LANÇAMENTO

Sexo e revolta: Sophia Chablau lança disco com influências jupiterianas

Ao Correio, Sophia Chablau e Vicente Tassara trazem à tona os bastidores do disco que chegou às plataformas digitais na última quarta-feira (6/9)

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo -  (crédito: Helena Ramos/Divulgação)
Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo - (crédito: Helena Ramos/Divulgação)
Franco C. Dantas*
postado em 08/09/2023 16:03

A banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, ou SCUEPDT, para os preguiçosos, lançou o primeiro disco full-lenght da carreira, Música do esquecimento. Surgida da cena indie de São Paulo, em 2019, a novata banda converge elementos de rock feroz com uma nova MPB provocativa e sarcástica, hipnotizando uma fiel legião de seguidores ensandecidos, consolidados pela intensa turnê que passou por Brasília no meio de 2022.

Depois do sucesso do lançamento homônimo, que trouxe músicas como Delícia/luxúria, Debaixo do pano e Pop cabecinha, SCUEPDT traz agora um trabalho mais revoltoso, explícito e provocativo. Temas como frustração, amor e sexualidade se entrelaçam no repertório do disco, que, pela primeira vez, compila composições de todos os quatro integrantes. “No nosso primeiro disco tinha muito dessa dualidade. A gente era um encontro entre dois atores distintos: eu e eles”, diz Sophia. “Foi interessante para a gente tentar romper um pouco com isso agora de uma forma muito radical”.

Vocais masculinos do restante dos integrantes, Téo Serson, Theo Cecato e Vicente Tassara, estão mais presentes que nunca, inclusive na música de mesmo nome do lançamento. “Apesar de ser uma escolha muito deliberada, acho que essa decisão também veio de uma certa maneira espontânea, ao longo dos ensaios e discussões”, explica Vicente.

O processo de composição e produção de Música do esquecimento, se diferencia do primeiro à medida que, agora, os artistas realmente tiveram tempo para refletir e consolidar as faixas que fariam parte do lançamento. “No primeiro disco, como eram só as músicas que a gente tinha, não teve esse tempo de organizar o que a gente queria gravar. A gente tinha que gravar aquelas, senão nem disco a gente teria”, fala Sophia.

Esse processo mais cadenciado fez com que o novo disco refletisse intensos contrastes, passeando pela serenidade da melancolia ao mesmo tempo em que traz intensidade, sujeira e gritaria, inspiradas pelos ânimos elevados das apresentações ao vivo. “A parada desse novo disco é que veio de um acúmulo de tempos muito diferentes. O processo dele foi bem comprido, desde a primeira discussão no começo de 2020, até o final da pós-produção, alguns meses atrás. É um disco que, ao mesmo tempo que tem um repertório antigo, do momento de isolamento social da pandemia, ele se mistura com as nossas experiências da turnê”, rememora Vicente.

Sobre dizer “a real”

Inspirada por Jup do Bairro e Ana Frango Elétrico, a banda traz consigo nesse disco canções de teor sexual bem explícitas e subversivas, como Segredo, Último sexo, Beijar morder trepar e Deus tesão. Segundo eles, é um tópico que pouco aparece enfaticamente nas abordagens mais tradicionais da MPB. “A gente sempre teve uma tendência, eu sinto, de explorar temas mais sexuais num sentido muito poético, muito metafísico”, marca Sophia. “Eu particularmente me sentia muito travada para expor isso. Eu acho que é uma coisa que eu aprendi com o tempo de meter o louco, sabe? Dizer a real. Eu acho que isso é legal, explorar essa sexualidade juntos”.

Júpiter Maçã, falecido compositor gaúcho conhecido pela falta de escrúpulos, também foi uma influência nesse processo. “Eu acho que Júpiter é um cara que consegue falar de sexo na música brasileira ao mesmo tempo de um jeito muito engraçado e muito sofisticado”, conta Vicente. “Eu acho que essa influência jupiteriana marca muito as composições minhas e do Theo”.

Outro nome que muito influenciou o disco, mas não integra o quarteto, foi o músico e produtor pernambucano Vitor Araújo, que ajudou o grupo a refinar as canções e extrair o melhor do repertório. “Ele tem um ouvido para o popular muito diferente, por ter vindo de Recife. Pernambuco é um lugar onde há uma riqueza musical muito diferente de São Paulo, tanto da música popular raiz mesmo, como do próprio rock”, destaca Sophia.

Ana Frango Elétrico, ícone do indie paulistano, grande cúmplice de Sophia Chablau e responsável pela produção do primeiro disco, também participou desse último trabalho, mas, agora, num momento de divergência das trajetórias artísticas. “O fato de termos o ouvido de Ana é uma coisa importante e Ana, sempre apontando para um lado diferente, ainda sabe produzir um disco diferente daquilo que ela faz. Isso nos dá margem para entender qual é a melhor parte de cada um”, elucida Sophia. “Acho que estamos nesse momento de bifurcação, nos descobrindo bastante, trocando muito, indo para caminhos diferentes, mas muito juntos também ao mesmo tempo”.

Entender a trajetória que seguem e vão seguir no mundo da arte, inclusive, é uma pulga atrás da orelha de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. “Eu acho que a internet e os algoritmos meio que formatam as coisas que a gente vê. Nesse sentido, eu acho que fazer arte que se esforça pra perder o tempo das pessoas, que é o que a gente tenta fazer, tem um valor justamente de se contrapor a esse tipo de lógica descartável e publicitária que a gente consome a maior parte do tempo hoje em dia. Eu acho que se tem algum sentido em fazer arte hoje em dia é esse: tentar provocar esse tipo de perda de tempo coletiva”, argumenta Vicente.

Sophia, em consonância, vê na arte uma ferramenta de união. “Eu acho que arte, acima de tudo, é um espaço. A gente tá vivendo nesse ambiente virtual onde a gente não se encontra, a gente não constrói a perspectiva de encarar o outro, de estar com outro. Eu acho que eu faço arte no sentido coletivo, para as pessoas se encontrarem, para me encontrar com as pessoas. Num sentido mais pessoal, é o lugar onde eu posso ser a doidona que eu sou. A gente realmente é uma juventude muito separada, muito distante. A gente não tem mais nossos espaços, a cidade está virando um lugar hostil, o neoliberalismo tá comendo tudo, então a gente tem que criar nossos espaços, criar nossos ambientes e criar loucura coletiva. É por isso que eu faço arte”.

Agora, o grupo vai entrar em turnê para promover Música do esquecimento por todo o país. No dia 21 de setembro, estarão aqui em Brasília, na Infinu, em apresentação gratuita ao lado do conjunto brasiliense Bananas Caipiras. O novo disco já está disponível em todas as plataformas digitais.

Serviço

Música do esquecimento
Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Produzido por Vitor Araújo. Selo Risco, 2023. Duração: 43 min, 14 faixas. Disponível em todas as plataformas digitais.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação