenta duas produções póstumas, que trazem imagens de arquivos de gravações do lutador, dublês e truques de edição que resultaram nos filmes Jogo da morte (1978) e, a sequência, Jogo da morte II (1981). Gravado pelo diretor Robert Clouse, o primeiro longa já tinha mais de 100 minutos de filmagem com Bruce Lee antes do artista morrer, em 1973. Inclusive, foi o primeiro na filmografia dele em que a produção foi feita com som, as outras obras eram gravadas sem som e depois dubladas. O longa-metragem foi muito influente para outras produções, como em Kill Bill (2003), de Quentin Tarantino, que se inspira nos movimentos, na arte marcial de Bruce Lee e no figurino utilizado no filme, o macacão amarelo.

Bruce Lee em "Jogo da Morte" (1978)
Bruce Lee em "Jogo da Morte" (1978) (foto: Divulgação / Warner Bros)

Estratégias Extremistas

O polêmico filme Som da liberdade, dirigido por Alejandro Monteverde e produzido por Eduardo Verástegui, promete causar muito bate-boca onde for exibido. Gravado em 2018, barrado pela Disney e lançado apenas em julho deste ano nos Estados Unidos, pela distribuidora cristã Angel Studios, o longa estreia nesta quinta-feira (21/9) nas telonas brasileiras revolto de um enredo mirabolante de teor conspiratório, endossado por figuras influentes da extrema-direita norte-americana, como Donald Trump e Ben Shapiro.

A história traz a aventura do ativista Tim Ballard na tentativa de resgatar uma criança vítima de tráfico humano. O problema é que o ex-agente do FBI, inspirador do enredo, afirma que havia participado de forma central e heroica no caso, o que, segundo os registros judiciais, e a apuração da revista Vice, não corresponde à realidade dos fatos, exagerados de maneira mirabolante por ele. A ONG que Ballard fundou mais tarde, Operation Underground Railroad (OUR), responsável por supostas ações paramilitares de combate ao tráfico humano, também foi contestada pelas reportagens, visto que os resultados desse trabalho jamais foram verificados. Ironicamente, Ballard também é alvo de acusações de má-conduta sexual feitas por sete ex-colegas de trabalho.

Outro ponto que tem cooperado para a polêmica tem sido a arrecadação extraordinária do filme, realizado de maneira independente. Desde o lançamento, a produção angariou mais de US$ 124 milhões em bilheterias, o que seria um forte indicativo de sucesso, uma vez que o longa contou com um orçamento de apenas US$ 14 milhões. Contudo, nas últimas semanas viralizaram nas redes sociais vários vídeos de pessoas dentro de sessões vazias do longa.

A causa disso foi o incentivo por parte dos produtores para que o público comprasse ingressos em lotes e distribuísse eles para outras pessoas, o que culminou numa arrecadação que não corresponde ao público real. O mesmo fenômeno aconteceu há pouco tempo, no Brasil, com a franquia de filmes Nada a perder, que conta a história do bispo Edir Macedo.

Conspiração

A acusação mais frequente contra o filme, no entanto, tem sido de distorcer casos reais de tráfico humano para respaldar teorias conspiracionistas da corrente QAnon, responsável pela Invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Surgido na extrema-direita dos EUA e difundido entre trumpistas, o movimento crê na existência de uma elite satânica e canibal, que supostamente operaria uma rede global de tráfico sexual infantil. A hipótese entretanto é tida como absurda por pesquisadores, visto que nunca se provou fundamentada em acontecimentos factuais.

Segundo o cientista político Lucio Rennó, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), a disseminação de mentiras para favorecer uma lógica extremista é cada vez mais recorrente. "A extrema-direita no mundo tem usado muito do discurso conspiracionista, principalmente como mecanismo de difusão de um clima de medo e de hostilidade, uma vez que as conspirações são direcionadas a alvos específicos, como os adversários no campo da esquerda, os comunistas, os socialistas."

Bruce Lee: 50 anos

21 a 27 de setembro, nos cinemas do Espaço Itaú (SGCV Sul Shopping Casa Park, Lote 22 - Guará) e do Cine Cultura Liberty Mall (SCN Quadra 2, loja 200 - Asa Norte).

*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

 

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