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Wélcio de Toledo lança livro sobre a relação entre a poesia e Brasília

Para a tese de doutorado, o escritor desbravou a formação da identidade cultural da cidade junto à poesia em 'Poesia marginal, política e cidade'

Wélcio de Toledo lança livro sobre a trajetória da poesia em Brasília -  (crédito: Divulgação)
Wélcio de Toledo lança livro sobre a trajetória da poesia em Brasília - (crédito: Divulgação)
postado em 14/09/2023 16:00

Giovanna Kunz*

A capital é conhecida pela arquitetura diferenciada e por ser o centro da política nacional, mas pouco se fala da poesia presente na cidade. O poeta e pesquisador Wélcio de Toledo resolveu ir a fundo na relação entre a poesia marginal e a formação da identidade cultural em Brasília nas décadas de 1970 e 1980. Essa influência reverbera até a atualidade no livro Poesia marginal, política e cidade, decorrente da tese de doutorado que Wélcio defendeu na Universidade de Brasília (UnB). O tema surgiu da junção de duas paixões de Wélcio: a poesia — principalmente da geração da década de 1970 — e Brasília. “A poesia era um dos carros-chefes do movimento cultural da cidade e dessa formação da identidade”, ressalta o pesquisador.

A obra faz um paralelo entre a história de Brasília e a poesia, mas não tem como falar sobre isso sem citar a política presente na cidade. Recém-criada, e em plena construção da identidade cultural, a capital foi contaminada pelo regime militar, que tentou reprimir as manifestações artísticas. “A poesia é fundamental, porque enfrentou o autoritarismo com as próprias armas, que é a palavra, a estética, o sarcasmo, as metáforas, as falas e as performances”, diz o autor. Segundo ele, a relação entre poesia e autoritarismo não deveria existir, mas se dá porque a poesia é uma arte ousada e sempre foi vítima de regimes autoritários.

Além da ditadura, o livro realça o golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016, mas não fala de uma perspectiva que vitimiza a poesia e sim de um olhar enaltecedor e que celebra a resistência artística. “O trabalho destaca momentos pesados de autoritarismo, de censura, de perseguições às artes e aos artistas e também fala da resistência, de como a gente não se deixou abater e não se deixou submeter a esses autoritarismos”, ressalta Wélcio.

Para ajudar a descrever a trajetória da cidade com a poesia, Wélcio coloca autores como Walter Benjamin, Mário Pedrosa, Baudelaire, Luiz Costa Lima, Renato Ortiz e Hans Robert Jauss na referência bibliográfica. Além de mostrar a ligação da poesia com a política e a cidade, ele mostra a relação dos poemas com as artes visuais, cênicas e a música. Entre os poemas analisados estão poetas marginais e poetas brasilienses como Chacal, Cacaso, Ana Cristina César, Torquato Neto, Alex Polari, Nicolas Behr, Sóter, Vanderlei Costa, Meimei Bastos, Jorge Amâncio, Yonaré Barros, Marina Mara, Tatiana Nascimento, Paulo Dagomé, Kika Sena, José Carlos Vieira, André Giusti, Paulo Kauim, Fernando Freire e outros.

O interesse de Wélcio pelo tema não é de hoje, mas os acontecimentos atuais estão em sincronia com a proposta da obra. “Ele vem nesse momento de sair desse período obscuro, de a gente tentar entender, compreender como que ainda conseguem fazer a cabeça de uma população baseada no senso comum, no olhar fácil, raso e a arte ela está aqui para resistir”, observa.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

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